Rui
Peralta, Luanda (ver artigos anteriores)
IX
- A sul das suas fronteiras os USA têm toda uma região onde agem como muito bem
entendem (já não com a mesma impunidade de outrora. Cuba foi a primeira barreira,
erguida em 1959, e o movimento bolivariano na Venezuela, Equador e
Bolívia, ou os diversos processos de modernização em curso no Brasil, Uruguai e
Argentina, não esquecendo Nicarágua e as frágeis conquistas salvadorenhas, ou
as áreas livres de Chiapas, no México, ou as áreas da guerrilha colombiana), ao
ponto de na América Latina reflectirem-se com excepcional evidência os
objectivos norte-americanos. Descrita por Henry Stimson, Secretário da Guerra
no final da II Guerra Mundial, como " nossa pequena região", desde
muito cedo que o Sul do Novo Mundo representou um "maná" de recursos
naturais para os USA.
Em
1823, o Presidente James Monroe enviou ao Congresso um documento doutrinário de
política externa, que ficaria conhecido como Doutrina Monroe, que assentava na
recusa e rejeição da intervenção europeia nos assuntos do continente americano.
O empenho frenético que as elites norte-americanas demonstravam na defesa dos
interesses internos, foi utilizado, também na "pequena região", de
forma a evitar a concorrência europeia e a permitir a expansão do mercado
norte-americana. Ao Sul do Novo Mundo foi permitida, pelos senhores do Norte, a
formação da Organização dos Estados Americanos (OEA), controlada pelos USA e
que agrupa a América Central, Caraíbas e América do Sul. Os limites impostos à
OEA pelos Um Departamento de Estado para a América Latina, na administração
Roosevelt, durante a "Politica de Boa Vizinhança", em que avisava os
"parceiros" latino-americanos sobre a indisponibilidade dos USA em
aceitar "ideologias alienígenas", o que obrigaria os USA a
"tomarem, unilateralmente, medidas defensivas". Desnecessário será
referir que este é um direito exclusivo dos USA e que na OEA nenhum Estado tem
o direito de defender-se dos USA ou de considerar a ideologia oficial
norte-americana, os seus mitos e a(s) sua(s) cultura(s) como
"alienígenas".
Um
dos conselheiros para os assuntos da América Latina da administração Carter
referiu que as nações latino-americanas podem agir de modo independente
"excepto quando essa acção afecte negativamente os interesses
norte-americanos”. A região da América Central e das Caraíbas merece uma
atenção muito especial e "dedicada" por parte dos USA. Área rica em
recursos naturais e com forte potencial de desenvolvimento, a América Central e
as Caraíbas foram transformados em campos de terror. Sindicalistas, activistas
pelos Direitos Humanos, líderes comunitários, padres e freiras (nem a Igreja
Católica escapa ás atrocidades cometidas pelos grupos paramilitares de
extrema-direita, apoiados e financiados por Washington e camuflados pelas
oligarquias locais. A "opção pelos pobres" custou á Igreja Católica
na América Central um arcebispo, vários teólogos e intelectuais e centenas de
padres e freiras, assassinados pelos esquadrões fascistas, apoiados pela CIA).
São "bênçãos" dos USA herdados pela "pequena região".
Esta
política hegemónica que as administrações norte-americanas exercem na região
não sofreu alterações substanciais através dos tempos. Basta recordar Porto
Rico, para constatar esse facto, ou observar as oligarquias escleróticas da
região. Um exemplo desta "estática" é a relação USA / Haiti, um
relacionamento que comporta o somatório de comportamentos dos USA em política
externa: ingerência discreta, ingerência aberta, cavalos-de-troia,
testa-de-ferro, apoio financeiro a facções, etc..Em 1915 os USA invadiram o
Haiti e procederam ao desmantelamento das instituições haitianas,
apropriaram-se de terras, assassinaram milhares de camponeses e deixaram o país
entregue a um bando de mercenários. O Haiti foi reduzido ao papel de área de
plantação dos USA (servindo de balão de ensaio para a USAID e para diversas
ONGs de cariz religioso, principalmente de raiz protestante). Alguns anos
depois o Haiti tornou-se (sempre em constante empobrecimento) numa plataforma
de exportação para a indústria de montagem norte-americana. Em 1993, quase 80
anos depois da primeira invasão, os USA tornavam a invadir o país (estava-se em
pleno auge da Doutrina Clinton), desta vez para repor a legalidade democrática,
reconduzindo ao poder o presidente eleito (deposto por um golpe militar) mas só
depois de este ter aceitado as condições impostas por Washington.
As
consequências das políticas dos USA na América Central e do Sul manifestam-se
nos regimes terroristas das oligarquias e no contínuo e calculado atraso da
região. Este é, aliás, o legado histórico das relações Norte / Sul no
continente americano. Um recente caso passado recentemente com Cuba é bem demonstrativo da forma como os USA lidam com os países latino-americanos que
recusam ser subservientes aos interesses imperiais do Norte e não aceitam
subsistir inseridos numa vasta e agrilhoada área periférica.
A
Associated Press revelou um programa encoberto, da administração Obama,
para enviar jovens latino-americanos a Cuba com o objectivo de criar uma
campanha de desestabilização. Isto não constitui qualquer facto inédito em
Cuba, que desde 1959 vive sob a ameaça constante de ingerência e intervenção
por parte dos USA. Esta história ocorreu depois da detenção, em Cuba de
um personagem que dava pelo nome de Alan Gross, suposto funcionário da USAID,
agência que é utilizada como cobertura e camuflagem de operações de espionagem
e de acções de desestabilização. Um projecto da USAID iniciado em Outubro de 2009
enviou a Cuba jovens da Venezuela, Costa Rica e Perú. Os jovens
viajantes, postos na ilha, faziam-se passar por turistas, percorrendo o país com o objectivo de identificar cidadãos cubanos
que pudessem converter-se em activistas ao serviço da agência. Os agentes
organizaram um centro de prevenção e luta contra o SIDA, encobrindo,
assim, as suas actividades.
Entre
os documentos que a AP obteve, um (escrito em espanhol) assegurava: “a pesar de
que nunca hay total certeza, puedes tener confianza de que las
autoridades no van a tratar de hacerte daño físicamente, sólo te van a
asustar… Recuerda que el gobierno cubano prefiere evitar los informes
negativos de los medios en el extranjero, por lo que un extranjero
golpeado no es conveniente para ellos.” No total, cerca de uma dezena de
latino-americanos foram utilizados neste programa contra Cuba, por um
salário de pouco mais de 5 US dólares / hora.
A
USAID estabeleceu uma parceria com a Creative Associates International e
continuaram os programas subversivos contra Cuba, apesar dos funcionários norte-americanos terem, após a detenção de Gross (acusado de introduzir
ilegalmente tecnologia norte-americana em Cuba) suspendido as deslocações a
Cuba. Este novo programa foi adicionado ao “Twitter cubano”, ZunZuneo, colocado
em marcha pela USAID em 2009 e abandonado em 2012. Foram organizados
programas “discretos”, (como ZunZuneo) para aumentar o fluxo de informação.
Tanto este programa de "agentes viajantes" como o
ZunZuneo são parte de uma vasta operação, orçamentada em vários milhões de US
dólares com o objectivo de efectuar acções de agitação, propaganda e
desestabilização em países "politicamente incómodos" para
Washington (a CIA comprometeu-se, recentemente, a deixar de utilizar estes
programas).
O
programa dos agentes viajantes começou com a administração Obama, apesar
de na campanha para a sua reeleição, este assegurar que chegara o momento de um
“novo começo” nas relações com Cuba, depois de décadas de desconfiança.
Em finais de 2009, a
Creative Associates contratou a advogada venezuelana Zaimar Castillo, que
dirigia uma organização, a Renova. Segundo uma ex-administradora desta
organização, Yajaira Andrade, foram levadas a San José, Costa Rica, para
receberem formação. Foi criada uma conta bancária no Panamá e em Abril, três
membros da Renova aterraram em Havana para uma visita de um mês. Os
venezuelanos visitaram as residências estudantis no campus de uma
universidade em Santa
Clara e nos fins- de-semana conheciam as famílias dos
estudantes. Outro grupo de jovens peruanos, independente do grupo
venezuelano, foi enviado, também, a Santa Clara e nos relatórios de ambos os
grupos estão descritos alunos e instalações do campus, queixas dos
estudantes e eventuais problemas que pudessem ser utilizados. Os
estudantes que poderiam ser recrutados foram listados, elaborado um perfil e as
suas qualidades como líderes foram avaliadas.
Os
relatórios a que a AP acedeu descreviam a cultura política da
universidade, enumeravam as actividades da Juventude Comunista e os seus
métodos de seleccionamento. As queixas dos alunos eram cuidadosamente
detalhadas: qualidade da comida, serviço de água e electricidade,
instalações e infraestruturas. Após visitarem duas universidades, os consultores
venezuelanos identificaram um “grupo-meta (grupo objetivo)” que estaria
oposto ao governo e que apresentava "habilidades organizativas"
( organizaram actividades como um acampamento e um “festival universitário”).
Os estudantes cubanos contactados disseram, em entrevistas realizadas
recentemente pela AP, que ficaram surpreendidos quando descobriram que os seus
amigos estrangeiros actuavam em representação do governo norte-americano.
Em
Setembro de 2010, Irving Pérez, gerente da Creative Associates,
convocou uma reunião por Skype onde anunciou alterações de estratégia.
“Nuestro programa no va a impulsar más viajes a la isla, o al menos no
como columna vertebral de la operación”, afirmou Pérez aos jovens, que desta
forma tomaram conhecimento que deixariam de viajar a Cuba e tratariam da
ajudar a certos “contactos estrela” cubanos, que receberiam visto de
saída para serem capacitados noutro país. Os “beneficiários” cubanos que
permanecessem na ilha receberiam pagamentos para financiar as actividades
de recrutamento. Subcontratados da Creative Associates levariam o
dinheiro para o país através de "mulas".
Os
planos foram abandonados, mas este tipo de comportamento por parte dos USA é
norma na região. Segundo parece, uma eventual "Primavera" cubana
ficou adiada...talvez para o Inverno?
X
- Nos seus relacionamentos externos os USA adoptam diversos níveis de
comportamento em função de padr6es geoestratégicos, geopolíticos e
geoeconómicos, ou seja, em função da "sagrada trindade" imperialismo,
neocolonialismo, capitalismo (recursos, território, capital). Os labirintos
gerados por esta trindade (cenários de ramificações subterrâneas, vasos
comunicantes e diplomacias paralelas) são, por sua vez, mecanismos criadores de
labirínticos corredores que atingem todas as estruturas e superestruturas das
sociedades.
Esta
forma de actuar, orgânica (a mitologia propagandística da esquerda, sempre em
busca de imagens e de mensagens de impacto, compara-a, erradamente, a um polvo)
é própria das grandes colónias de bactérias, ou dos vírus. As sociedades são
contaminadas, as suas defesas enfraquecidas e o seu aparelho circulatório
torna-se num agente de distribuição, Mesmo com os Estados aliados,
Estados-clientes e Estados súbditos, este comportamento é mantido, de forma a
reforçar a aliança (e dela melhor tirar vantagem), a lealdade e a dependência
do cliente e aumentar o domínio exercido sobre o submisso súbdito. Assim,
quando Obama assinou, na passada semana, uma verba adicional, no valor de 225
milhões de USD em fundos de emergência para Israel, com o objectivo de aumentar
o arsenal de misseis de intercepção deste país, de forma a melhor capacitar o
sistema defensivo (Iron Dome), está a assinar um contracto com um cliente, que
é ao mesmo tempo um representante dos interesses norte-americanos no Médio
Oriente. Esta verba para reforço, considerada uma emergência, foi unanimemente
aprovada pelo Senado e com 395 votos a favor e 8 contra, no Congresso.
Apesar
do apoio quase generalizado dos políticos e da indústria mediática dos USA, não
existem evidências de que o Iron Dome esteja a funcionar. Efectivamente e ao
contrário do que é noticiado (ou propagandeado), a parte do sistema defensivo que está a salvar vidas (no lado israelita) são os mecanismos
de aviso atempado através dos telemóveis e a rede de abrigos. O Iron Dome é um
sistema desenvolvido por Israel mas com participação norte-americana (Raytheon,
empresa privada norte-americana). Aliás os USA testaram-no em 1991 no Iraque. O
sistema consiste na intercepção de misseis, ou seja é algo idêntico a um
sistema de artilharia antiaérea. Mas é neste ponto que reside o seu calcanhar
de Aquiles.
O
Iron Dome tem uma baixa taxa de resultados positivos (entre 10% a 20%). O
negócio da Raytheon é construir interceptores (são a primeira companhia neste
mercado) e é a grande beneficiária deste sistema defensivo de concepção
israelita, ao participar como parceira, na gestão do projecto e como
fornecedora dos misseis interceptores. Cada um destes misseis custa acima dos
100 mil US dólares (alguns meios governamentais israelitas falam em 20 mil US
dólares, o que implicaria que os USA subsidiariam em 80% o custos dos misseis).
Os rockets do Hamas custam entre os 500 e os 1000 US dólares . Assumindo que o
sistema funcionasse e que os misseis custassem 20 mil US dólares, teríamos um
sistema altamente deficitário que não compensaria os prejuízos causados pelo
Hamas (uma vez que é o sistema de alarme e a rede de abrigos que salvam vidas),
pois que cada rocket do Hamas destruído por um Iron Dome representaria um
prejuízo de 19 mil US dólares (assumindo que um rocket ou um míssil artesanal
cheguem aos mil US dólares) valor muito superior aos estragos causados. Ora,
como os preços dos Iron Dome rondam os cem mil US dólares e o sistema é
inoperacional, estamos, então, na presença de um negócio chorudo, ilícito e
criminoso (se os israelitas tiverem razão, é porque os contribuintes
norte-americanos estão a ser enganados).
Factos
como este são uma constante. As grandes companhias são financiadas pelos
contribuintes, que por sua vez vêm os seus rendimentos decrescer, os seus
postos de trabalho desaparecerem, os seus direitos sociais e cívicos serem
ignorados, as liberdades individuais espezinhadas e vêem-se excluídos do
mercado, ao mesmo tempo que grandes negócios entre Estados e companhias
privadas decorrem. A segurança, a guerra, o terrorismo, não são apenas grandes
e lucrativos negócios em si mesmo, são também enormes plataformas de negócios
protegidos, que excluem a concorrência livre, aberta e transparente, que atropelam
e subvertem o sistema jurídico, acorrentam o Poder Judicial (já de si preso á
sua organicidade burguesa) e compram a palavra ao Poder Legislativo (também
este preso á sua interiorização burguesa, não togada, mas liberalmente
dialogante e palavrosa).
Os
factos políticos internacionais, os factores da dinâmica externa são cada vez
mais geoeconómicos (subordinando, mas não extinguindo-as, a geoestratégia e a geopolítica. Nas dinâmicas internas sucede um fenómeno idêntico, com a economia
a tornar-se realidade única, subordinando a politica e transformando-a num mero
mecanismo de selecção) , devido ao facto de tornarem-se rentáveis, em função
das vastas e imensas potencialidades que a sua exploração representa.
Nessa
vertente surgem acontecimentos como a Ucrânia, que revela-se um conjunto
apetitoso de plataformas de negócios para o grande capital e seus
parceiros-clientes, o Estado. Assim, o Departamento de Defesa dos USA,
anunciou que no próximo ano (2015) financiará treinamento, formação e
equipamento militar á Guarda Nacional de Ucrânia, força que participa na
ofensiva bélica no sudeste do país, junto ao Exército e que é acusada de
albergar mercenários fascistas.
A
Rússia, ao tomar conhecimento advertiu que a União Europeia (UE) levantou
“sigilosamente” as restrições de armamento ao Governo de Piotr Poroshenko. Por
sua vez John Kirby, porta-voz do Pentágono, afirmou: “É parte dos nossos
esforços para reforçar a capacidade de defesa interna, da Ucrânia”,
confirmando os 19 milhões de US dólares em “ajuda militar” a Kiev.
Kirby explicou que o dinheiro provêm do fundo de reserva de segurança
global e que apenas falta a aprovação do Congresso.
A
Guarda Nacional integra ex-milícias do grupo de extrema-direita,
ultranacionalista, Sector das Direitas, financiado por ONG's da U.E. e
USA. A Guarda Nacional conta também com mercenários da Greystone Limited, uma
filial de Academi (ex-Blackwater). Recentemente, legisladores norte-americanos
apresentaram na Camara dos Representantes um projecto de lei para converter a
Ucrânia em Estado aliado da NATO, sem necessidade de concretizar a adesão
formal, o que permitiria ao Pentágono ampliar o financiamento em
segurança e inteligência. Apoiar a ofensiva de Kiev é "fazer frente aos
passos desestabilizadores da Rússia”, como pretende o representante
democrata de Michigan, Sander Levin, o que custou, até ao momento cerca de meia
centena de civis mortos e mais de 180 mil refugiados. Como se não
bastasse, ganham consistência as denuncias de práticas de “limpeza
étnica” praticada pelo governo ucraniano. Os ataques de Kiev estão
concentrados em Lugansk e Donetsk, onde se encontra uma das principais reservas
de hidrocarbonetos não convencionais da Europa.
Cercar
a Rússia torna-se, assim um bom negócio para o consórcio da NATO, ao mesmo
tempo que o Ocidente do Capital elimina a concorrência e ganha mais um Estado
súbdito.
XI - No Iraque o caos está instalado, desde que Bush pai decidiu auxiliar a camarilha-real do Koweit, invadido pelo bando de Sadam. Bush filho, por sua vez, fez do Iraque o próprio caos. Como o caos é centrífugo, toda a região foi atraída para o caos, criado pelos USA. Iraque, Afeganistão, Síria, Palestina, Líbano e as tentativas de desestabilizar o Irão, a instabilidade no Iémen e no Paquistão, a desestabilização do norte de África (com a destruição da Líbia e as Primaveras), a destruição da Somália, a divisão do Sudão, a instabilidade no Mali e na Republica Centro-Africana (ambas intervencionadas pelo patrão francês, (um velho sócio dos USA, que de vez em quando faz as diabruras) o terrorismo na Nigéria, a desestabilização de toda a África a sul do Sahara (da costa á contracosta), são consequências de factores internos cruzados com factores externos e rentabilizados como grandes plataformas de negócios, cada vez mais lucrativos porque cada vez mais caóticos.
Periferias
em obras, eis o novo slogan, enquanto o centro sofrer os efeitos da deslocação
incerta. Nesse cenário bem preparado, feito de histórias mal contadas e de
sistemáticas deturpações da realidade, o Pentágono anunciou esta semana, o
envio de uma força de intervenção para o Iraque, com o objectivo de impedir o
avanço do califado (outra consequência da "trindade" imperialismo,
neocolonialismo, capitalismo). Aviões norte-americanos efectuaram bombardeamentos
a posições do califado no nordeste do Iraque, que ameaçam a cidade curda de
Erbil. O califado capturou largas áreas do nordeste do Iraque e encontra-se
perto desta cidade, defrontando as milícias curdas.
Entretanto
mais de 40 mil pessoas, da minoria Yazidi permanecem cercadas nas montanhas
Sinjar, junto á fronteira com a Síria. Obama fala em potencial genocídio e as
forças norte-americanas iniciaram uma operação de abastecimento de água e alimentos a estas populações. Numa intervenção televisiva, a partir da Casa
Branca, Obama refere "When we face a situation like we do on that
mountain, with innocent people facing the prospect of violence on a horrific
scale, when have a mandate to help—in this case, a request from the Iraqi
government—and when we have the unique capabilities to help avert a massacre,
then I believe the United States of America cannot turn a blind eye. We can
act, carefully and responsibly, to prevent a potential act of genocide. That’s
what we’re doing on that mountain. I’ve therefore authorized targeted
airstrikes, if necessary, to help forces in Iraq as they fight to break the
siege on Mount Sinjar and protect the civilians trapped there. Already American
aircraft have begun conducting humanitarian airdrops of food and water to help
these desperate men, women and children survive. Earlier this week, one Iraqi
in the area cried to the world, "There is no one coming to help."
Well, today America is coming to help. We’re also consulting with other
countries and the United Nations, who have called for action to address this
humanitarian crisis."
O
regresso dos USA deverá, pois, acontecer nos próximos episódios da novela
iraquiana. Obama, nesta longa mensagem poderia ter poupado saliva se explicasse
aos norte-americanos como é que o califado obteve as armas e o equipamento
militar norte-americano, que apetrecha os seus bandos assassinos...
XII
- Nação construída pela força de trabalho imigrante (o motor do seu
desenvolvimento), os USA são, actualmente, exemplo de tudo o que não deve ser
feito em politica de migração. As autoridades norte-americanas para a imigração
e fronteiras têm um comportamento fascistoide, apenas comparável às suas
corruptas congéneres da América Central, América do Sul e de África. Para além
das incertezas criadas em torno de uma reforma legal que termine com o pesadelo
das políticas racistas e xenófobas do Estado, a Casa Branca não mostrou até
agora a vontade politica que estabelecesse uma política para a imigração. Dali
apenas saem drones para patrulhar a fronteira, leis repressivas e
discriminatórias, que alimentam os bandos de narcotráfico e de tráfico de
pessoas.
Um
porta-voz da Casa Branca para os assuntos da imigração, Dan Pfeiffer,
afirmou que o presidente Obama tomará uma decisão antes do final do Verão, sobre
a problemática que enfrentam milhões de imigrantes indocumentados. Existe, no
entanto, um conflito entre o Executivo e o Legislativo em torno desta
problemática, agravado desde a detenção de mais de 52 mil menores de idade que
tentavam passar a fronteira, sem acompanhamento dos pais ou de adultos.
Obama responsabiliza o Capitólio por não aprovar modificações no sistema, mas o
que é um facto é que este e todos os assuntos de política social morrem nessa
farsa do conflito institucional, em que Obama e os democratas fazem o papel de
polícia bom e os republicanos de polícia mau. O anúncio de que Obama, por
fim, fará algo sobre os problemas que enfrentam milhões de imigrantes é
encarado por estes com um misto de esperança e desconfiança.
Saltam
á vista diversas áreas em que seria possível e necessária uma intervenção do
Executivo -mesmo sem contar com uma reforma legislativa -para humanizar
as condições dos imigrantes e um acompanhamento do fluxo migratório.
Bastaria, por exemplo, que Obama recorresse das suas competências
constitucionais para atenuar o sofrimento dos imigrantes, alterando
procedimentos do actual sistema, suficiente para aumentar o respeito pelos
direitos humanos, por parte dos funcionários das fronteiras (muitas vezes
elementos de milícias da extrema-direita, que patrulham as fronteiras á caça de
imigrantes nas horas vagas).Para chegar aos USA os centro-americanos
atravessam um inferno chamado México (é bom não esquecer que fogem ao inferno
da miséria e da exclusão, que são os seus países de origem). As violações,
roubos e assassinatos fazem parte de um itinerário do qual só podem
sair ilesos com muita boa sorte. O inferno mexicano (e recordo que o
México é um estado súbdito de Washington) é agora agravado pela decisão da
oligarquia mexicana, que para agradar aos seus suseranos do Norte, decidiram
expulsar os imigrantes indocumentados, em transito, atirando-os para os braços dos barões do crime, compadres da oligarquia e
sócios na venda da Pátria mexicana aos "gringos".
Os
imigrantes, que outrora foram a fonte primordial do sonho americano, sofrem na
pele, agora, o pesadelo em que o capitalismo mergulhou a América. Os USA foram
transformados em
insónia. Nem Hollywood já produz sonhos. O sonho único,
repetitivo e descolorido, o American Dream, oprime todos os sonhos e impede o
Homem de sonhar. As películas que hoje Hollywood produz focam,
maioritariamente o fim do mundo. Um asteróide destrói toda la vida, uma
epidemia transforma-nos em Zombies etc.. Será que ao invés do fim do
mundo e da extinção da espécie, já não temos capacidade para sonhar com o fim
do capitalismo? Ou será que Hollywood tem medo do seu próprio fim, uma vez que
num mundo livre para sonhar, não são necessários vendedores de ilusões...nem
mercenários ou vendedores de recursos e de terras alheias...
O
mundo com que os Homens sonham não comportará apenas 1% de bem instalados. Até
porque os sonhos que a Humanidade constrói implicam o bom viver para toda a
espécie humana, são sonhos a 100%. Ou não fosse o Homem movido por sonhos…
Fontes
Tocqueville,
A. De la Democratie
en Amérique Gallimard, Paris, 1967
Mencken,
H.L. Os Americanos Antigona, Lisboa, 2005
Fulbright,
W. The arrogance of Power Random House, Washington, 1967
Tuchman,
B. The Proud Tower Macmillan, New York, 1966
Chomsky,
N. Democracy and Markets in the New World Order Duke University Press, Duke,
1994
Chomsky
N. World Orders, Old and New Columbia University Press, 1994.
Bairoch,
P. Economics and World History Chicago University Press, 1993.
El
barrio antiguo, 03/ 08/2014
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