quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Portugal: NÃO HÁ EMPREGO NEM HÁ FUTURO



Rafael Barbosa – Jornal de Notícias, opinião

1 - De acordo com a propaganda governamental, o país já está a virar a página. O desemprego já desce (o que não é sinónimo de emprego a crescer), o défice público cumpre-se (ainda que isso se fique a dever à sobrecarga de impostos sobre trabalhadores e consumidores), o Produto Interno Bruto já sobe (ainda que com valores mais anémicos a cada mês que passa). Sempre que alguns destes indicadores dão uma ajuda, não faltam candidatos a deitar foguetes e apanhar as canas. A começar por Passos Coelho e Paulo Portas.

Pena que nenhum deles pareça interessado em comentar o último relatório da OCDE sobre o impacto da crise no ensino e no acesso ao mercado de trabalho. O que se passou até ao final de 2012 resume-se nisto: disparou para quase 17% o número de jovens entre os 15 e os 29 anos que não estudam, nem trabalham (são os jovens da geração nem-nem); disparou para mais de 11% o número de desempregados licenciados; o investimento em educação, bem como o custo por aluno no Ensino Superior, caiu para o fundo da tabela dos países desenvolvidos; os salários dos professores desceram 16%; as baixas qualificações dos portugueses continuam a bater recordes. Convém lembrar que 2013 conseguiu ser um ano mais negro do que 2012. E que em 2014 se manteve o miserabilismo. Se este relatório da OCDE já deveria ser suficiente para fazer corar de vergonha os nossos governantes, o do próximo ano arrisca-se a revelar uma realidade catastrófica. Infelizmente já não para o futuro do Governo, mas para o futuro do país.

2 - Bastou uma sondagem a dar como certa a vitória do "sim" à independência da Escócia e os ingleses entraram em pânico. Ou melhor, a "City" (centro financeiro global sediado em Londres) e o regime político entraram em pânico. Afinal de contas, os escoceses não são apenas conhecidos pelos kilts de padrões coloridos, consoante o clã. É também do seu Mar do Norte que se extrai uma considerável quantidade de petróleo. Ainda por cima "brent", aquele tipo de petróleo de boa qualidade que serve de referência para fixar preços a nível mundial. Os líderes dos partidos do "arco do poder" britânico (lá como cá) esqueceram divergências e foram em peregrinação coletiva para lá da muralha de Adriano. Ainda que resulte, não deverá ser apenas mais do que um adiamento. O enfraquecimento dos estados é um fenómeno imparável. Haverá de seguir-se a Catalunha, como o País Basco, da mesma forma que a Valónia e a Flandres (Bélgica) são já praticamente dois países diferentes. Sendo que nenhum destes povos é suicida: reclamam autogoverno (a força do local) com a mesma convicção que reclamam manter-se na União Europeia (a força do global). Esperemos que mais cedo do que tarde esta discussão regresse também a Portugal. A do autogoverno regional, não necessariamente a da independência.

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