Jornal de Angola,
editorial - 21 de Junho, 2014
O Mundo comemorou
ontem o Dia do Refugiado.
África continua a ser das regiões do mundo com o maior número de refugiados,
razão pela qual essa data não pode passar despercebida.
Instituída em solidariedade para com os milhares de milhões de pessoas que se encontram deslocadas devido a conflitos, perseguições ou calamidades naturais, a celebração desta data representa um dia de reflexão e de trabalho a favor da paz e da reconciliação nacional.
As sociedades de partida e de chegada daqueles que se refugiam devem ganhar consciência da condição dos que, de noite para o dia, se transformam em refugiados enfrentando desafios e problemas de toda a ordem.
Ser refugiado é sempre um desafio, da partida à chegada ao país acolhedor, dos
desafios de inserção numa nova realidade à adaptação e depois os preparativos
para o regresso. O Dia Mundial do Refugiado constitui motivo para avaliar
a situação das populações delocadas em África, um continente em que são
recorrentes as acções de conflito e instabilidade que fomentam as deslocações
transfronteiriças que produzem refugiados.
A promoção de acções a favor dos refugiados, nomeadamente, a solidariedade e a
criação de condições que viabilizem o repatriamento e acomodação de pessoas que
viveram como refugiadas, é um imperativo da nossa era. A deslocação
humana, por razões de segurança, calamidade ou privação alimentar, representa
um dos maiores problemas da actualidade em todo mundo.
De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR),
no total 51,2 milhões de deslocados e refugiados pela guerra e pela violência
foram registrados em 2013, o maior número desde a Segunda Guerra Mundial.
Este número representa seis milhões a mais do que em 2012, segundo António
Guterres, o Alto Comissário para os Refugiados, que apresentou em Genebra um
relatório sobre o assunto. “Enfrentamos um enorme aumento dos deslocamentos
forçados”, declarou o Alto Comissário, que alertou para a existência de 2,5
milhões de novos refugiados sírios e 6,5 milhões de deslocados internos neste
país, desde o início do conflito, há mais de três anos.
Em África, em particular na África Central e no Sudão do Sul, ocorreram grandes
deslocamentos de população. Longe de África, a Colômbia é um dos países com o
maior número de deslocados no mundo, 5,3 milhões.
Segundo António Guterres, o forte crescimento é explicado pela multiplicação de
novas crises, que forçam a população a abandonar os seus lares, e pela
“persistência de velhas crises que parecem não querer morrer nunca”. A
comunidade internacional, disse António Guterres, “deve ultrapassar as
suas divergências e encontrar soluções para os conflitos actuais no Sudão do
Sul, na Síria, na República Centro-Africana e em outros locais do Mundo”.
Há mais de 50 anos, milhares de angolanos conheceram a saga de viver como
refugiados. Desde as atrocidades cometidas pelos colonialistas, passando pela guerra
de agressão imposta pelo regime do apartheid, até à tentativa da UNITA em reduzir Angola a
cinzas, o país viu partir centenas de milhares dos seus filhos como refugiados.
À medida que a paz e a estabilidade se tornaram irreversíveis em Angola,
o país viu regressar um número elevado de cidadãos nacionais e com a ajuda das
organizações internacionais e países amigos empreendeu uma campanha
massiça e exemplar de repatriamento dos antigos refugiados que estavam a viver
maioritariamente na República Democrática do Congo, Zâmbia, Botswana e Namíbia.
Angola continua de braços abertos para continuar a receber os seus filhos que
se encontram na condição de refugiados em países vizinhos e em outras partes do
Mundo, uma realidade que tem levado o Ministério da Assistência e Reinserção
Social a reafirmar esse compormisso do Estado angolano e a redobrar esforços na
criação de condições para o repatriamento dos angolanos.
Para satisfação de muitas famílias angolanas, decorreram já várias fases de
repatriamento de antigos refugiados que viviam em países vizinhos e a maior
parte foi colocada nas suas terras de origem. Com a cessação do estatuto de
refugiados, os angolanos integram nos países de acolhimento já com o estatuto
legal de imigrantes.
As instituições angolanas trabalham incansavelmente para que acabar por
completo com o número de angolanos a viver na condição de refugiado. Pela forma
como ocorrem todas as fases de repatriamento até aos dias de hoje, com o
empenho das autoridades angolanas, dos Governos dos países vizinhos e a ajuda
das organizações internacionais, podemos considerar que essa acção está a ser
um sucesso. Isso ilustra que a coesão e a solidariedade fazem parte da maneira
de ser do Povo Angolano.
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