sexta-feira, 13 de junho de 2014

"Nacionalismo de recursos" atrasa o Brasil na produção de petróleo




O "nacionalismo de recursos" praticado no Brasil dificulta a operação da Petrobras e prejudica o país, que tem enfrentado sucessivos atrasos e problemas na exploração de petróleo, considera o analista da Energy Aspects Virendra Chauham.

Em entrevista à Lusa, este analista de uma das principais consultoras na área da energia afirma que "o Brasil vai ter um enorme papel a desempenhar no mercado do petróleo", mas lembra que as metas de produção têm sido sucessivamente adiadas por dificuldades técnias e falta de interesse dos investidores, motivados pelo excessivo peso que o Governo deposita na Petrobras, configurando um "nacionalismo de recursos".

"A Petrobras tem baixado as metas de produção ao longo dos últimos anos, e o crescimento da produção continua a desapontar face às expetativas", acrescenta Virendra Chauhan, explicando que isso se deve, em grande parte, ao "nacionalismo de recursos" praticado no Brasil.

"Algumas das medidas do Governo, como as alterações à moldura da regulamentação do setor, representou um nacionalismo de recursos, e abrandaram a produção, porque dava 30% da exploração à Petrobras, o que obrigava as grandes companhias petrolíferas internacionais a fornecerem o seu 'know-how' e a fazer grandes e prolongados compromissos de capital, mas depois o desenvolvimento do projeto e as decisões estratégicas eram tomadas pela Petrobras", explicou o analista.

"Já em 2006 a Agência Internacional de Energia previa que três anos depois o país chegasse aos 3 milhões de barris por dia, mas estamos em 2014 e agora a previsão dos 3 milhões passou para 2018", diz o consultor que segue de perto o setor da energia no Brasil, Angola e Moçambique.

Para Virendra Chauham, este foi um dos principais motivos que "fez abrandar a taxa de desenvolvimento dos projetos", mas não foi a única razão para as contas da Petrobras não estarem nos níveis positivos dos últimos anos.

"Muitos argumentam que a Petrobras, uma companhia controlada pelo Governo brasileiro, é um mecanismo para controlar a inflação e manter os preços da gasolina baixos, o que amarra as mãos da empresa, porque se espera que gastem imenso dinheiro com a exploração de petróleo, e ao mesmo tempo têm de, na prática, subsidiar a gasolina, por isso, trimestre após trimestre, as contas têm piorado", argumenta o analista.

Nos últimos três anos, afirma, "a Petrobras perdeu 26 mil milhões de dólares, e por isso teve de recorrer a dívidas, o que é suficiente para, do ponto de vista dos investidores, baixar o interesse e os preços das ações".

Outro dos grandes problemas da Petrobras, conclui o analista, têm a ver com a necessidade de desenvolver os projetos, que já de si estão "a romper fronteiras em termos da perícia necessária", com a indústria local, que é "demasiado caro para gerir a infraestrutura e potenciar comercialmente o potencial de exploração".

De acordo com os últimos dados da Agência Nacional do Petróleo do Brasil, a produção de petróleo e gás em águas profundas bateu o recorde em abril pelo sexto mês consecutivo e, pela primeira vez, superou 400 mil barris por dia.

A produção no pré-sal em abril superou em 4,2% a realizada no mês anterior, tendo sido gerados 503,6 mil barris de óleo equivalente por dia, sendo 412 mil barris diários de petróleo e 14,6 milhões de metros cúbicos por dia de gás natural.

A produção total de petróleo e gás natural no Brasil em abril foi de 2,667 milhões de barris equivalentes por dia, sendo 2,146 milhões de barris diários de petróleo e 82,9 milhões de metros cúbicos por dia de gás natural.

Lusa, em Notícias ao Minuto

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