Jacarta,
07 jul (Lusa) - O futuro presidente da Indonésia vai ser confrontado com
grandes desafios para manter o crescimento da primeira economia do sudeste
asiático, em particular, reduzir os subsídios ao combustível, aumentar a ajuda
para milhões de pobres e renovar infraestruturas.
Os
dois candidatos ao escrutínio de quarta-feira, o governador de Jacarta Joko
Widodo, conhecido como Jokowi, e o antigo general Prabowo Subianto,
multiplicaram as promessas durante a campanha eleitoral, mas o vencedor terá
que atuar rapidamente e tomar medidas nada populares, de acordo com os peritos.
Recém
chegado à cena política indonésia, Jokowi, de 53 anos, - que até ao momento
escapou a qualquer escândalo de corrupção num país dominado por este flagelo -
é considerado o candidato preferido dos mercados.
Filho
de um carpinteiro, Jokowi poderá ser o primeiro presidente saído de um meio
modesto e sem relações com a elite político-militar indonésia. Cresceu nos
arredores de Solo, cidade de meio milhão de habitantes na ilha de Java. Em
2005, foi eleito presidente de Solo e, em 2010, foi reeleito, com um resultado
'soviético' (91%).
Em
2012, foi eleito governador de Jacarta, com dez milhões de habitantes.
Reformista, tal como em Solo, Jokowi introduziu cartões de acesso à saúde e à
educação para os mais desfavorecidos, numa cidade onde um habitante em cinco
vive abaixo do limiar da pobreza.
Em
contraste, o único rival, o ex-general Prabowo Subianto, de 62 anos, foi um
militar ativo no regime do ex-ditador Suharto, e a retórica nacionalista
preocupa vários investidores estrangeiros.
Prabowo
Subianto reconheceu ter ordenado o sequestro de militantes pró-democracia no
final da era Suharto (1967-1998) e algumas ONG acusam-o de ter cometido
violações dos direitos humanos em Timor-Leste, durante a luta pela
independência do território, duramente reprimida pelas forças especiais que
comandava.
Depois
da queda de Suharto, Prabowo deixou o exército e exilou-se durante alguns anos
na Jordânia, onde se tornou num empresário bem sucedido. Regressou à política
em 2009.
Independentemente
do resultado do escrutínio, "o novo presidente vai herdar imensos
problemas e deve iniciar a tarefa" no dia seguinte à eleição, disse à
agência noticiosa francesa AFP o economista Latif Adam do Instituto das
Ciências indonésio.
A
economia indonésia registou, durante a última década, um aumento do Produto
Interno Bruto (PIB) ao ritmo anual de cerca de 6%, mas a diminuição da
atividade mundial foi sentida no arquipélago, resultando, no primeiro semestre,
na progressão mais fraca do PIB desde 2009 (5,21% ao ano).
A
primeira medida a tomar vai ser reduzir o montante de subsídios ao combustível
- cujo preço na Indonésia é um dos mais baixos na Ásia -, o que representa mais
de 20% do orçamento do Estado, advertiram peritos.
O
governo do presidente cessante, Susilo Bambang Yudhoyono, fez reduções
limitadas destas ajudas durante os dez anos que esteve no poder, mas renunciou
a reformas radicais devido à insatisfação da população, num país onde 100
milhões de pessoas - perto de 40% da população - vive com menos de dois dólares
por dia.
Assim,
"o novo presidente vai ter, desde o primeiro dia, fundos muito limitados
para os ministérios e órgãos do governo, na medida em que o dinheiro foi usado
para aumentar os subsídios ao combustível", explicou o principal
economista do Banco Central Ásia David Sumual.
Os
dois candidatos prometeram diminuir estes subsídios, o que permitirá conseguir
fundos para outras medidas importantes, nomeadamente, aumentar a ajuda às
camadas mais desfavorecidas da população e construir estradas, portos e
aeroportos neste arquipélago de 17.000 ilhas e ilhéus.
O
Banco Mundial considera que o mau estado das infraestruturas dificulta
consideravelmente as deslocações e transporte de mercadorias e custou ao país
cerca de um ponto percentual no crescimento anual, durante os últimos anos.
Outro
desafio para o futuro chefe de Estado é a luta contra a corrupção endémica, em
particular, nos funcionários e na classe dirigente.
"A
corrupção tem saído cara à economia", declarou o presidente da associação
dos empregadores indonésios, Sofjan Wanandi, acrescentando que este flagelo
atingiu "a maior parte das esferas da burocracia".
Além
da luta contra a corrupção, o novo presidente vai ter também a tarefa delicada
de manter a capacidade do país de atrair investidores estrangeiros, tendo em
conta os apelos a favor de medidas protecionistas.
Durante
a campanha eleitoral, os dois candidatos rivalizaram em propostas para travar
as sociedades estrangeiras e controlar mais o setor dos recursos naturais, preocupando
numerosos atores estrangeiros.
Perante
estes desafios económicos, o próximo presidente deverá empreender rapidamente
reformas dolorosas: "Não haverá estado de graça", avisou Adam.
EJ
// EL - Lusa
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