Jornal de Angola,
editorial
Começa hoje a
Cimeira União Europeia-África, sob o lema “Investir nos povos, na prosperidade
e na paz”, que vai juntar Chefes de Estados e de Governos para abordar temas
diversos, actuais e estratégicos.
Angola está
presente com o Vice-Presidente, Manuel Domingos Vicente, em representação do
Presidente da República, José Eduardo dos Santos.
Bruxelas, a capital europeia, vai ser palco, hoje e amanhã, de intensas
discussões sobre os laços e a parceria entre os dois continentes, numa altura
em que a cooperação bilateral exige uma redefinição e reorientação.
A política europeia para África precisa também de ser elaborada em função dos
reais interesses e da realidade do continente, um facto que está ainda longe de
acontecer. África mudou muito ao longo dos últimos anos e, para que as relações
entre os dois continentes sejam dignas destes tempos, é necessário que os
africanos e os europeus saibam olhar para frente. Nalguns casos são visíveis
tais passos, embora, não raras vezes, os africanos sejam confrontados com
atitudes e procedimentos próprios de quem parece pretender ficar preso ao
passado.
As relações em que predominaram preconceitos e atitudes não-construtivas deve
dar lugar a laços de maior interdependência, compreensão mútua e melhores
oportunidades para os dois povos. É preciso que africanos e europeus saibam
traduzir em acções concretas e que tenham impacto na vida das populações as
resoluções e recomendações saídas da cimeira para fazer jus ao lema “Investir
nos povos, na prosperidade e na paz”.
A África e a Europa precisam de relançar todas as ferramentas que ajudem a
melhorar as relações bilaterais baseadas no respeito pelas diferenças, numa
altura em que são mais fortes os laços que os unem do que os que eventualmente
os dividem. Em Bruxelas, os representantes dos países africanos participam das
discussões com uma agenda recheada de preocupações que giram em torno de
questões como as alterações climáticas, cooperação económica, investimento,
segurança, combate ao tráfico de seres, luta contra o terrorismo, entre outros.
Embora África se encontre entre as regiões que menos contribuem para o volume
das alterações climáticas, é das mais afectadas. Nisto, os países europeus têm
acrescidas responsabilidades quando se trata da tomada de medidas para mitigar
os efeitos gravosos das alterações climáticas que, em muitas regiões do
continente africano , já são visíveis. As populações, os recursos aquíferos e
florestais, bem como o gado sofrem com as agruras da estiagem e da seca, apenas
para mencionar estas.
Os Estados europeus devem deixar de encarar os países africanos como simples
parceiros de ocasião, como meros depósitos de recursos naturais ou eventuais
instrumentos das suas políticas económicas, comerciais e diplomáticas.Os países
africanos precisam de verdadeiras parcerias, com reciprocidade de vantagens, e
não mais procedimentos baseados na velha mentalidade paternalista e de promoção
da dependência, ainda vigentes em numerosas relações entre europeus e
africanos. Atendendo à Estratégia Conjunta África-União Europeia, adoptada em
2007, em que se baseiam as relações, a interdependência deve ser a linguagem
predominante nos laços entre os dois continentes. Não há dúvida de que os
mecanismos de cooperação têm sido melhorados a cada dia que passa, sobretudo em
áreas como a manutenção da paz e estabilidade, segurança, direitos humanos, boa
governação e a efectivação dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio.
Numerosos países africanos deram ao longo dos últimos anos passos
significativos, sobretudo no campo dos direitos humanos e da boa governação,
facto que contribui para uma melhor aproximação entre europeus e africanos. Os
passos para a manutenção da paz, estabilidade e segurança têm sido dados em
África de forma exemplar com a criação de fóruns políticos e militares para
debelar crises em certos países.
O mecanismo de monitorização de cessar-fogo da CEDEAO, surgido em 1993,
contribuiu para a solução de numerosos casos de instabilidade na África
Ocidental. Trata-se de uma solução africana que, com a ajuda de parceiros
europeus, ajuda a estabilizar os países africanos.
O Comité de Política de Defesa e Segurança da SADC constitui uma estrutura
importante para formular políticas e procedimentos que garantam a paz e a
estabilidade regional. Acreditamos que o crescimento e fortalecimento deste
tipo de iniciativas, em que os blocos regionais criam mecanismos locais para
prevenir conflitos, proporcionam aos Estados africanos menos dependência e
maior capacidade para aplicar soluções africanas.
É preciso que os Estados europeus compreendam que, independentemente da
cooperação, para os problemas africanos nada melhor que soluções africanas,
concebidas com base na realidade e vivências de cada região e país. Este deve
ser o fundamento para o sucesso das relações e parcerias que os países
africanos devem estabelecer com os países europeus.
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