Começaram
a chegar a Maputo os observadores internacionais que vão fiscalizar o
cessar-fogo e desarmamento em Moçambique. A RENAMO diz que não tem nada a
esconder. Analistas esperam que partido cumpra o prometido.
Para
Albino Forquilha, entendido em desarmamento e reintegração, só resta confiar na
boa fé do maior partido da oposição.
"A
garantia que existe, de facto, é a expressa vontade da própria RENAMO, que
consta do memorando de entendimento assinado agora", diz o diretor da
FOMICRES - Força Moçambicana para a Investigação de Crimes e Reinserção Social.
"Em termos práticos, temos notado que há muitos soldados da RENAMO,
aqueles que ainda se encontram nas matas, com vontade de depor as suas armas e
seguir a sua vida normal."
Mas
Albino Forquilha também está ciente de que, ainda assim, há o risco da RENAMO
não entregar todo o armamento em seu poder, tal como está previsto no acordo do
fim das hostilidades, assinado entre a RENAMO e o Governo em agosto passado.
O
receio agora, em caso de um desarmamento mal feito, é de que, num eventual
momento de tensão, tal armamento seja utilizado, tal como terá sido no último
conflito.
RENAMO
diz que não tem nada a esconder
Mas
o principal partido da oposição considera que a estabilidade e paz não dependem
do desarmamento. "A questão fundamental está no respeito mútuo entre as
partes", diz o porta-voz do partido, António Muchanga, à DW África.
"Quando houver respeito mútuou entre as partes, acredito que, mesmo que as
armas estejam ao dispor, ninguém as vai usar."
Ao
mesmo tempo, Muchanga garante que a RENAMO nunca escondeu armamento. O
porta-voz do partido diz que "o armamento da RENAMO está registado e é
conhecido pela ONUMOZ [a missão das Nações Unidas que monitorizou o cessar-fogo
após o Acordo Geral de Paz de 1992]. As armas de 1992 já apodreceram todas,
nenhuma pode disparar. Agora, as armas que a RENAMO tem são armas que arrancou
às Forças Armadas quando elas atacaram os homens da RENAMO. Eles próprios sabem
disso."
Por
outro lado, António Muchanga nega a existência de arsenais clandestinos da
RENAMO. "Temos armas que estão com os homens, que se estão a defender com
elas, não há nenhum arsenal escondido aqui", diz.
Riscos
Apesar
da garantia da RENAMO, a FOMICRES reconhece que há um risco do partido não vir
a declarar e entregar todas as suas armas.
"Esse
risco existe e estamos a contar com ele, porque os homens que estavam neste
momento na zona de conflito, na província de Sofala, mas também em Nampula,
Tete, Inhambane, não representam o número total dos homens da RENAMO que
esperam beneficiar de alguns benefícios da paz em Moçambique", diz Albino
Forquilha. "Na minha ótica, é um número muito ínfimo. Querer, de facto,
criar condições para uma paz duradoura em Moçambique passa necessariamente por
reconhecer que este grupo é apenas um que possa ser representante de muita
gente com as mesmas preocupações."
Para
supervisionar o acordo e o respetivo desarmamento, começaram a chegar à capital
moçambicana, Maputo, nesta terça-feira (09.09), 23 observadores internacionais
provenientes do Botswana, Zimbabué, África do Sul, Quénia, Cabo Verde,
Portugal, Itália, Grã-bretanha e Estados Unidos da América. Estes irão juntar-se
a outros 70 observadores nacionais, 35 da RENAMO e 35 do Governo. Mas fora a
supervisão de técnicos abalizados existe a população que tem um contributo a
dar, principalmente a que de alguma forma esteve próxima do conflito, lembra o
responsável da FOMICRES, Albino Forquilha.
"É
preciso envolver as comunidades moçambicanas porque elas sabem onde está
escondido armamento. Podem ter um familiar que foi militar, que tem falado
disso ou que até tem esse armamento", diz Forquilha. "Esses dados
podem facilitar a planificação do próprio Estado moçambicano para este processo
de reintegração mas também de desarmamento dos homens da RENAMO."
Após
os acordos de paz, a população não foi envolvida no processo de desarmamento da
RENAMO. Apenas agora, depois do último conflito, ela pode vir a cooperar para
um desarmamento melhor sucedido.
Para
que o atual acordo do fim das hostilidades seja convertido em lei serão gastos
cerca de 17 milhões de dólares. O Parlamento deve aprovar nos próximos momentos
a proposta de lei submetida pelo Presidente da República, Armando Guebuza, para
a apreciação.
Por
outro lado todo este processo de desarmamento acontece quando nem o processo de
desmobilização dos homens da RENAMO começou.
Nádia
Issufo – Deutsche Welle
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