Tomás
Vasques – jornal i, opinião
Só
depois de Outubro, se conseguirá avaliar os estragos que este demorado
processode clarificação provocou no Partido Socialista e, sobretudo, no
eleitorado
1
- Em tempos de futebol, falemos de futebol. No mundial a decorrer no Brasil, a
Europa tem sido uma sombra de si própria, cinzenta e deprimida, como quem
anuncia a sua decadência. Acontece no futebol, tal como acontece na economia.
Com os jogos já realizados, dizem no Brasil, que a América Latina está a
ensinar a Europa a jogar futebol. Mais: está a ensinar, também, como o sonho, a
esperança e a alegria se transformam em vitórias. O Chile
atira para fora da competição, ao segundo jogo, a poderosa selecção de Espanha
- a titular do troféu. O Uruguai fez o mesmo à Inglaterra, enquanto a Costa
Rica, o "parente pobre" deste grupo, já está apurado para a fase
seguinte, deixando a Itália com um ataque de nervos, sem saber ainda se passa
esta primeira fase. A Colômbia deixou a Grécia a fazer contas ao apuramento.
Sem esquecer as derrotas da Bósnia e da Croácia aos pés da Argentina e do
Brasil. Por distracção ou ilusão de que a Europa ainda é o umbigo do mundo,
poucos reparam, por exemplo, no dinamismo económico da Aliança do Pacífico, uma
plataforma de integração económica que reúne Chile, Colômbia, México e Peru, e
cuja taxa de crescimento é mais do que tripla da Zona Euro. A última
conferência de presidentes dos quatro países, realizada esta semana, que no seu
conjunto representam 35% do PIB latino--americano, aprovou a estratégia de
expansão económica e comercial para a Ásia, Austrália e Nova Zelândia. Até os
países do Mercosul, com o Brasil como motor, apesar da estagnação económica dos
últimos tempos, da turbulência na Argentina e da situação económica desastrosa
na Venezuela, mantêm um crescimento económico superior à Zona Euro. Até ao fim
do mundial poderemos ainda assistir a mais surpresas (no momento em que escrevo
esta crónica ainda não sei se Portugal já está a fazer as malas ou se renovou a
esperança). Contudo, esta primeira fase já marcou uma tendência: a decadência
da Europa. No futebol e no resto.
2
- Depois da reunião da comissão nacional do PS realizada ontem, já é
praticamente definitivo que António Costa e António José Seguro só disputarão a
liderança dos socialistas em fins de Setembro. Apesar do futebol e das férias
de Verão, esta prolongada campanha eleitoral, a avaliar pela agitação na
reunião da distrital de Braga e pelo ambiente de faca na liga que passa nas
redes sociais, vai deixar profundas marcas no maior partido da oposição. Por
outro lado, o que vai estar em causa no confronto de 28 de Setembro é a escolha
do "candidato a primeiro-ministro". Esta solução "mágica"
que o actual secretário-geral encontrou para retardar o máximo possível a
inevitável disputa pela liderança, a pretexto de poder ter tempo suficiente
para desfazer o "messianismo" com que António Costa se apresenta,
ainda carece do cumprimento da palavra de António José Seguro, segundo a qual
se demite do cargo de secretário-geral em caso de derrota. Só depois, a partir
de Outubro, se conseguirá avaliar os estragos que este demorado processo de
clarificação provocou no partido e, sobretudo, no eleitorado que observa à
distância e sem emoções à flor da pele estes enredos partidários.
3
- Estes últimos três anos, de violento empobrecimento da maioria dos
portugueses, tanto através do aumento de impostos, como nos cortes em salários
e pensões de reforma, com o pretexto infame de "terem vivido acima das
suas possibilidades", não fez recuar a perversa promiscuidade entre o
poder político e os bancos. Foi esta promiscuidade, que envolve personalidades
dos três partidos do "arco da governação", traduzida em contratos
tóxicos, sejam swaps ou PPPs, que em grande parte nos conduz até aqui. O BES,
agora em turbulência, propôs para chairman o influente deputado do PSD Paulo
Mota Pinto. Pelos vistos, a bagunça continua.
Jurista,
escreve à segunda-feira
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