Mário Augusto
Jakobskind - Direto da Redação
E lá se vai 2013.
Daqui a poucos dias começa o décimo quarto ano do Terceiro Milênio. Nos últimos
dias do ano vão aparecer as tradicionais figuras quixotescas prevendo os
acontecimentos de 2014, que geralmente não se concretizam. Não percam por
esperar.
Haverá certamente
previsões sobre o retorno em maior intensidade das manifestações nas ruas do
país. De junho de 2013 em diante, a violenta repressão que se abateu em várias
cidades, com destaque para o Rio de Janeiro e São Paulo, fez diminuir a
participação popular. Muitos jovens estreantes nas manifestações saíram de cena
por causa da repressão.
Prever se no Brasil
se repetirão as mobilizações fica difícil, embora as indicações apontem nesse
sentido. E até porque, a maior parte da pauta reivindicatória dos manifestantes
não foi cumprida. O mundo político, apesar dos discursos laudatórios das
manifestações, procurou de todas as formas jogar para debaixo do tapete as
justas exigências dos movimentos de protestos.
Como praticamente
nada foi resolvido nos vários segmentos denunciados, como, por exemplo, nas
áreas de saúde, educação e representação popular, em tese as manifestações
poderãovoltar com toda a força, apesar da repressão.
Vem aí uma Copa do
Mundo, como sempre, com as regras da Fifa. Povo mesmo vai ficar de fora, porque
os preços dos ingressos são exorbitantes. Na Copa das Confederações deu para
ver a ausência do povo nos jogos.
O exemplo de
Salvador foi um dos mais marcantes. Em uma cidade de maioria negra como a
capital baiana, poucos dessa etnia eram vistos entre os torcedores. No Rio de
Janeiro, o novo Maracanã não ficou atrás em termos de triagem financeira.
Depois da Copa,
mais de 110 milhões de brasileiros vão escolher o Presidente da República,
renovar a Câmara dos Deputados, parte do Senado, os governos dos estados e suas
assembleias legislativas. Tudo pode acontecer a depender inclusive dos
acontecimentos relacionados com o desenrolar da própria Copa do Mundo e as
manifestações nas ruas do país.
Na corrida
presidencial, cuja campanha na prática já começou, nada de novo no front. Os
candidatos que mais aparecem não questionam, por exemplo, a entrega de nossas
riquezas petrolíferas do pré-sal para estatais chinesas, para uma empresa
francesa e outra anglo-holandesa.
A mídia
conservadora diariamente critica o modelo de partilha adotado no leilão da
bacia petrolífera de Libra. Os editoriais exigem o retorno de uma entrega total
e irrestrita, representada pelo modelo de concessão adotado na era Fernando
Henrique Cardoso e assim sucessivamente.
Enquanto na Europa
se proíbe a corrida atrás da energia de xisto, poluente por natureza e que
ameaça os aquíferos, o governo brasileiro permite a exploração. Por que será?
Há versões segundo as quais houve pressão do Departamento de Estado
norte-americano no sentido de o Brasil permitir a exploração. Será?
E como será então
2014 na área energética e demais? Nada de novo no front a não ser facilidades
para a ação das empresas estrangeiras?
Como o Brasil
continua sendo uma caixa de surpresas, haja vista os acontecimentos a partir de
junho de 2013, fazer previsões neste momento, embora as pesquisas indiquem o
fortalecimento da Presidenta Dilma Rousseff, também é difícil e pode estar
sujeita a chuvas e trovoadas.
Na área
internacional, o Uruguai no apagar das luzes de 2013 deu grandes saltos.
Primeiramente, a aprovação pelo Congresso de uma nova lei democrática dos meios
de comunicação. Não houve muita divulgação pelos meios de comunicação.
Já a aprovação de
uma legislação permitindo a comercialização pelo Estado uruguaio de marijuana
ocupou amplos espaços. Será uma experiência que terá por objetivo enfrentar o
narcotráfico, uma verdadeira praga nos dias atuais em vários países do mundo. O
Presidente Pepe Mujica admitiu que se não der certo, a legislação voltará a ser
como antes. Está sendo ousado, mas faz, ao contrário de outros que se utilizam
de muito blablablá e nada realizam.
O conservadorismo
chiou e mesmo alguns setores neoliberais que defendem a descriminalização não
se posicionaram em defesa do projeto uruguaio como se esperava.
Há quem diga que os
seguidores do receituário de Fernando Henrique Cardoso se posicionam por outros
motivos, inclusive em auxílio da indústria tabagista, que vê assustada a
redução do consumo da nicotina, mas não propriamente para combater o
narcotráfico. Para eles, com uma eventual legalização, a própria indústria
tabagista poderá abocanhar esse rico mercado. Em se tratando de FHC, não chega
a ser surpresa.
Em 2014, apesar da
grita histérica da mídia conservadora, vão se ampliar aqui no Brasil os debates
sobre a democratização dos meios de comunicação. E aguarda-se também as
conclusões das investigações da Comissão da Verdade. Quem viver verá.
*É correspondente no
Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da
Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho
Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América
que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE
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