Jornal de Angola, editorial
A
pandemia do ébola, que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), já matou
até ao final da semana passada 2.288 pessoas na Guiné Conacri, Serra Leoa e
Libéria, os países mais afectados pela doença, tem mobilizado a comunidade
internacional para o combate a um problema com implicações directas e
indirectas na vida política, económica e social de vários Estados de África.
O
actual surto de ébola não é apenas um problema que diz exclusivamente respeito
aos países afectados, até porque a rapidez com que a doença se propaga é tal
que muitos outros Estados podem vir a registar casos da doença, o que tem
levado membros de Organizações Não Governamentais, como os “Médicos Sem
Fronteiras”, a enfrentar incansavelmente a doença para salvar vidas humanas e
evitar que esta tenha repercussões maiores, mesmo correndo o risco, que é
elevado, de serem contagiados. É encorajador por exemplo ouvir palavras
como as que foram pronunciadas pelo director de operações dos “Médicos
Sem Fronteiras”, segundo as quais “nós permanecemos na primeira linha
contra a doença.” Há já heróis na luta contra o ébola. Trata-se de
profissionais da Saúde, médicos e enfermeiros de regiões afectadas, e que
morreram no desempenho da missão de curar pessoas com o vírus do ébola. A
organização Mundial da Saúde traçou recentemente um quadro preocupante da
situação da propagação do ébola, tendo avisado num relatório que podem vir a
registar-se milhares de novos casos nas próximas semanas.
A afirmação mais dramática, a propósito da pandemia, terá sido a que foi proferida pelo ministro da Defesa da Libéria, Brownie Samukai, perante o Conselho de Segurança da ONU, alertando a comunidade internacional para a ameaça que representa o ébola. “A existência da Libéria está seriamente ameaçada pelo ébola, que se espalha como fogo e destrói tudo o que aparece pelo caminho”, disse o ministro da Defesa liberiano, que referiu ainda que o ébola “interrompeu o funcionamento normal do Estado”. Por sua vez, a representante do secretário-geral da ONU na Libéria, Karin Landgren, disse que os habitantes (da Libéria) enfrentam a maior ameaça desde a guerra civil.
As consequências da pandemia já se têm sentido em África, e até em países que estão situados a muitos milhares de quilómetros das regiões afectadas. É o caso de uma delegação de homens de negócios de um país da América do Sul que suspendeu uma viagem a Windhoek, capital da Namíbia, que não regista até ao momento nenhum caso de ébola. O vírus do ébola tem suscitado medo, havendo países que tomam medidas que vão no sentido da suspensão de ligações aéreas e marítimas com os países afectados, o que está a impedir as trocas comerciais e o desenvolvimento normal de actividades económicas e o socorro célere dos doentes. Há o entendimento de que o isolamento internacional das regiões afectadas pelo ébola só piora a situação dos países com um elevado número de casos, estando a ONU e a União Africana a apelar constantemente à solidariedade internacional com os doentes. Em face da gravidade da situação, o secretário-geral da ONU, Ban Kim-moon, quer uma reunião de alto nível para se discutir uma resposta global ao surto de ébola durante os debates na Assembleia Geral da ONU, que começam em 24 de Setembro próximo.
Há esperança de que, estando a pandemia do ébola na agenda de organizações
internacionais como a ONU e a União Africana, se venha a reunir esforços
diversos para conter o surto, particularmente por parte daqueles países com
capacidade para fornecer massivamente medicamentos para o combate ao
vírus, como o ZMapp, um cocktail de anticorpos em fase experimental, mas
cuja utilização em doentes foi autorizada pela OMS, tendo produzido resultados
positivos. Há informações de que em Agosto três médicos com ébola (dois
liberianos e um nigeriano ), que receberam o cocktail de anticorpos melhoraram
consideravelmente. Há o entendimento de que o isolamento internacional das regiões
afectadas pelo ébola só piora a situação dos países com um elevado número de
casos, estando a ONU e a União Africana a apelar constantemente à solidariedade
internacional com os doentes. O ideal é que os líderes de todo o mundo
tomem uma posição em relação ao ébola, viabilizando com actos concretos medidas
que tornem eficazes a luta contra a pandemia, sobretudo em África, onde a
doença atinge proporções que requerem assistência numa escala que contribua
para travar a sua propagação e para erradicá-la. Se os efeitos da doença não
têm precedentes no mundo, cabe aos Estados unir-se, como sugeriu o
secretário geral da ONU, numa ampla parceria internacional, de que façam
parte governos, o sector privado, Organizações Não Governamentais e
instituições académicas.
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