quarta-feira, 2 de abril de 2014

Portugal: A POLITIZAÇÃO DO BPN



Henrique Monteiro – Expresso, opinião

Muito sinceramente não sei, nem tenho dados para saber, se Durão Barroso estava preocupado com o BPN e se chamou ou não Constâncio ou quantas vezes o fez. Também não sei se Constâncio fez o que podia e - como ele diz - tornou o BPN o banco mais vezes investigado e vigiado. Sei que tudo o que diz respeito ao BPN é uma vergonha da qual poucos se livram.

É uma vergonha para Cavaco, que comprou as ações da SLN (e dá desculpas de mau pagador quando diz nada ter a ver com o BPN - verdade tão formal como eu nada ter a ver com a Impresa SGPS porque trabalho para a Impresa Publishing); é uma vergonha para Dias Loureiro, que mentindo a esse respeito no Parlamento foi obrigado a demitir-se do Conselho de Estado; é uma vergonha para os primeiros-ministros e ministros das Finanças desde Durão Barroso até Teixeira dos Santos, porque não deram por nada e deixaram andar, quando a imprensa já publicara diversos trabalhos sobre o assunto (incluindo a Exame e o Expresso, pioneiros nesta matéria) e a consultora Delloite já arrasara as contas do banco, e foi uma vergonha para Constâncio que era o todo-poderoso regulador e o supervisor da banca.

Quando eu digo que é uma vergonha, não estou a dizer que algum deles é culpado de um crime. Apenas que qualquer um deles devia assumir a sua quota-parte de responsabilidade.

Mas vou mais longe: é uma vergonha para a inúmera gente que continua a discutir este caso de um ponto de vista meramente partidário e instrumental. Do PSD e do PS escolhem os alvos para definir quem são os santos e os pecadores.

Esta é a forma de atuar em Portugal. Não há maneira de se desligar a 'porca da política' como escreveu Bordalo Pinheiro, de um crime financeiro do qual só resultou um único detido - o chefe do banco, Oliveira Costa (agora com uma pulseira que lhe permite ir à rua num perímetro apertado).

A mim pouco me importa a origem política de cada interveniente. A maioria das pessoas do PSD nada têm a ver com o BPN e a maioria das pessoas do PS também não. Alguns dos aqui citados (nomeadamente os que nacionalizaram aquele buraco ou os que o venderam depois ao desbarato) podem tê-lo feito de boa-fé e na plena convicção de que não tinham hipótese melhor. Pessoalmente, opus-me sempre à nacionalização, logo na altura, mas admito estar errado.

Do que não duvido é que a politiquice à volta do caso apenas pode ter um intuito: transformar o que devia ser um sereno julgamento em mais uma peixeirada pública da qual nada nem ninguém sai esclarecido. E quando houver sentença dir-se-á que ganhou um partido ou outro, esquecendo que todos perdemos e muito com esta vigarice.

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