Henrique Monteiro –
Expresso, opinião
Muito sinceramente
não sei, nem tenho dados para saber, se Durão Barroso estava preocupado com o
BPN e se chamou ou não Constâncio ou quantas vezes o fez. Também não sei se
Constâncio fez o que podia e - como ele diz - tornou o BPN o banco mais vezes
investigado e vigiado. Sei que tudo o que diz respeito ao BPN é uma vergonha da
qual poucos se livram.
É uma vergonha para
Cavaco, que comprou as ações da SLN (e dá desculpas de mau pagador quando diz
nada ter a ver com o BPN - verdade tão formal como eu nada ter a ver com a
Impresa SGPS porque trabalho para a Impresa Publishing); é uma vergonha para
Dias Loureiro, que mentindo a esse respeito no Parlamento foi obrigado a
demitir-se do Conselho de Estado; é uma vergonha para os primeiros-ministros e
ministros das Finanças desde Durão Barroso até Teixeira dos Santos, porque não
deram por nada e deixaram andar, quando a imprensa já publicara diversos
trabalhos sobre o assunto (incluindo a Exame e o Expresso, pioneiros nesta
matéria) e a consultora Delloite já arrasara as contas do banco, e foi uma
vergonha para Constâncio que era o todo-poderoso regulador e o supervisor da
banca.
Quando eu digo que
é uma vergonha, não estou a dizer que algum deles é culpado de um crime. Apenas
que qualquer um deles devia assumir a sua quota-parte de responsabilidade.
Mas vou mais longe:
é uma vergonha para a inúmera gente que continua a discutir este caso de um
ponto de vista meramente partidário e instrumental. Do PSD e do PS escolhem os
alvos para definir quem são os santos e os pecadores.
Esta é a forma de
atuar em Portugal. Não há maneira de se desligar a 'porca da política' como
escreveu Bordalo Pinheiro, de um crime financeiro do qual só resultou um único
detido - o chefe do banco, Oliveira Costa (agora com uma pulseira que lhe
permite ir à rua num perímetro apertado).
A mim pouco me
importa a origem política de cada interveniente. A maioria das pessoas do PSD
nada têm a ver com o BPN e a maioria das pessoas do PS também não. Alguns dos
aqui citados (nomeadamente os que nacionalizaram aquele buraco ou os que o
venderam depois ao desbarato) podem tê-lo feito de boa-fé e na plena convicção
de que não tinham hipótese melhor. Pessoalmente, opus-me sempre à
nacionalização, logo na altura, mas admito estar errado.
Do que não duvido é
que a politiquice à volta do caso apenas pode ter um intuito: transformar o que
devia ser um sereno julgamento em mais uma peixeirada pública da qual nada nem
ninguém sai esclarecido. E quando houver sentença dir-se-á que ganhou um
partido ou outro, esquecendo que todos perdemos e muito com esta vigarice.
Sem comentários:
Enviar um comentário