Ana
Sá Lopes – jornal i
O
primeiro-ministro afirma que o Presidente da República "teve oportunidade
de colocar todas as questões pertinentes e aclarar tudo"
O
primeiro-ministro demorou três dias a responder às suspeitas sobre a falta de
informação no caso BES que o Presidente lhe lançou no domingo passado, mas
fê-lo com estrondo, na Fundação Champalimaud, numa cerimónia onde também estava
o próprio Cavaco Silva.
"Tive
o cuidado de informar o senhor Presidente da República de tudo o que era
importante e relevante neste caso. Tenho a certeza que o senhor Presidente da
República teve ocasião de colocar todas as questões pertinentes e de aclarar
tudo o que fosse necessário", afirmou o primeiro-ministro. Tradução: para
Passos Coelho, se Cavaco Silva não soube mais sobre o caso BES é porque não
quis - ou não soube "colocar todas as questões pertinentes".
"Eu
próprio tive ocasião de informar o senhor Presidente da República de tudo
aquilo que era relevante e importante no desenvolvimento deste caso e, dado que
pelo menos uma vez a meu pedido, o próprio governador do Banco de Portugal teve
ocasião de informar o senhor Presidente da República sobre esta matéria, tenho
a certeza que o senhor Presidente da República teve plena ocasião para colocar
todas as questões que entendia pertinentes para aclarar o que fosse necessário
sobre estas matérias", continuou Passos.
Assim,
o primeiro-ministro diz que interpreta a bomba lançada por Cavaco Silva no
domingo - onde insinuou que lhe teria sido ocultado alguma informação por parte
do governo - como um singelo statement de um titular de um órgão de soberania
sem funções executivas. "Li as declarações do senhor Presidente da
República e pareceu-me que elas evidenciavam a preocupação do Presidente
mostrar que não é uma parte directa, activa em processos desta natureza, porque
como todos nós sabemos o Presidente da República não tem poderes
executivos." No domingo, em Arganil, Cavaco Silva usou uma expressão que
induziu a suspeita sobre se o governo teria, efectivamente, comunicado todas as
informações sobre o BES ao chefe de Estado. "O Presidente da República não
tem ministérios, não tem serviços de execução de políticas, não tem serviços de
fiscalização ou de investigação e, portanto recebe toda a informação das
entidades oficiais", disse Cavaco. O Presidente da República "espera
que logo que o governo tenha conhecimento de factos relevantes não deixe de
[lhe] comunicar", e espera que "tenha acontecido assim - porque é o
que resulta da Constituição". "O Presidente da República é informado
em primeiro lugar pelo governo e é a essa informação que atribui mais
importância", disse Cavaco Silva.
Desde
que Miguel Reis, advogado dos pequenos accionistas do BES, disse em entrevista
ao i que "houve clientes que foram convencidos a investir no BES
por causa das declarações de Cavaco" que o Presidente da República se tem
esforçado para se distanciar de responsabilidades no caso BES. Logo a seguir à
entrevista, fez publicar no seu site oficial a transcrição das suas declarações
sobre o BES, evidenciando que o que disse era sustentado em informações do
Banco de Portugal. A seguir, lançou suspeita sobre a cabal informação que lhe
foi dada pelo governo.
Foto: Hugo Correia / Reuters
Foto: Hugo Correia / Reuters
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