terça-feira, 2 de setembro de 2014

Quase 90% 'chumbou' em referendo civil chefe do Executivo reeleito em Macau




Macau, China, 02 set (Lusa) -- Quase 90 por cento dos residentes de Macau que votaram no referendo civil disseram "não" quando questionados se tinham confiança no único candidato a chefe do Executivo, Chui Sai On, reeleito no domingo.

Dos 8.688 votos, 7.762 (ou 89,3%) 'chumbaram' o único candidato à liderança de Macau, 528 abstiveram-se, 388 deram o seu voto de confiança e os restantes dez votaram em branco.

O referendo, que arrancou a 24 e terminou a 31 de agosto, tinha duas perguntas: uma sobre a introdução do sufrágio universal para a eleição do chefe do Executivo em 2019 e outra sobre a confiança da população no candidato único.

Os resultados da primeira questão foram divulgados logo após o encerramento da votação: dos 8.688 votantes (95% do total) disseram "sim", 231 manifestaram-se contra e 189 abstiveram-se.

Os relativos à segunda foram publicados hoje para não colidir com a lei eleitoral, que não permite a divulgação de resultados de sondagens sobre os candidatos até ao dia seguinte ao da eleição.

Apesar de ausente na apresentação dos primeiros resultados, Jason Chao, presidente de duas das três associações promotoras da iniciativa, afirmou hoje que "o resultado é muito claro em relação ao que os cidadãos pensam acerca de Chui Sai On", reiterando que a taxa de participação "é muito mais representativa do que a verdadeira eleição do chefe", escolhido, este domingo, por um colégio composto por 400 elementos.

Ainda assim, sustentou, a participação foi "significativamente afetada", atendendo a que "o referendo foi ativamente reprimido pelo Governo" e à impossibilidade de colocação de urnas em espaços públicos.

No encontro no Jardim de S. Francisco, onde foi detido no primeiro dia da iniciativa, Chao revelou que a CloudFlare identificou e travou um universo de 26.215 "ameaças" ao 'site': 8.983 do interior da China, 7.712 de Hong Kong, 6.435 dos Estados Unidos e 3.085 de Macau.

Segundo o ativista, não houve "ataques massivos", mas as referidas "ameaças" conforme identificadas pela CloudFlare por estarem associadas a origens desconhecidas ou a endereços de IP (Protocolo de Internet) relacionados com ataques cibernéticos.

Jason Chao explicou ainda que nos últimos dias esteve longe do olhar público, por se ter apercebido de movimentações por parte das autoridades, as quais o levaram a procurar "um lugar seguro", algo crucial para supervisionar o processamento dos dados e garantir que decorria conforme planeado.

"Houve atividades fora do comum no exterior da minha casa e a polícia estava a tentar contactar-me muito frequentemente. Os procedimentos estavam a decorrer de uma forma excecionalmente rápida", disse.

Um mecanismo automático para a destruição dos dados do sistema a uma hora específica foi ativado, pelo que todos os votantes estão protegidos, uma vez que ninguém pode ser identificado, afirmou o ativista que considera não estar seguro em Macau.

Chao, que regressou na noite de domingo de Hong Kong, foi travado no terminal marítimo à chegada, sendo notificado para comparecer na Polícia Judiciária na manhã seguinte, onde acabou declarado suspeito no caso do logótipo da PJ, com base no facto de ser diretor da publicação satírica Macau Concealers.

Na sexta-feira, dois elementos da publicação foram detidos por suspeita de violação ao artigo 296.º do Código Penal sobre abuso de designação, sinal ou uniforme.

Na origem da detenção está uma imagem divulgada pela Macau Concealers, através da sua página de Facebook, em que se via um ecrã com a mensagem de agradecimento após a votação no referendo civil com um cartão de identificação da PJ, no qual apenas era possível identificar o logótipo, mas não o nome do agente.

Os casos foram entregues ao Ministério Público (MP) para investigação, à semelhança do de Chao, já suspeito de violar a Lei de Proteção dos Dados Pessoais e de desobediência qualificada.

O ativista disse ter submetido hoje uma queixa junto do MP contra os dirigentes do Gabinete para a Proteção de Dados Pessoais (GPDP).

"Os chamados crimes têm por base uma ordem do GPDP e penso que essa ordem é ilegal, porque abusou do seu poder para a emitir e, por isso, optei por não a cumprir", afirmou.

DM (ISG) // APN - Lusa

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