Martinho
Júnior, Luanda
1
– Tudo começou com as Honduras, uma referenciada“república banana” da
América Central, que ousou“esticar a corda” e alinhar com a ALBA,
a “Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América” e suas
políticas progressistas, entre elas as políticas com benefícios no acesso a
produtos energéticos referentes a outra organização: a PETROCARIBE!
Ali
foi levado a cabo um golpe inspirado noutro que ocorreu antes no Haiti há puco
mais de 10 anos, com o Presidente Jean-Bertrand Aristide: um “golpe de
estado suave” mas atingindo a cúpula do estado, afastando fisicamente, sem
o molestar, o Presidente Manuel Zelaya e com isso, abrindo espaço
à “receita subjacente”…
Foi
possível assim criar-se a vacuidade de forma a agir rápido com elementos da
oligarquia agenciada, ela própria preparada e mentalizada num cadinho
estimulante, “pronta para a corrida” para ocupar o poder ao nível de
todas as instituições-chave por que se rege a“democracia
representativa” nas Honduras, de forma a marginalizar (e com isso
neutralizar) os suportes das organizações populares
do “regime” progressista deposto: as mil pernas com que ele andava!
2
– A “receita”, uma vez que deu êxitos no Haiti como nas Honduras, é pois
uma fonte inspiradora que está agora a ser aprimorada pela hegemonia unipolar
que, mantendo o poder militar do “SOUTHCOMMAND” e
da“ressuscitada” IVª Esquadra suspenso como uma espada sobre os poderes de
toda a América Latina, guardam-no como uma alternativa
de “desembarque” se porventura as condições do golpe “caírem de
maduro”, ou seja, afectando as instituições de inteligência e cúpulas militares
de cada um dos alvos…
Como
um Brasil, uma Venezuela, ou uma Argentina não são uma “banana-doce”,
então o golpe de estado tornou-se agora, com a torneira do rigor e da
intensidade ligada e manipulada, algo permanente, com recurso directo aos
agentes das oligarquias nacionais envolvidos em tudo: desde as disputas em
relação ao acesso ou ao poder sobre o petróleo e o gás, até às tensões de rua,
neste caso aproveitando aliás a confusão que os mentores das“confrontações não
dialogantes” vão estabelecendo em alguns sectores e substratos das
chamadas “classes médias”, sejam elas urbanas, suburbanas, ou mesmo
rurais…
O
controlo da opinião pública por parte dos “media-de-referência”que
corresponde por inteiro aos interesses e conveniências das oligarquias
nacionais agenciadas pelo império, é uma componente indispensável na preparação
das condições sociais, políticas e psicológicas de “golpe de estado
permanente”…
3
– O que o poder da aristocracia financeira mundial, por via do sargento-mor
instalado em Washington, desencadeou na Ucrânia, faz parte
da “receita” que está a ser aplicada também à América do Sul, pelo
poder da hegemonia unipolar; no fundo o império aplica-a a todos, na América,
como na Europa, como em África, como se todos fossem
efectivamente “repúblicas bananas”.
Em
alguns casos, como na Síria, ou no Iraque, aplicam recorrendo às redes da Al
Qaeda financiadas pelas monarquias arábicas, de forma a poderem aparecer como
os “salvadores das desamparadas pátrias”: não o conseguindo na Síria,
estão agora à beira de o conseguir no Iraque, com os olhos colocados no Irão!
Para
o exercício da hegemonia unipolar deixou de haver, nesse sentido, aliados e a
dose de consideração é a mesma para todos, com o mesmo critério no jugo e
nos“jogos correntes” nos mais distintos tabuleiros geo-estratégicos, a
vários patamares.
Angola
não foge a essa regra e está-se a sentir precisamente os mesmos sintomas
da “receita” ao nível das questões sócio-políticas e, por tabela,
dentro das instituições…
O
patamar referente à antropologia, sociologia e psicologia do golpe permanente a
aplicar a cada sociedade, está subjacente em relação ao tabuleiro das disputas
geo-estratégicas em relação aos produtos energéticos, sobretudo em relação ao
petróleo e ao gás!
Por
isso a Venezuela após o desaparecimento físico do Comandante Hugo Chavez,
passou a ser o alvo dilecto para o “golpe de estado permanente” na
América do Sul (que também afecta os outros componentes da ALBA), pois o
derrube do seu Presidente Nicolas Maduro, no entender da geo estratégia da
hegemonia unipolar a vários tabuleiros e patamares, significa o ruir
do “castelo de cartas” dentro do seu espaço nacional, com ondas de
choque em todos os cenários individuais e colectivos da América do Sul, desde
logo e em especial naqueles apostados na emergência latino-americana e
ameríndia, um processo com profundas raízes antropológicas e históricas…
4
– É evidente que o Brasil, assumindo-se como um emergente ao nível dos BRICS, é
uma das presas mais cobiçadas e onde muitas das disputas se vão também
acentuando no tecido sócio-político geral e em cada estado!
Além
do mais o Brasil é Atlântico, tal como a Venezuela a norte e a Argentina a sul!
A
descoberta da Amazónia-Azul veio trazer combustível para se criarem as
condições para a “promoção” do“golpe de estado permanente” e os
sintomas precisam apenas de pequenas faíscas para se fazerem sentir, uma vez
que os desequilíbrios sociais instalados de há séculos, comportam uma atmosfera
latente que pode conduzir a explosões pontuais onde quer que seja num
território imenso… com reflexos directos sempre no poder!
Depois
o Brasil é uma das grandes chaves no Atlântico Sul até à Antárctida,
conjuntamente com a Argentina a sul e com a África do Sul no lado africano!...
5
– A independência e a soberania após 200 anos do içar das bandeiras, é
motivação para uma busca constante nos países da América do Sul e é com seus
próceres, com seus inspirados dirigentes mais progressistas, defendendo os
direitos de soberania energética, desencadeando amplos processos integradores
livres da presença da hegemonia unipolar, multiplicando as organizações sociais
de base, combatendo o analfabetismo, combatendo a doença, combatendo os vírus
dos “media-de-referência” controlados pelas oligarquias agenciadas
pelo império… que as nações latino americanas se assumem numa emergência, que
mais que aquela que é assumida pelo Brasil, o vai sustentando de forma
explícita ou implícita em toda a sua extensão, desfazendo o nó do seu relativo
isolamento hemisférico!
Grande
parte das exportações dos países da América do Sul são equipamentos de
transporte (Brasil), ou petróleo e gás (Venezuela, Colômbia, Equador e Bolívia
(que além do gás possui uma reserva importante de lítio)…
Em
outros, como no Peru e no Chile, há minérios, sobretudo cobre, enquanto na
Argentina, no Paraguai, no Uruguai e no Suriname a predominância é para
produtos ligados à alimentação!
A
integração dos países da América do Sul comporta imensas vantagens comuns, pelo
que os seguidores venezuelanos de Bolivar, avaliam o peso de recursos como o
petróleo e do gás numa dimensão continental (relativa a toda a América),
inclusive em relação aos próprios Estados Unidos onde souberam dinamizar
processos mais baratos de distribuição, com imensas potencialidades no que diz
respeito à concorrência, mas dirigindo essas capacidades em direcção às comunidades
mais pobres das enormes metrópoles norte americanas, sobretudo aquelas
susceptíveis de serem atingidas pelas maiores vagas de frio, de neve e de gelo!
O
processo de resistência, de independência, de soberania e de luta, já vai
levando, seguindo o módulo integrador, mais de duas décadas e, perante a sua
ascensão, que para muitos parece irreversível, a hegemonia unipolar
auto-encarrega-se de “promover” a geo estratégia do “golpe de
estado permanente”recorrendo aos agentes do condor de sempre, recrutados nas
alas mais conservadoras, fascistas e nazis das oligarquias nacionais!
6
– Agora a ampla emergência latino americana já não está contudo só: os
poderosos emergentes da Ásia estão mais pujantes, revitalizados e disponíveis
para a globalização multipolar e os relacionamentos da América Latina com os
BRICS tendem a crescer, principalmente com a China!
Na
América do Sul o choque é evidente e nem a iniciativa Trans-Pacífico da
hegemonia unipolar por via dos Estados Unidos a consegue fazer parar no sistema
global de vasos-comunicantes!
O
recurso ao fascismo, ao nazismo e aos ultra-conservadores, a fim de sustentar
políticas de “golpe de estado permanente”é um sinal de evidente desespero
que poderá durar ainda algumas décadas…
Mas
os planos do Bilderberg para controlar o mundo até 2050, por via da hegemonia
unipolar, nunca tiveram um crescimento de obstáculos e de empecilhos como
agora, obstáculos e empecilhos cada vez mais difíceis de ultrapassar:
Por
isso é importante para o mundo o processo de resistência e de luta da Venezuela
Bolivariana: é na Venezuela onde residem as maiores reservas globais de
petróleo e de gás!
É
precisamente aí, tal como na Ucrânia, onde o pacote ultra conservador, fascista
e nazi “castiga” mais!
Imagem:
Mapa das exportações da América do Sul
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