Aécio Neves
concentra um número cada vez maior de eleitores que não votariam nele de jeito
nenhum
Altamiro
Borges, São Paulo – Correio do Brasil, opinião
Aécio Neves
está embriagado com os números do último Datafolha. Já alguns “calunistas” da
mídia, que detestam a “lulopetista” Dilma Rousseff, mas não confiam plenamente
na “ex-petista” Marina Silva, soltam rojões e garantem que a reação do
cambaleante tucano é inevitável. Toda esta euforia, porém, não se justifica e
pode virar uma baita ressaca. O Datafolha divulgado nesta sexta-feira apontou
um aumento de apenas dois pontos percentuais nas intenções de voto do
presidenciável do PSDB – ou seja, dentro da margem de erro. Ele subiu para 17%
e ainda está distante dos 21% que ostentava antes da trágica morte da Eduardo
Campos e da “providência divina” de Marina Santos.
Os
apostadores do “mercado eleitoral” – e também os agiotas do mercado financeiro
– tentam criar um clima favorável a cada pesquisa. Não é para menos que elas já
viraram uma indústria, com uma nova sondagem a cada dois dias. Isto permite
enricar os donos dos institutos, arrecadar mais grana para as campanhas e
embolsar mais dinheiro na Bolsa de Valores. Os marqueteiros e os políticos
fisiológicos ficam mais ricos – e os rentistas, ainda mais. Dois dias antes do
Datafolha, o Ibope – do trambiqueiro Carlos Augusto Montenegro – já havia
jurado que Aécio Neves estava em
alta. A pesquisa, muito estranha, serviu
para abortar o movimento pela renúncia do cambaleante tucano e para valorizar o
seu passe.
Tentativa
de conter a sangria
As
duas sondagens revelam, no máximo, uma fotografia do momento e não justificam
tanta alegria do presidenciável do PSDB. Ela é falsa! Nos últimos dias, Aécio
Neves só teve péssimas notícias. Até o coordenador-geral da sua campanha, o
demo Agripino Maia, apunhou o tucano pelas costas ao antecipar o apoio a Marina
Silva. Marconi Perillo e Beto Richa, governadores de Goiás e do Paraná,
respectivamente, também bateram suas asas tucanas para a candidata-carona do
PSB. Já o ex-presidente FHC, mentor do folião mineiro, andou se encontrando com
o velho amigo Walter Feldman, o ex-tucano que hoje coordena a campanha da
ex-verde. O cenário era de uma overdose de coisas ruins para Aécio Neves.
Jornalistas
mais críticos, menos chapa-branca, já apontavam os obstáculos da sua
candidatura. Em artigo no Estadão de segunda-feira, Julia Duailibi revelou os
dilemas dos tucanos. “Nos bastidores do PSDB, principalmente na ala paulista,
as principais lideranças do partido já discutem o caminho que o partido deve
tomar caso Aécio não passe para o segundo turno, cenário mais provável hoje… Há
uma ala que rechaça Marina, a considera uma aventura e que diz que sairá do
partido caso o PSDB declare apoio à candidata. Outra vê a possibilidade de
derrotar o PT como o principal caminho a ser tomado pela legenda. Segundo
aliados, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso seria favorável ao apoio a
Marina”.
Volta
para Minas, Aécio!
E
até jornalistas menos independentes, como Fernando Rodrigues, já tinham
enterrado Aécio Neves. Em artigo no seu blog hospedado na Folha, ele decretou:
“Aécio só tem uma saída: dedicar-se a Minas Gerais”. Para ele, o presidenciável
tucano não tem qualquer possibilidade de reação e corre o risco de perder o
governo mineiro. “Se perder no próprio Estado, Aécio fica fragilizado dentro do
PSDB para 2018” .
Seu pessimismo teve como base a pesquisa do Ibope, que deu um índice maior de
aprovação ao tucano. “Os 19% para o presidenciável do PSDB são insuficientes
para sonhar com o segundo turno”. Imagine, então, com os 17% dados pelo
Datafolha, que pertence ao mesmo grupo empresarial em que trabalha?
“O
resultado do Ibope não deixa opções para o candidato a presidente pelo PSDB,
Aécio Neves: o tucano está quase obrigado a retornar para seu Estado natal para
não sofrer uma derrota humilhante entre os mineiros. Segundo o Ibope, o
candidato do PT a governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, tem 43% de
intenções de voto. O nome do PSDB, Pimenta da Veiga, tem apenas 23%, ou seja,
20 pontos a menos do que o petista. É verdade que Aécio Neves está com honrosos
19% na pesquisa Ibope, mas continua muito distante de Dilma Rousseff (PT) e de
Marina Silva (PSB). Ocorre que esses 19% são a mesma pontuação que o tucano
tinha no final de agosto no Ibope. Ou seja, ele não saiu do lugar”.
Esqueceram
do cambaleante
Estes
e outros diagnósticos mais sensatos, menos tucanos, confirmam que a situação de
Aécio Neves é dramática e que nada justifica a euforia do candidato e de alguns
“calunistas” da mídia. Há também outras cenas curiosas que servem como
bafômetro para conter a embriagues. Na semana passada, um grupo de artistas
divulgou um manifesto de apoio a Geraldo Alckmin e José Serra, candidatos ao
governo e ao Senado por São Paulo. O evento “festivo” ocorreu na Livraria
Cultura. Curiosamente, o manifesto não citou o presidencial do PSDB uma única
vez. “O maestro Amilson Godoy [líder do movimento] atribuiu o ‘esquecimento’ de
Aécio a um erro de digitação”, relatou o Estadão. Hilário!
Além
da pesquisa redentora, a única boa notícia para o presidenciável tucano nos
últimos dias é que ele ainda conta com o apoio das madames decrépitas de São
Paulo. Segundo a Folha tucana, “após a subida de Aécio em pesquisa, socialites
atacam o voto útil em Marina” e reforçam a campanha do senador mineiro. O
relato da jornalista Lígia Mesquita mostra bem a mentalidade tacanha e
reacionária da elite paulista e vale a pena ser reproduzida:
*****
“Acho
absurdo (quem escolhe o voto útil). O pessoal estava votando na Marina no 1°
turno de medo que a Dilma [pausa]… achando que a Marina fosse a única opção!
Agora, a gente tá vendo que o Aécio é a opção”, dizia a ex-primeira-dama
paulista Deuzeni Goldman na saída de um encontro de mulheres com o candidato à
Presidência Aécio Neves (PSDB), nesta quarta-feira (17), em São Paulo.
Animadas
com a subida de quatro pontos do presidenciável tucano na pesquisa Ibope
divulgada na noite anterior, Deuzeni e muitas das socialites que compareceram
ao Diretório Estadual do PSDB aproveitaram para criticar parte do eleitorado do
partido que está optando por Marina Silva (PSB).
A
escolha pelo voto útil na pessebista, à frente de Aécio nas pesquisas, seria,
na visão desses eleitores, a única opção para derrotar a presidente Dilma
Rousseff (PT).
“Ainda
temos 18 dias até a eleição. Se o Aécio encostar na Dilma, ele ganha. Esta
eleição é de oposição ao PT”, comentava Regina Martinez, na plateia.
Segundo
a relações-públicas, a vontade de renovar o governo faz com que “o pessoal
pegue qualquer coisa para derrotar o PT”. “Até acredito que os brasileiros
estejam comovidos com a situação da Marina, que falem olha os destinos de Deus,
o avião [de Eduardo Campos] caiu’. Mas muitos que votam na Marina não sabem quais
são os programas dela.”
Para
a economista Eliandra Mendes, que participou na semana passada de encontro com
coordenadores da campanha de Marina Silva, é “lamentável” a opção pelo voto
útil. “Nós não votamos por convicção, mas por exclusão. É uma pena porque a
gente tá falando da nossa vida, de nossos filhos.”
A
empresária Esther Schattan, que também esteve no encontro com a equipe
pessebista, disse à Folha na semana passada que poderia cogitar um voto útil.
Depois do encontro com Aécio, mudou o discurso. “Eu pensava [assim]. Mas nesse
primeiro turno podemos expressar nossa vontade”, afirma.
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