Macau,
China, 02 set (Lusa) -- Quase 90 por cento dos residentes de Macau que votaram
no referendo civil disseram "não" quando questionados se tinham
confiança no único candidato a chefe do Executivo, Chui Sai On, reeleito no
domingo.
Dos
8.688 votos, 7.762 (ou 89,3%) 'chumbaram' o único candidato à liderança de
Macau, 528 abstiveram-se, 388 deram o seu voto de confiança e os restantes dez
votaram em branco.
O
referendo, que arrancou a 24 e terminou a 31 de agosto, tinha duas perguntas:
uma sobre a introdução do sufrágio universal para a eleição do chefe do
Executivo em 2019 e outra sobre a confiança da população no candidato único.
Os
resultados da primeira questão foram divulgados logo após o encerramento da
votação: dos 8.688 votantes (95% do total) disseram "sim", 231
manifestaram-se contra e 189 abstiveram-se.
Os
relativos à segunda foram publicados hoje para não colidir com a lei eleitoral,
que não permite a divulgação de resultados de sondagens sobre os candidatos até
ao dia seguinte ao da eleição.
Apesar
de ausente na apresentação dos primeiros resultados, Jason Chao, presidente de
duas das três associações promotoras da iniciativa, afirmou hoje que "o
resultado é muito claro em relação ao que os cidadãos pensam acerca de Chui Sai
On", reiterando que a taxa de participação "é muito mais
representativa do que a verdadeira eleição do chefe", escolhido, este
domingo, por um colégio composto por 400 elementos.
Ainda
assim, sustentou, a participação foi "significativamente afetada",
atendendo a que "o referendo foi ativamente reprimido pelo Governo" e
à impossibilidade de colocação de urnas em espaços públicos.
No
encontro no Jardim de S. Francisco, onde foi detido no primeiro dia da
iniciativa, Chao revelou que a CloudFlare identificou e travou um universo de
26.215 "ameaças" ao 'site': 8.983 do interior da China, 7.712 de Hong
Kong, 6.435 dos Estados Unidos e 3.085 de Macau.
Segundo
o ativista, não houve "ataques massivos", mas as referidas
"ameaças" conforme identificadas pela CloudFlare por estarem
associadas a origens desconhecidas ou a endereços de IP (Protocolo de Internet)
relacionados com ataques cibernéticos.
Jason
Chao explicou ainda que nos últimos dias esteve longe do olhar público, por se
ter apercebido de movimentações por parte das autoridades, as quais o levaram a
procurar "um lugar seguro", algo crucial para supervisionar o
processamento dos dados e garantir que decorria conforme planeado.
"Houve
atividades fora do comum no exterior da minha casa e a polícia estava a tentar
contactar-me muito frequentemente. Os procedimentos estavam a decorrer de uma
forma excecionalmente rápida", disse.
Um
mecanismo automático para a destruição dos dados do sistema a uma hora
específica foi ativado, pelo que todos os votantes estão protegidos, uma vez
que ninguém pode ser identificado, afirmou o ativista que considera não estar
seguro em Macau.
Chao,
que regressou na noite de domingo de Hong Kong, foi travado no terminal
marítimo à chegada, sendo notificado para comparecer na Polícia Judiciária na
manhã seguinte, onde acabou declarado suspeito no caso do logótipo da PJ, com
base no facto de ser diretor da publicação satírica Macau Concealers.
Na
sexta-feira, dois elementos da publicação foram detidos por suspeita de
violação ao artigo 296.º do Código Penal sobre abuso de designação, sinal ou
uniforme.
Na
origem da detenção está uma imagem divulgada pela Macau Concealers, através da
sua página de Facebook, em que se via um ecrã com a mensagem de agradecimento
após a votação no referendo civil com um cartão de identificação da PJ, no qual
apenas era possível identificar o logótipo, mas não o nome do agente.
Os
casos foram entregues ao Ministério Público (MP) para investigação, à
semelhança do de Chao, já suspeito de violar a Lei de Proteção dos Dados
Pessoais e de desobediência qualificada.
O
ativista disse ter submetido hoje uma queixa junto do MP contra os dirigentes
do Gabinete para a Proteção de Dados Pessoais (GPDP).
"Os
chamados crimes têm por base uma ordem do GPDP e penso que essa ordem é ilegal,
porque abusou do seu poder para a emitir e, por isso, optei por não a
cumprir", afirmou.
DM
(ISG) // APN - Lusa
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