Lisboa,
26 mai (Lusa) - A diretora da Faculdade de Línguas Estrangeiras Aplicadas da
Universidade Sorbonne, Isabelle Oliveira, defendeu hoje a adoção de "uma
política mais agressiva" da CPLP para tornar o português numa língua
técnico-científica, evitando "anglicização" da estrutura mental dos
lusófonos.
A
ideia "não é um combate em relação à língua inglesa, mas se aceitarmos a
hegemonia do inglês que nos venha a expor de um certo modo a sermos
'anglicizados' na nossa estrutura mentais. Estamos a caminhar para um
pensamento único" através de "uma parca lista de 1.500 palavras"
que compõe o léxico inglês, disse em entrevista à Lusa a docente daquela
universidade francesa.
Há
dias, a linguista publicou um artigo na página do Instituto Internacional de
Língua Portuguesa em que lança um repto aos cidadãos e governos da Comunidade
dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) para se tornarem "insurrectos
linguísticos, cientes de que, a par de outras línguas, a língua portuguesa se
pode afirmar como uma língua científica, técnica, económica, financeira, jurídica,
e que tem vocação para ser uma língua de transmissão de conhecimentos e de
produção de material de referência, uma língua profissionalizante, uma língua
da sociedade da informação, uma língua de criação artística e cultural".
"Será
coerente denunciar as tendências da economia e das finanças na era da
mundialização e aceitar, resignadamente, o uso de uma única língua da economia
e das finanças? Será coerente denunciar a falta de democracia nas organizações
internacionais e nas relações internacionais e, resignadamente, investigar,
trabalhar e negociar em uma única Língua, que uns dominarão sempre mais do que
outros?", questionou no artigo.
Falando
hoje à Lusa, a docente lembrou que "uma ciência democrática não pode ser
monolinguística", por isso, se os países da CPLP quiserem "construir
uma cidadania lusófona também tem que ser graças ao desenvolvimento da
compreensão linguística e cultural".
No
texto de opinião, Isabelle Oliveira lembra que também "em ciência é
necessário proteger e fomentar as diversidades de pensamento, de concepções, de
imaginário cultural e, nesse aspecto, nada as favorece tanto quanto a
diversidade linguística".
Nas
declarações à Lusa, sustentou aquela opinião, afirmando: "como temos uma
língua em comum podemos, perfeitamente, criar uma rede mundial de investigação,
criando também material de referência, porque há uma grande lacuna na vertente
técnico-científica".
"Falamos
muito em termos de números: o português é a quinta língua mais falada no mundo,
a terceira na Europa e a quarta utilizada no mundo virtual. E, na prática, ela
não é vista como ativo que acrescenta valor apesar de ser uma língua global. E
é possível ela funcionar como importante meio estratégico de afirmação lusófona
em termos científicos", afirmou.
Para
Isabelle Oliveira, "o palco da lusofonia pode ter exatamente este mesmo
olhar, se houver uma real vontade política para reconquistar a língua
portuguesa na sua plenitude", pois "é possível proteger e fomentar a
diversidade cultural e linguística".
"Eu
acho que não é possível expressar toda a nossa riqueza e diversidade do nosso
pensamento, as nossas concepções do mundo, mesmo dentro da ciência, se,
simplesmente, não dominarmos a língua".
Isabelle
Oliveira considera que"em Portugal nunca houve realmente uma vontade de construção
de uma política da língua", até porque "não houve até hoje um
trabalho nesse sentido".
"Aliás,
não se entende como é que ainda hoje não exista um Ministério ou uma Secretaria
de Estado dedicada à lusofonia como existe na França. Não é suficiente ter
apenas instituições como o Instituto Camões", afirmou.
Mas,
assinalou, "a lusofonia também é um espaço em plena expansão económica e
demográfica. Se calhar é necessário fazer ou um esforço, simplesmente, a nível
do sistema educativo, tanto na CPLP, quanto na aprendizagem do português como
língua estrangeira".
MMT
// EL - Lusa
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