sábado, 16 de agosto de 2014

NITO ALVES 1 – REGIME 0: JULGAMENTOS POLITICAMENTE ENCOMENDADOS DÃO ZEBRA


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Folha 8, 16 agosto 2014

O jovem acti­vista Manuel “Nito” Alves foi absolvido pelo Tribunal de Viana, da acusação de injúrias ao Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, por falta de provas, informou a defesa. Como o Presidente da Repúbli­ca prefere ser assassinado pelo elogio do que salvo pela crítica, lá vai indo de vitória em vitória até à… derrota final.

O jovem, à data com 17 anos, foi detido em Luanda a 12 de Setembro de 2013 e libertado ao fim de dois meses. As autoridades ale­garam “ultraje ao Presiden­te”, por ter encomendado a impressão de camisolas em que apelidava José Eduardo dos Santos de “di­tador nojento”, para serem utilizadas numa manifesta­ção anti-regime.

O advogado de defesa, Da­vid Mendes, disse que “a acusação não ficou com­provada - a publicitação das camisolas que foram produzidas - que era ele­mento fundamental para que houvesse o crime”.

Segundo o causídico, o crime exigia publicitação e não apenas actos prepa­ratórios, porque “a própria lei dos crimes militares diz que os actos preparatórios desse tipo de crimes não são puníveis”.

David Mendes referiu que a sua absolvição foi justa e que, “desde o primeiro dia” insistiu nas suas alegações que “não estavam comple­tos os elementos do tipo de crime”.

“Todas as pessoas quando são absolvidas sentem-se bem e acho que é o esta­do em que ele se encon­tra, mas fizemos observar também, que embora haja liberdade de expressão, garantida na Constituição, há que se acautelar como se dirige às pessoas”, frisou David Mendes.

“Porque as pessoas tam­bém têm o direito ao bom nome e à honra. Então, sempre que estivermos a fazer uso do nosso direito de liberdade de expressão temos que ter em conta que não podemos ofender a honra nem a dignidade das pessoas”, exortou o ad­vogado que integra a asso­ciação Mãos Livres.

Desde a sua libertação, em Novembro passado, Ma­nuel “Nito” Alves estava com termo de identidade e residência, tendo participa­do a 27 de Maio, em Luan­da, numa manifestação anti-regime agendada por jovens revolucionários, a qual foi travada pela inter­venção policial.

O jovem activista incorria, neste processo, numa pena que vai dos seis meses aos três anos de prisão, pelo crime de injúria.

Esta vitória dos que tei­mam em dizer o que pen­sam, não significa que o regime esteja a mudar ou, inclusive, esteja a respeitar a Constituição da Repúbli­ca. Pelo contrário. Quando meia dúzia de jovens que­rem manifestar-se de for­ma pacífica e são tratados de forma selvagem, caniba­lesca e hitleriana, que indi­cação está o Governo a dar ao Povo?

Quando, recorde-se sem­pre que for necessário, Manuel de Victória Perei­ra, dirigente do Bloco De­mocrático e sindicalista, é barbaramente agredido, física e psicologicamente (“branco de merda”, por exemplo), só porque ten­tou ajudar um seu jovem compatriota que estava a ser agredido pela Polícia numa bomba de combus­tível na zona de concentra­ção dos manifestantes, na qual nem sequer iria parti­cipar, o que quer o regime?

O regime acredita que com a barriga vazia, famintos e acorrentados, os escravos nunca se rebelarão. Está enganado. Mesmo que estejam a dar o último es­tertor, haverá sempre for­ça para puxar o gatilho e depois morrerem… livres. É isto que muitos pensam, mas que poucos dizem.

Por muito bem blindado que esteja, e está, na sua cápsula de “escolhido de Deus”, José Eduardo dos Santos sabe que a casa está a arder e que, de um momento para o outro, a implosão reduzirá a cinzas um país, o nosso país, que teve tudo – que ainda tem tudo - para ser um exem­plo em África. O Presiden­te pode pensar que os rios nascem na foz e desaguam na nascente. E, pelos vistos, os únicos que lhe dizem que corre o sério risco de ser “comido” pela enxurra­da são os jovens activistas.

Eduardo dos Santos fa­zia bem em ouvir o que têm para dizer entre ou­tros, Raul Mandela, An­tónio Camilo, Pedrowski Teca, Manuel Chivongue Nito Alves, Adolfo Cam­pos, Emiliano Catombela, McLife Bunga, Agostinho Pensador e Abrão Cativa.
Mas como o Presidente prefere ser assassinado pelo elogio do que salvo pela crítica, lá vai indo de vitória em vitória até à… derrota final.

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