Pequim, 05 abr
(Lusa) - Mais de 80 funcionários, nove dos quais com categoria igual ou
superior a vice-ministro, foram investigados nos últimos dez meses pela direção
do Partido Comunista Chinês (PCC) por suspeita de corrupção, anunciou na
sexta-feira a imprensa oficial.
"Muitos
daqueles funcionários foram investigados com base em indícios encontradas pelos
inspetores", adiantou a Comissão Central de Disciplina do partido (CCDI),
sem precisar o número nem divulgar nomes.
A inspeção, lançada
em maio passado, incidiu em governos provinciais, ministérios, instituições
públicas e empresas estatais tuteladas pelo Governo central, indicou a mesma
fonte.
Uma das empresas
foi a China Three Gorges (CTG), o maior acionista da EDP (Energias de
Portugal).
No dia 24 de fevereiro,
a agência noticiosa oficial Xinhua anunciou que os inspetores da CCDI detetaram
várias "irregularidades", nomeadamente "abuso de poder em
licitações e contratos de projetos", "falta de transparência no
processo de decisão da companhia" e "ineficiências na comunicação
entre funcionários com cargos importantes".
Um mês depois, o
presidente da CTG, Cao Guangjing, e o diretor-geral, Chen Fei, foram
substituídos, mas a empresa não relacionou a mudança com a inspeção nem
responsabilizou pessoalmente os dois antigos lideres pelas
"irregularidades".
Ouvido na altura
pela agência Lusa, Cao Guangjing declarou que "a mudança de quadros entre
as grandes empresas estatais e instituições governamentais é um fenómeno muito
comum na China", considerando a sua saída da CTG "um passo
normal".
Cao Guanjing, 50
anos, é membro suplente do Comité Central do PCC e segundo uma comunicação
interna da CGT, foi nomeado vice-governador da província de Hubei, no centro da
China.
No início desta
semana, a Comissão Central de Disciplina do PCC lançou uma ronda idêntica de
inspeções, e que inclui até uma das mais prestigiadas universidades do país,
situada em Xangai.
O Partido Comunista
Chinês assumiu há muito o combate à corrupção como "uma luta de vida ou de
morte" para a sua permanência no poder, mas a atual campanha é considerada
mais persistente e ampla do que era habitual.
Numa recente
entrevista à agência Bloomberg, o professor Andrew Wedeman, autor do ensaio
'Double Paradox: Rapid Growth and Rising Corruption in China' (2012),
considerou-a "a mais sustentada" do género "desde o advento das
reformas económicas, no início da década 1980".
O novo
secretário-geral do PCC e Presidente da República, Xi Jinping, assegurou que a
luta anticorrupção visaria ao mesmo tempo as "moscas" e os
"tigres, numa explícita alusão aos líderes do partido que "violarem a
disciplina".
"Se não
conseguirmos controlar essa questão, isso poderá ser fatal para o Partido e até
causar o colapso do Partido e a queda do Estado", alertou o antecessor de
Xi Jinping, Hu Jintao, no XVIII Congresso do PCC, em novembro de 2012.
AC // MSF - Lusa
Sem comentários:
Enviar um comentário