segunda-feira, 21 de julho de 2014

Jornalistas brasileiros tentam compreender circunstâncias da queda do Boeing malaio



Vladimir Kultygin – Voz da Rússia

A queda do Boeing 777 malaio é a principal notícia do passado final de semana. E dá tom para a nova semana que está começando. Todos esperamos que sejam apuradas as causas do acidente e que o conflito no Leste da Ucrânia seja terminado o mais rápido possível.

O Brasil fica bastante longe da Ucrânia, porém essa notícia é de alcance mundial. É interessante ver o que diz a mídia brasileira a respeito desse acontecimento trágico e as suas consequências.

Duas edições nacionais, O Estado de S.Paulo e a Rede Brasil Atual, publicaram no dia 19 de julho, sábado, depoimentos de peritos estadunidenses que criticam a postura oficial dos EUA, parte que parece interessada no conflito ucraniano.

A jornalista paulista Juliana Sayuri (O Estado de S.Paulo) pegou uma entrevista a Stephen M.Walt, professor de Relações Internacionais na Universidade de Harvard e colunista na revista Foreign Policy (Política Internacional). Admitindo como principal a hipótese de que são os milicianos do Leste da Ucrânia (que a mídia brasileira chama de separatistas e o professor, de rebeldes) que têm a culpa pelo derrube. Segundo o entrevistado, esse seria um “erro”, pois os milicianos teriam confundido o Boeing comercial com um avião militar.

Caso semelhante a história já conhece: em 1988, a Força Naval estadunidense derrubou com um míssil terra-ar um avião comercial iraniano, “confundindo-o” com um F-16 de combate. Portanto, diz o perito que esse “trágico erro” “deveria levar a novos esforços para estabilizar a situação e restabelecer a integridade territorial e a neutralidade geopolítica na Ucrânia”.

Contudo, além de supor que a culpa seria dos milicianos e da Rússia (que lhes alegadamente teria fornecido armas), o professor condena a atitude dos Estados Unidos e da União Europeia, cujas políticas “foram tolas e impotentes”. O Ocidente, segundo ele, deveria mostrar mais tato diplomático e não se esforçar para fazer da Ucrânia uma zona de influência, mas deixar o país ser neutro e independente. Terminando a entrevista, o professor de Harvard sublinha que gostaria que os EUA realizem a sua participação na arena internacional “de uma maneira mais restrita e inteligente”.

Já Paul Craigs Roberts, ex-secretário do Tesouro dos EUA e editor associado do The Wall Street Jornal, cujo artigo publicou Rede Brasil Atual, critica com maior dureza a política dos Estados Unidos. “A diplomacia exige capacidade razoável para aprender com os erros – os próprios e dos outros; mas já há anos Washington esqueceu a diplomacia”, ressalta ele quase no início do texto.

Quanto ao acidente do Boeing, ele suspeita que não é justo afirmar que o avião tenha sido abatido ou explodido antes da confirmação especial (o que fez Joe Biden, vice-presidente dos EUA). Em uma atmosfera de incerteza, sem dados oficiais, é preciso fazer declarações equilibradas, sem pressionar ninguém com meias-ameaças. No entanto, opina o autor, “os “separatistas” (aspas do autor) nada têm a ganhar com derrubar um avião de passageiros, mas Washington, sim, tinha “bom” motivo: culpar a Rússia”. A seguir, expressa a opinião de que a política do soft power (“poder brando”) de Vladimir Putin deveria se substituir com ações mais duras.

No entanto, na sua maioria, a mídia brasileira limita-se a trazer os fatos, comentando informações de agências internacionais. Muitas publicações destacam a pressão internacional sobre a Rússia, principalmente da Austrália e do Reino Unido.

O enviado especial da Folha de S.Paulo, Leandro Colon, que agora está no local da queda do Boeing, comenta os acontecimentos em tempo real através do seu blog da Folha e da sua conta em Twitter. Chegado na Ucrânia uma semana após a Copa do Mundo, ele é bem amargo e crítico, tendo comentado no domingo que a situação era “um caos”.

Em outra reportagem publicada no jornal, ele diz que os milicianos que controlam a área se ocupam de retirar os corpos (já tinham passado dois dias, era já tempo), mas que o trabalho dos observadores da OSCE estava “limitado”. Contudo, não só na região de Donetsk há tensão, também nas áreas onde estão os postos de controle ucranianos.

Já o site R7, da rede Record, traz mais notícias pessoais. Vários casais e famílias, segundo a edição, escaparam morte certa no avião ao ter, por várias razões, desistir de viajar com Malaysia Airlines. Um casal que regressava da lua-de-mel tinha preferido trocar de voo para viajar com antecipação, e uma família tinha que embarcar em um voo de outra companhia porque não havia assentos livres. E uma história triste, da aeromoça Nur Shazana Mohamed Salleh, de 31 anos, que perdeu a vida “vivendo seu sonho”.

O site Terra.com.br também gosta de história: o jornalista Dassler Marques traz uma reportagem sobre cinco futebolistas brasileiros que tiveram medo a deslocar-se de novo para o clube Shakhtar, de Donetsk, devido à queda do Boeing. Os nomes são: Dentinho, Fred, Alex Teixeira, Douglas Costa e Ismaily. Os representantes oficiais do clube ucraniano preferiram “minimizar e esconder o assunto”.

Uma matéria publicada no domingo na revista Veja relata a chegada da equipe da agência de aviação da ONU ao local da queda do Boeing, porém que “não consegue acessar o local do acidente por preocupações de segurança”.

Em outra matéria da mesma revista, se diz que o governo ucraniano estava preparando um centro de crise em Carcóvia, para receber os corpos das vítimas; no entanto, Alexander Borodai, primeiro-ministr o da República Popular de Donetsk, informava que os corpos iriam permanecer em vagões refrigerados na cidade de Thorez aguardando a chegada da delegação internacional. E parece que este tempo já chegou: um grupo de médicos legistas holandeses começou a examinar os 196 corpos guardados no trem. A Veja também confirma esta informação.

Foto: RIA Novosti/Andrei Stenin

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