quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Portugal - Caso BES. Passos diz que Cavaco não soube mais porque não quis



Ana Sá Lopes – jornal i

O primeiro-ministro afirma que o Presidente da República "teve oportunidade de colocar todas as questões pertinentes e aclarar tudo"

O primeiro-ministro demorou três dias a responder às suspeitas sobre a falta de informação no caso BES que o Presidente lhe lançou no domingo passado, mas fê-lo com estrondo, na Fundação Champalimaud, numa cerimónia onde também estava o próprio Cavaco Silva.

"Tive o cuidado de informar o senhor Presidente da República de tudo o que era importante e relevante neste caso. Tenho a certeza que o senhor Presidente da República teve ocasião de colocar todas as questões pertinentes e de aclarar tudo o que fosse necessário", afirmou o primeiro-ministro. Tradução: para Passos Coelho, se Cavaco Silva não soube mais sobre o caso BES é porque não quis - ou não soube "colocar todas as questões pertinentes".

"Eu próprio tive ocasião de informar o senhor Presidente da República de tudo aquilo que era relevante e importante no desenvolvimento deste caso e, dado que pelo menos uma vez a meu pedido, o próprio governador do Banco de Portugal teve ocasião de informar o senhor Presidente da República sobre esta matéria, tenho a certeza que o senhor Presidente da República teve plena ocasião para colocar todas as questões que entendia pertinentes para aclarar o que fosse necessário sobre estas matérias", continuou Passos.

Assim, o primeiro-ministro diz que interpreta a bomba lançada por Cavaco Silva no domingo - onde insinuou que lhe teria sido ocultado alguma informação por parte do governo - como um singelo statement de um titular de um órgão de soberania sem funções executivas. "Li as declarações do senhor Presidente da República e pareceu-me que elas evidenciavam a preocupação do Presidente mostrar que não é uma parte directa, activa em processos desta natureza, porque como todos nós sabemos o Presidente da República não tem poderes executivos." No domingo, em Arganil, Cavaco Silva usou uma expressão que induziu a suspeita sobre se o governo teria, efectivamente, comunicado todas as informações sobre o BES ao chefe de Estado. "O Presidente da República não tem ministérios, não tem serviços de execução de políticas, não tem serviços de fiscalização ou de investigação e, portanto recebe toda a informação das entidades oficiais", disse Cavaco. O Presidente da República "espera que logo que o governo tenha conhecimento de factos relevantes não deixe de [lhe] comunicar", e espera que "tenha acontecido assim - porque é o que resulta da Constituição". "O Presidente da República é informado em primeiro lugar pelo governo e é a essa informação que atribui mais importância", disse Cavaco Silva.

Desde que Miguel Reis, advogado dos pequenos accionistas do BES, disse em entrevista ao i que "houve clientes que foram convencidos a investir no BES por causa das declarações de Cavaco" que o Presidente da República se tem esforçado para se distanciar de responsabilidades no caso BES. Logo a seguir à entrevista, fez publicar no seu site oficial a transcrição das suas declarações sobre o BES, evidenciando que o que disse era sustentado em informações do Banco de Portugal. A seguir, lançou suspeita sobre a cabal informação que lhe foi dada pelo governo.

Foto: Hugo Correia / Reuters

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