segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Portugal: Estado contrata Sérvulo Correia (CDS) para assessoria no caso dos Pandur



João D' Espiney – jornal i

Ministério e PGR remetem-se ao silêncio quase dois anos depois de o governo ter denunciado o contrato e quatro após a PGR ter confirmado uma investigação à compra das viaturas blindadas

A Direcção-Geral do Armamento e Infra-estruturas da Defesa (DGAIED) contratou no final de Julho a Sérvulo & Associados para "consultadoria jurídica" no âmbito do tribunal arbitral que foi criado para dirimir o conflito em torno do contrato de compra das viaturas blindadas Pandur.

O contrato, publicado no portal Base (http://www.base.gov.pt/base2/rest/documentos/58559), tem um preço máximo de 175 mil euros (mais IVA), sendo "o preço/hora de 145 euros" (mais IVA) - encargos estes pagos "pelas verbas da Lei de Programação Militar" -, e "mantêm-se em vigor" até ao final do ano "sem prejuízo das obrigações acessórias que devam perdurar para além da cessão do contrato e retroage a 1 de Janeiro deste mesmo ano".

O i tentou obter mais informações junto do porta-voz do ministro da Defesa, nomeadamente, quando é que o tribunal arbitral foi constituído e o que esperam obter deste processo, mas até à hora de fecho desta edição não foi possível obter resposta.

A contratação desta sociedade de advogados ocorre quase dois anos depois de o governo ter anunciado que iria denunciar o contrato assinado em 2005 com a empresa austríaca Steyr (comprada em 2003 pelo grupo General Dynamics), devido "às reiteradas violações do contrato, ao nível do cronograma de pagamentos e do calendário de entregas por parte do fornecedor".

A 14 Dezembro de 2012, o ministro da Defesa chegou a afirmar que o Estado deveria receber nesse dia a "garantia bancária" de 55 milhões de euros resultante da denúncia do contrato. "Creio que hoje mesmo [a garantia bancária] irá ser objecto de transferência" para o Estado Português, disse na altura, referindo que se tal não acontecer haverá "todo um procedimento judicial, que terá de ocorrer".

O contrato, negociado pelo governo de Durão Barroso e Paulo Portas, previa a entrega de 260 viaturas blindadas de rodas 8x8, 240 das quais destinadas ao Exército e 20 à Marinha por um valor global (incluindo contrapartidas) de 516 milhões de euros. "Ao fim de cinco anos de execução contratual o Estado português já devia dispor, em condições de operação, de 166 viaturas e recebeu apenas 21 nessas condições", comentava em 2010 o então ministro da Defesa socialista, Augusto Santos Silva, que já na altura falava na possibilidade de denunciar o contrato.

PGR REMETE-SE AO SILÊNCIO 

Em Agosto de 2010, a Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou que estava a investigar o processo de compra das viaturas blindadas Pandur, na sequência de elementos fornecidos pelo Tribunal de Contas. "Relativamente à aquisição de veículos Pandur, o Departamento de Investigação e Acção Penal está a analisar os elementos recolhidos no processo do Tribunal de Contas para efeitos de decisão sobre se há factos penalmente relevantes que exijam a instauração de inquérito autónomo", afirmou à agência Lusa uma fonte da PGR.

Na terça-feira passada, o i questionou o gabinete da procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal, sobre se a investigação tinha dado origem a algum inquérito e se tinham sido constituídos arguidos neste processo mas até à hora de fecho desta edição não recebeu nenhuma resposta.

Em Março deste ano, e a pedido do PS, a Assembleia da República aprovou a constituição de uma comissão parlamentar de inquérito aos programas relativos à aquisição de equipamentos militares, entre os quais os Pandur II, os submarinos e os aviões F16.

Nos termos da resolução aprovada, a comissão pretende, entre outros objectivos, "apurar com rigor os encargos decorrentes dos compromissos financeiros assumidos pelo Estado português; apurar e identificar as obrigações de prestação de contrapartidas assumidas pelos fornecedores e apreciar o seu actual grau de execução e cumprimento; assegurar o integral esclarecimento sobre a responsabilidade, por acção ou omissão, dos intervenientes na celebração destes contratos".

Leia mais em jornal i

Sem comentários:

Mais lidas da semana