Pedro
Marques Lopes – Diário de Notícias, opinião
Dada
a incapacidade de conseguir governar de acordo com o texto constitucional, lá
veio o Governo apresentar o seu oitavo Orçamento Retificativo. Um verdadeiro
recorde.
A
inconstitucionalidade das normas provocou um desvio de cerca de 850 milhões de
euros. Para atingir a meta mirífica de 4% de défice para este ano, esperava-se
a apresentação de medidas adicionais ou substitutivas. No entanto, dado o
aumento das receitas fiscais e a diminuição dos encargos com o subsídio de
desemprego, o Governo garante não precisar das tais medidas.
Finalmente
um sucesso da política do Governo? As reformas estruturais, que se diz
existirem mas que ninguém vê, começam a dar frutos? A destruição do tecido
produtivo era, afinal, criativa? O empobrecimento era um passo atrás para dois
em frente rumo a um futuro melhor?
Nada
disso. É impossível imaginar um documento orçamental que confessasse de uma
forma tão flagrante o imenso falhanço de uma fórmula e de uma opção política.
Não
era a maldita procura interna que nos estava a afundar? Não eram as exportações
que nos iam salvar? Pois bem, parece que é o crescimento da procura interna que
ajuda, em grande parte, a equilibrar as contas.
As
exportações vão ficar abaixo do esperado e as importações acima. Não estava em
curso uma reforma estrutural que não ia deixar que as exportações parassem de
crescer e as importações de diminuir ? Pois. Os profetas da desgraça que diziam
que bastava um ventinho favorável na economia e a inevitável reposição dos bens
duradouros e maquinaria para que as importações aumentassem estavam certos, não
é?
Diz
que o desemprego, com o aumento da malfadada procura interna, diminuiu.
Continua a assobiar-se para o ar enquanto centenas de milhares de jovens
emigram, esquecem-se os que desistiram de procurar emprego e celebra-se o facto
de existirem menos encargos com o subsídio de desemprego. Talvez fosse bom
lembrar que estamos a falar de gente que fica sem nada, mas não se pode pedir
sensibilidade a quem não a tem. Mas, sim, houve criação de emprego. Nas
empresas? Muito pouco. Segundo o Expresso, 60% desses empregos são no Estado.
Estágios e assim, aquilo que no passado recente era considerado uma
moscambilhice. Batota, gritaria, em tempos, Passos Coelho.
A
governação liberal cria empregos no Estado. Talvez seja mais uma face do nosso
liberalismo de badana.
E
a despesa? Não era o corte na despesa que era a panaceia? Não se ia cortar a
direito nas gorduras? Pois sim, lá o cortar em salários e pensões fez-se - a
parte não inconstitucional, claro está -, já as gorduras, nem comprimidos, nem
dieta, nem jogging. Nem sequer as deliberações do Tribunal Constitucional
servem para disfarçar a incapacidade de acalmar o monstro. Ele continua a
engordar.
Em
resumo, o que correu bem para a economia foi através da negação de todo o credo
governamental. E a chave-mestra, o que permitirá atingir o mágico 4%, o alfa e
o ómega da política prosseguida tem um nome: impostos. Nunca os portugueses
pagaram tantos. Eis a verdadeira, a evidente, a revolucionária reforma
estrutural: a maior carga fiscal de sempre.
Vale
a pena lembrar as promessas sobre receita e despesa? Vale a pena indignarmo-nos
com a lata de Portas quando vem, no fundo, dizer que é por ele que ainda não
aumentaram mais? Não, não vale. Talvez valha só a pena indagar sobre o
paradeiro do Passos Coelho que acusava os governos de resolverem sempre os
problemas com o aumento de impostos.
Sem comentários:
Enviar um comentário