Não
se espere da nova instituição confronto com ordem capitalista. Mas é alentador
que cresça contestação ao poder dos EUA e aliados
Renato
Xavier – Outras Palavras
O
Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS (NBD) acaba de ser criado e com ele uma
série de questionamentos levantados: qual o papel do NBD (e dos BRICS) na atual
ordem mundial? Seria este um arranjo contra-hegemônico ou “mais do mesmo”?
Fazendo
um rápido exercício pouco especulativo, mas com certo embasamento
histórico-econômico, é possível dizer que o NBD não apresenta nada de novo. Em
outras palavras, o arranjo é mais do mesmo. Não há indicativos, principalmente
se levarmos em conta as declarações oficiais – cujo objetivo era o de acalmar o
mercado e a comunidade internacional – de que o NBD tenha qualquer aspecto
contra-hegemônico, ou busque a substituição das instituições de Bretton Woods –
o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.
Ao
contrário do que parece – ou melhor, ao contrário do que se espera –, a
ascensão dos países emergentes desde a década de 1970 tem intrínseca relação
com o atual sistema internacional. Em outras palavras, os países BRICS
(especialmente a China) não alcançaram a atual posição a partir de políticas
anti-sistêmicas, mas, sobretudo, aderindo à ordem mundial vigente (com fortes
traços liberais, cuja liderança está por conta dos Estados Unidos desde 1945).
Surfando na crista das boas ondas internacionais, os países BRICS, quase
sempre, se juntaram ao “concerto das nações”, ilustrado nas instituições
multilaterais que trabalham, além de outras funções, para a manutenção do status
quo.
Nesse
sentido, a criação do NBD não afastará os países BRICS – em particular, China e
Rússia, membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU – da vanguarda da
ordem mundial. Ao contrário disso, Brasil e Índia buscam há algum tempo
participar deste clube através das tentativas de reformulação das principais
instituições internacionais como o próprio Conselho de Segurança, no intuito de
distribuir o poder político entre as nações em consonância com o atual poder
econômico.
Pari
passu a criação do NBD, o BRICS trava um forte embate no FMI. Desde 2010,
o grupo das vinte maiores economias, G20, aprovou a reforma da instituição
financeira. Ou seja, os países emergentes aumentaram a sua participação no
capital do Fundo e ganharam maior peso e voz nas decisões multilaterais. No
entanto, o Congresso dos Estados Unidos vem barrando sistematicamente qualquer
tentativa de reforma do FMI.
Por
isso, não é possível ignorar o atual momento. Desde meados do século passado,
mais precisamente desde a conferência de Bandung, não há uma coalizão de países
em desenvolvimento capaz de causar, no mínimo, preocupação aos países centrais.
Ainda que as vozes pessimistas esperem exaustivamente sempre mais, é preciso
olhar o arranjo de forma mais pragmática. Essencialmente, é preciso não esperar
da coalizão o que ela nunca se propôs a ser, isto é, um agrupamento
transformador da ordem mundial.
Pragmaticamente,
o NBD pode ser uma alternativa viável às distorções da economia internacional
ou, sendo mais otimista, uma alternativa ao monopólio da decisão
político-econômica que, quase um século depois, ainda está sob a égide das
instituições de Bretton Woods e, consequentemente, dos EUA.
Por
fim, é preciso ter o mínimo de autocrítica quando estamos a propor algo “novo”.
Atualmente, as críticas direcionadas ao BRICS não apresentam algo realmente
novo, algo desprovido de valores/teorias ocidentais. O que se nota é, ao
contrário, a manutenção de teorias eurocêntricas travestidas de integração
cultural, uma repetição de experiências fracassadas. É prudente esperar a
maturação do NBD para, assim, com certo distanciamento histórico, analisarmos
se as escolhas foram corretas e os resultados positivos.
Sem comentários:
Enviar um comentário