segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Portugal: O RELATÓRIO DA OIT

 

Diário de Notícias, editorial
 
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) elaborou um relatório sobre a situação portuguesa e recomenda ultrapassar a crise em que estamos mergulhados, que haja um aumento do salário mínimo nacional e dos indexantes de apoios sociais, o reforço do Rendimento Social de Inserção e do crédito às empresas, um programa especial para desempregados jovens e a introdução do worksharing, uma fórmula em que o Estado paga uma parte dos vencimentos aos trabalhadores que, por acordo com a entidade patronal, aceitam receber menos mantendo assim o vínculo laboral. Além disto, a OIT sugere também, embora de forma tímida, a necessidade de investimento em infraestruturas.
 
No fundo, aquilo que a OIT hoje defende não anda muito longe do pacote de estímulos orçamentais da Comissão Europeia para fazer face ao pós-crise de 2008. Sucede porém que, em 2010, e perante o drama das dívidas soberanas, a Europa virou-se para uma receita de austeridade que, se não fosse cega, até poderia ser vituosa. É evidente que era necessário proceder a um reajustamento orçamental, sobretudo dos países mais endividados. Mas isso não invalida que não se tenha em consideração a necessidade imperiosa de haver crescimento. Sem ele não há economia, não há emprego, não há consumo.
 
Como diz em entrevista ao DN o diretor-geral da OIT, "um ajustamento feito à custa de perdas de empregos é ineficaz". E é ineficaz porque assentar os processos de ajustamento das economias na depreciação do trabalho e na destruição de emprego tem como consequência a retirada de dinheiro à economia e, por consequência, a retração ou a recessão.
 
Ou seja, quando o ex-ministro das Finanças Vítor Gaspar anunciou que era chegada "a hora do investimento", era bom que assim tivesse sido mesmo. Se a troika tivesse entendido isto, talvez a nossa curva económica fosse hoje bem mais saudável.
 

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