sábado, 14 de junho de 2014

A AMÉRICA DO SUL PROVA AS “CONFRONTAÇÕES NÃO DIALOGANTES”



Martinho Júnior, Luanda

1 – Tudo começou com as Honduras, uma referenciada“república banana” da América Central, que ousou“esticar a corda” e alinhar com a ALBA, a “Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América” e suas políticas progressistas, entre elas as políticas com benefícios no acesso a produtos energéticos referentes a outra organização: a PETROCARIBE!

Ali foi levado a cabo um golpe inspirado noutro que ocorreu antes no Haiti há puco mais de 10 anos, com o Presidente Jean-Bertrand Aristide: um “golpe de estado suave” mas atingindo a cúpula do estado, afastando fisicamente, sem o molestar, o Presidente Manuel Zelaya e com isso, abrindo espaço à “receita subjacente”…

Foi possível assim criar-se a vacuidade de forma a agir rápido com elementos da oligarquia agenciada, ela própria preparada e mentalizada num cadinho estimulante, “pronta para a corrida” para ocupar o poder ao nível de todas as instituições-chave por que se rege a“democracia representativa” nas Honduras, de forma a marginalizar (e com isso neutralizar) os suportes das organizações populares do “regime” progressista deposto: as mil pernas com que ele andava!
  
2 – A “receita”, uma vez que deu êxitos no Haiti como nas Honduras, é pois uma fonte inspiradora que está agora a ser aprimorada pela hegemonia unipolar que, mantendo o poder militar do “SOUTHCOMMAND” e da“ressuscitada” IVª Esquadra suspenso como uma espada sobre os poderes de toda a América Latina, guardam-no como uma alternativa de “desembarque” se porventura as condições do golpe “caírem de maduro”, ou seja, afectando as instituições de inteligência e cúpulas militares de cada um dos alvos…

Como um Brasil, uma Venezuela, ou uma Argentina não são uma “banana-doce”, então o golpe de estado tornou-se agora, com a torneira do rigor e da intensidade ligada e manipulada, algo permanente, com recurso directo aos agentes das oligarquias nacionais envolvidos em tudo: desde as disputas em relação ao acesso ou ao poder sobre o petróleo e o gás, até às tensões de rua, neste caso aproveitando aliás a confusão que os mentores das“confrontações não dialogantes” vão estabelecendo em alguns sectores e substratos das chamadas “classes médias”, sejam elas urbanas, suburbanas, ou mesmo rurais…

O controlo da opinião pública por parte dos “media-de-referência”que corresponde por inteiro aos interesses e conveniências das oligarquias nacionais agenciadas pelo império, é uma componente indispensável na preparação das condições sociais, políticas e psicológicas de “golpe de estado permanente”…
  
3 – O que o poder da aristocracia financeira mundial, por via do sargento-mor instalado em Washington, desencadeou na Ucrânia, faz parte da “receita” que está a ser aplicada também à América do Sul, pelo poder da hegemonia unipolar; no fundo o império aplica-a a todos, na América, como na Europa, como em África, como se todos fossem efectivamente “repúblicas bananas”.

Em alguns casos, como na Síria, ou no Iraque, aplicam recorrendo às redes da Al Qaeda financiadas pelas monarquias arábicas, de forma a poderem aparecer como os “salvadores das desamparadas pátrias”: não o conseguindo na Síria, estão agora à beira de o conseguir no Iraque, com os olhos colocados no Irão!

Para o exercício da hegemonia unipolar deixou de haver, nesse sentido, aliados e a dose de consideração é a mesma para todos, com o mesmo critério no jugo e nos“jogos correntes” nos mais distintos tabuleiros geo-estratégicos, a vários patamares.

Angola não foge a essa regra e está-se a sentir precisamente os mesmos sintomas da “receita” ao nível das questões sócio-políticas e, por tabela, dentro das instituições…

O patamar referente à antropologia, sociologia e psicologia do golpe permanente a aplicar a cada sociedade, está subjacente em relação ao tabuleiro das disputas geo-estratégicas em relação aos produtos energéticos, sobretudo em relação ao petróleo e ao gás!

Por isso a Venezuela após o desaparecimento físico do Comandante Hugo Chavez, passou a ser o alvo dilecto para o “golpe de estado permanente” na América do Sul (que também afecta os outros componentes da ALBA), pois o derrube do seu Presidente Nicolas Maduro, no entender da geo estratégia da hegemonia unipolar a vários tabuleiros e patamares, significa o ruir do “castelo de cartas” dentro do seu espaço nacional, com ondas de choque em todos os cenários individuais e colectivos da América do Sul, desde logo e em especial naqueles apostados na emergência latino-americana e ameríndia, um processo com profundas raízes antropológicas e históricas…
  
4 – É evidente que o Brasil, assumindo-se como um emergente ao nível dos BRICS, é uma das presas mais cobiçadas e onde muitas das disputas se vão também acentuando no tecido sócio-político geral e em cada estado!

Além do mais o Brasil é Atlântico, tal como a Venezuela a norte e a Argentina a sul!

A descoberta da Amazónia-Azul veio trazer combustível para se criarem as condições para a “promoção” do“golpe de estado permanente” e os sintomas precisam apenas de pequenas faíscas para se fazerem sentir, uma vez que os desequilíbrios sociais instalados de há séculos, comportam uma atmosfera latente que pode conduzir a explosões pontuais onde quer que seja num território imenso… com reflexos directos sempre no poder!

Depois o Brasil é uma das grandes chaves no Atlântico Sul até à Antárctida, conjuntamente com a Argentina a sul e com a África do Sul no lado africano!...
  
5 – A independência e a soberania após 200 anos do içar das bandeiras, é motivação para uma busca constante nos países da América do Sul e é com seus próceres, com seus inspirados dirigentes mais progressistas, defendendo os direitos de soberania energética, desencadeando amplos processos integradores livres da presença da hegemonia unipolar, multiplicando as organizações sociais de base, combatendo o analfabetismo, combatendo a doença, combatendo os vírus dos “media-de-referência” controlados pelas oligarquias agenciadas pelo império… que as nações latino americanas se assumem numa emergência, que mais que aquela que é assumida pelo Brasil, o vai sustentando de forma explícita ou implícita em toda a sua extensão, desfazendo o nó do seu relativo isolamento hemisférico!

Grande parte das exportações dos países da América do Sul são equipamentos de transporte (Brasil), ou petróleo e gás (Venezuela, Colômbia, Equador e Bolívia (que além do gás possui uma reserva importante de lítio)…

Em outros, como no Peru e no Chile, há minérios, sobretudo cobre, enquanto na Argentina, no Paraguai, no Uruguai e no Suriname a predominância é para produtos ligados à alimentação!

A integração dos países da América do Sul comporta imensas vantagens comuns, pelo que os seguidores venezuelanos de Bolivar, avaliam o peso de recursos como o petróleo e do gás numa dimensão continental (relativa a toda a América), inclusive em relação aos próprios Estados Unidos onde souberam dinamizar processos mais baratos de distribuição, com imensas potencialidades no que diz respeito à concorrência, mas dirigindo essas capacidades em direcção às comunidades mais pobres das enormes metrópoles norte americanas, sobretudo aquelas susceptíveis de serem atingidas pelas maiores vagas de frio, de neve e de gelo!

O processo de resistência, de independência, de soberania e de luta, já vai levando, seguindo o módulo integrador, mais de duas décadas e, perante a sua ascensão, que para muitos parece irreversível, a hegemonia unipolar auto-encarrega-se de “promover” a geo estratégia do “golpe de estado permanente”recorrendo aos agentes do condor de sempre, recrutados nas alas mais conservadoras, fascistas e nazis das oligarquias nacionais!
  
6 – Agora a ampla emergência latino americana já não está contudo só: os poderosos emergentes da Ásia estão mais pujantes, revitalizados e disponíveis para a globalização multipolar e os relacionamentos da América Latina com os BRICS tendem a crescer, principalmente com a China!

Na América do Sul o choque é evidente e nem a iniciativa Trans-Pacífico da hegemonia unipolar por via dos Estados Unidos a consegue fazer parar no sistema global de vasos-comunicantes!

O recurso ao fascismo, ao nazismo e aos ultra-conservadores, a fim de sustentar políticas de “golpe de estado permanente”é um sinal de evidente desespero que poderá durar ainda algumas décadas…

Mas os planos do Bilderberg para controlar o mundo até 2050, por via da hegemonia unipolar, nunca tiveram um crescimento de obstáculos e de empecilhos como agora, obstáculos e empecilhos cada vez mais difíceis de ultrapassar:

Por isso é importante para o mundo o processo de resistência e de luta da Venezuela Bolivariana: é na Venezuela onde residem as maiores reservas globais de petróleo e de gás!

É precisamente aí, tal como na Ucrânia, onde o pacote ultra conservador, fascista e nazi “castiga” mais!  

Imagem: Mapa das exportações da América do Sul

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