MARIA JOÃO GUIMARÃES - Público
Mais
uma escola atingida no conflito leva responsáveis da ONU a forte condenação do
Estado hebraico por “grave violação da lei internacional”. Ban Ki-moon pede
“que sejam apuradas responsabilidades e que seja feita justiça”
Um
ataque a uma escola da ONU, uma explosão num mercado durante uma semi-trégua –
o dia de quarta-feira estava a ser pesado para civis na Faixa de Gaza. Desde
segunda-feira à noite, quando Israel anunciou um prolongamento da campanha
militar em Gaza, que o território está a ser alvo de pesados bombardeamentos.
Mas um ataque em particular levou a ONU a usar palavras especialmente duras
para Israel.
A
madrugada começou com a chamada para as primeiras orações, e minutos depois uma
explosão atingiu uma escola gerida pela ONU no campo de refugiados de Jabaliya.
“Na
noite passada, crianças morreram enquanto dormiam junto dos seus pais no chão
de uma sala de aulas”, resumiu o responsável da UNRWA Pierre Krähenbühl.
“Crianças mortas enquanto dormem; isto é uma afronta a todos nós, é uma
vergonha universal”, continuou.
O
ataque foi “injustificável”, reagiu o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon,
pedindo “que sejam apuradas as responsabilidades e que seja feita justiça”.
Além disso, Ban indicou que “a localização da escola foi comunicada 17 vezes às
autoridades militares israelitas, a última vez horas antes do ataque”.
Ao
contrário da última vez que uma escola da UNRWA foi atingida e que morreram
pessoas (e até agora escolas a servir de abrigo já foram atingidas seis vezes
neste conflito), em que havia duas versões sobre quem poderia ter disparado,
desta vez a ONU explicou que os fragmentos das munições foram analisados e que
a primeira conclusão foi tratar-se de um ataque israelita. Pierre Krähenbühl
apontou claramente o dedo a Israel, condenando “nos termos mais fortes esta
grave violação da lei internacional pelas forças israelitas.” O ataque, dizia
um comunicado da agência, é “fonte de vergonha universal”.
“Estas
pessoas vieram aqui para terem protecção"
Testemunhas
contam como salas de aula acomodando 40 pessoas cada (a maioria mulheres e
crianças) se iam esvaziando, na escola com cerca de 3300 pessoas no total, com
os ocupantes a fugirem para o pátio, lugar que pensaram poder ser menos
perigoso. Um projéctil atingiu a escola, fazendo um tecto de uma sala de aula
cair. Entre destroços e estilhaços da explosão, 19 pessoas morreram e mais de
cem ficaram feridas, muitos com ferimentos graves e ainda em estado crítico.
“Foi
muito, muito duro para mim ver o sangue e ouvir as crianças a chorar”, contou
Khalil al-Halabi, responsável da gestão das escolas na zona, que visitou a
escola logo após o ataque. “Estava todo a tremer”, confessou.
E
agora, Halabi não sabe o que responder a quem sobreviveu. “Estas pessoas vieram
aqui para terem protecção. Agora perguntam-me se devem ficar ou ir embora.
Estão muito assustadas. Não sabem o que fazer.”
“Estas
são pessoas que foram instruídas a deixar as suas casas pelo exército
israelita”, sublinhou Krähenbühl.
A
UNRWA disse entretanto estar num “ponto de colapso” e Krähenbühl avisou: “Os nossos
funcionários, as pessoas que estão elas próprias a liderar a assistência
humanitária, estão a ser mortos. Os nossos abrigos estão a rebentar pelas
costuras. Dezenas de milhares de pessoas podem ficar em breve pelas ruas de
Gaza, sem comida, sem água, e sem abrigo se continuarem ataques nestas áreas”.
A
UNRWA anunciou na semana passada ter encontrado rockets em duas escolas, e
criticou duramente quem levou para lá os projécteis por estar a pôr a vida de
civis em risco. Israel
também afirmou que por vezes enfrentou fogo vindo da proximidade de escolas, e
disse que neste caso houve disparos vindos de perto da escola.
Já
à tarde, em plena trégua humanitária de quatro horas anunciada pelo Governo de
Israel, um ataque atingiu um mercado em que muitos palestinianos faziam
compras, partindo do princípio de que havia uma pausa nos combates,
aparentemente desconhecendo que era uma trégua com excepções para “locais onde
estiverem a operar soldados das Forças de Defesa de Israel”. Pelo menos 15
pessoas morreram e 60 ficaram feridas.
Nos
últimos ataques de Israel em Gaza, foi destruída infra-estrutura vital para o
pequeno território, como a central eléctrica (que tinha já sido atacada em 2006
e em 2009, nunca recuperando totalmente). Os habitantes foram aconselhados a
racionar a água (as bombas funcionam a electricidade) e temia-se o efeito no
sistema de saneamento.
Mais
de 20 rockets e morteiros foram disparados por combatentes palestinianos em
direcção a Israel, mas fonte militar citada pelo Ha’aretz diz que o número de
disparos de médio e longo alcance está a diminuir, e que a maioria dos
projécteis está a ser usada contra os soldados israelitas no interior da Faixa
de Gaza.
Morreram
já mais de 1300 palestinianos, a maioria civis, na Faixa de Gaza. Do lado de
Israel, morreram ontem mais três soldados numa entrada de túnel armadilhada,
aumentando para 56 os militares mortos desde o início do conflito (e ainda três
civis, dois israelitas e um trabalhador tailandês). E na Cisjordânia, desde
protestos na semana passada em solidariedade com Gaza, morreram mais 13 pessoas
em confrontos com as forças de segurança, segundo a organização de defesa de
direitos humanos B’Tselem.
Um
responsável do exército israelita disse ao Jerusalem Post que faltam
poucos dias para a destruição dos túneis estar completa. Este foi o objectivo
estipulado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu para a campanha militar em Gaza. Mas ministros
pediam antes a “destruição total do Hamas”. Enquanto isso, mediadores
continuavam a tentar negociar um cessar-fogo no Cairo.
Na
foto: Avó dá colo a neto que foi ferido durante ataque à escola BRAHEEM
ABU MUSTAFA/REUTERS
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