segunda-feira, 7 de julho de 2014

Indonésios escolhem presidente na quarta-feira entre reforrmista e ex-general de Suharto




Jacarta, 07 jul (Lusa) - O futuro presidente da Indonésia vai ser confrontado com grandes desafios para manter o crescimento da primeira economia do sudeste asiático, em particular, reduzir os subsídios ao combustível, aumentar a ajuda para milhões de pobres e renovar infraestruturas.

Os dois candidatos ao escrutínio de quarta-feira, o governador de Jacarta Joko Widodo, conhecido como Jokowi, e o antigo general Prabowo Subianto, multiplicaram as promessas durante a campanha eleitoral, mas o vencedor terá que atuar rapidamente e tomar medidas nada populares, de acordo com os peritos.

Recém chegado à cena política indonésia, Jokowi, de 53 anos, - que até ao momento escapou a qualquer escândalo de corrupção num país dominado por este flagelo - é considerado o candidato preferido dos mercados.

Filho de um carpinteiro, Jokowi poderá ser o primeiro presidente saído de um meio modesto e sem relações com a elite político-militar indonésia. Cresceu nos arredores de Solo, cidade de meio milhão de habitantes na ilha de Java. Em 2005, foi eleito presidente de Solo e, em 2010, foi reeleito, com um resultado 'soviético' (91%).

Em 2012, foi eleito governador de Jacarta, com dez milhões de habitantes. Reformista, tal como em Solo, Jokowi introduziu cartões de acesso à saúde e à educação para os mais desfavorecidos, numa cidade onde um habitante em cinco vive abaixo do limiar da pobreza.

Em contraste, o único rival, o ex-general Prabowo Subianto, de 62 anos, foi um militar ativo no regime do ex-ditador Suharto, e a retórica nacionalista preocupa vários investidores estrangeiros.

Prabowo Subianto reconheceu ter ordenado o sequestro de militantes pró-democracia no final da era Suharto (1967-1998) e algumas ONG acusam-o de ter cometido violações dos direitos humanos em Timor-Leste, durante a luta pela independência do território, duramente reprimida pelas forças especiais que comandava.

Depois da queda de Suharto, Prabowo deixou o exército e exilou-se durante alguns anos na Jordânia, onde se tornou num empresário bem sucedido. Regressou à política em 2009.

Independentemente do resultado do escrutínio, "o novo presidente vai herdar imensos problemas e deve iniciar a tarefa" no dia seguinte à eleição, disse à agência noticiosa francesa AFP o economista Latif Adam do Instituto das Ciências indonésio.

A economia indonésia registou, durante a última década, um aumento do Produto Interno Bruto (PIB) ao ritmo anual de cerca de 6%, mas a diminuição da atividade mundial foi sentida no arquipélago, resultando, no primeiro semestre, na progressão mais fraca do PIB desde 2009 (5,21% ao ano).

A primeira medida a tomar vai ser reduzir o montante de subsídios ao combustível - cujo preço na Indonésia é um dos mais baixos na Ásia -, o que representa mais de 20% do orçamento do Estado, advertiram peritos.

O governo do presidente cessante, Susilo Bambang Yudhoyono, fez reduções limitadas destas ajudas durante os dez anos que esteve no poder, mas renunciou a reformas radicais devido à insatisfação da população, num país onde 100 milhões de pessoas - perto de 40% da população - vive com menos de dois dólares por dia.

Assim, "o novo presidente vai ter, desde o primeiro dia, fundos muito limitados para os ministérios e órgãos do governo, na medida em que o dinheiro foi usado para aumentar os subsídios ao combustível", explicou o principal economista do Banco Central Ásia David Sumual.

Os dois candidatos prometeram diminuir estes subsídios, o que permitirá conseguir fundos para outras medidas importantes, nomeadamente, aumentar a ajuda às camadas mais desfavorecidas da população e construir estradas, portos e aeroportos neste arquipélago de 17.000 ilhas e ilhéus.

O Banco Mundial considera que o mau estado das infraestruturas dificulta consideravelmente as deslocações e transporte de mercadorias e custou ao país cerca de um ponto percentual no crescimento anual, durante os últimos anos.

Outro desafio para o futuro chefe de Estado é a luta contra a corrupção endémica, em particular, nos funcionários e na classe dirigente.

"A corrupção tem saído cara à economia", declarou o presidente da associação dos empregadores indonésios, Sofjan Wanandi, acrescentando que este flagelo atingiu "a maior parte das esferas da burocracia".

Além da luta contra a corrupção, o novo presidente vai ter também a tarefa delicada de manter a capacidade do país de atrair investidores estrangeiros, tendo em conta os apelos a favor de medidas protecionistas.

Durante a campanha eleitoral, os dois candidatos rivalizaram em propostas para travar as sociedades estrangeiras e controlar mais o setor dos recursos naturais, preocupando numerosos atores estrangeiros.

Perante estes desafios económicos, o próximo presidente deverá empreender rapidamente reformas dolorosas: "Não haverá estado de graça", avisou Adam.

EJ // EL - Lusa

Sem comentários:

Mais lidas da semana