Com
discussão de propostas e menos ataques entre candidatos, membros do PT e do
PSDB consideram duelo entre presidenciáveis mais esclarecedor para o eleitor
que os anteriores. Mas corrupção na Petrobras volta a ser tema.
Os
candidatos à Presidência Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) adotaram um
tom menos agressivo e se concentraram na apresentação de propostas no debate
deste domingo (19/10), organizado pela TV Record. Para lideranças do PT e do
PSDB, o debate a uma semana do segundo turno foi mais propositivo e, por isso,
mais útil ao eleitor.
O
escândalo de corrupção envolvendo a Petrobras, a inflação e o Programa Nacional
de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) voltaram a ser tema de
discussão. Entretanto, acusações de nepotismo e trocas de ofensas ficaram de
fora do terceiro embate entre os candidatos no segundo turno.
A
presidente reafirmou que "há indícios" de que houve desvio de
dinheiro da Petrobras e que aguarda informações do Ministério Público Federal
(MPF) e do Supremo Tribunal Federal (STF) para tomar providências. "Não
sei quem foi ou quanto foi. Assim que as informações forem divulgadas, irei
investigar", disse a presidente.
A
petista destacou que o PSDB também pode estar envolvido no esquema e lembrou
casos de corrupção que envolvem tucanos, como o cartel do Metrô de São Paulo.
Aécio retrucou: "A senhora confia no tesoureiro do seu partido [João
Vaccari Neto]?", em referência aos indícios de que o PT possa ter recebido
propina do esquema.
O
tucano também criticou a gestão da Petrobras. "A candidata diz que a
Petrobras vai muito bem, obrigada. Mas vai muito mal", afirmou. Dilma
rebateu afirmando que as ações da estatal foram vendidas pelos tucanos "a
preço de banana".
O
candidato do PSDB, por sua vez, demonstrou preocupação com "os números
pouco confiáveis" das instituições estatais sobre a economia do país,
citando o IBGE e o Ipea.
Ensino
técnico
Em
pergunta a Aécio, Dilma falou sobre o Pronatec. Ela acusou a gestão de Fernando
Henrique Cardoso (FHC) de proibir, por meio de lei, que o governo federal
construísse escolas técnicas.
"O
governo do presidente Lula revogou essa proibição. Com isso, foram construídas
214 escolas técnicas. E eu construí 208, num total de 422", disse a
petista.
Aécio
respondeu que a lei do governo FHC apenas definia que as instituições de ensino
fossem criadas em parceria com estados, municípios, ONGs e entidades ligadas ao
sistema S, como Sesi e Senai.
"O
Pronatec, que é uma bela experiência, não vem sendo administrado da forma como
deveria, os jornais de hoje mostram isso. As pessoas se matriculam, saem alguns
dias depois, mas continuam na estatística do seu governo", acusou o
tucano.
Aécio
prometeu manter e aprimorar o Pronatec, e afirmou que o programa é inspirado em
iniciativas anteriores. "Candidata, eu não consigo entender essa sua
obsessão de chamar os programas de 'meus'. O seu governo não inventou as escolas
técnicas. Ao contrário. Essa é uma experiência que começou de forma muito
exitosa aqui mesmo onde estamos, em São Paulo. Quem não conhece a experiência do
governador Geraldo Alckmin com as ETEC's?", disse.
Nesse
momento, o governador de São Paulo, que assistia ao programa do auditório,
comemorou a menção e foi cumprimentado por aliados.
Dilma
rebateu, afirmando que o Pronatec "não tem semelhança" com outros
programas. "Oito milhões de pessoas tiveram acesso ao Pronatec. E ele é
gratuito. Vocês jamais fizeram programa gratuito nessa escala, candidato, é
completamente diferente", apontou.
Inflação
em foco
O
aumento de preços foi um dos temas principais das discussões do primeiro bloco.
Aécio reiterou que pretende baixar a inflação para 3%. Dilma criticou a
proposta sob o argumento de que a medida irá elevar a taxa de juros e triplicar
os índices de desemprego.
"A
receita é a mesma: Armínio Fraga [ministro da Economia de Aécio] e arrocho
salarial. Vocês acreditam no FMI e sempre recorrem a ele quando precisam",
disse a candidata.
O
tucano afirmou, então, que países vizinhos praticam taxas de inflação por volta
de 3% e que o Brasil pode alcançar esse patamar.
O
debate foi dividido em três blocos, com rodadas de confronto direto e perguntas
de livre escolha. Outros temas discutidos por Dilma e Aécio foram segurança
pública, direitos trabalhistas, controle de fronteiras, avanços sociais e
gestão de bancos públicos.
Dois
projetos de Brasil
As
considerações finais foram realizadas num quarto bloco, que não estava
programado pela emissora. Dilma enfatizou que estão em jogo dois projetos de
Brasil: o dela, que garantiu "avanços e conquistas para todos" e o do
PSDB, que "condenou o povo brasileiro ao desemprego e ao arrocho
salarial".
"Tenho
certeza que você [eleitor] cresceu porque o Brasil mudou. E o Brasil mudou
porque o governo tomou providências para ampliar e criar oportunidades",
afirmou a presidente.
Depois
de receber vaias, Aécio reiterou que fica cada vez mais claro que há dois
projetos diferentes para o país, e que, ao contrário da de Dilma, a proposta
dele é voltada para o futuro.
"Não
nos contentamos em ver o Brasil crescendo menos que todos os seus vizinhos, a
inflação voltando a atormentar a vida do trabalhador, e os nossos indicadores
sociais piorando a cada ano. Eu sou candidato à Presidência da República para
mudar de verdade o Brasil, não apenas no slogan", finalizou o tucano.
Menos
agressivo
Após
o debate, aliados elogiaram a postura dos candidatos. "Acho que a Dilma
saiu-se muito bem, ela estava segura e exalando certeza naquilo que
dizia", afirmou o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB).
O
ministro da Casa Cilvil, Aloizio Mercadante, disse que debate "não é UFC
[Ultimate Fighting Championship]". "Mas quando um candidato não tem
como sustentar o debate, às vezes apela um pouco. Hoje nós preservamos aquilo
que o eleitor brasileiro quer", disse.
Para
o senador Eduardo Suplicy (PT), o debate foi menos agressivo e evidenciou
"um nível mais alto de respeito" entre Dilma e Aécio. "Claro que
colocaram denúncias e malfeitos aqui e acolá, mas eles já eram conhecidos.
Então, o nível do debate foi mais sobre as proposições, o que contribuiu para esclarecer
melhor os eleitores."
Alckmin
disse que viu uma propaganda eleitoral do PT explorando o tema da falta de água
no estado de São Paulo. "Acho isso um absurdo. É um desrespeito com a
população de São Paulo", afirmou.
O
vice de Aécio, Aloysio Nunes, considerou o debate melhor que os anteriores,
porque Dilma estava menos agressiva. "Mas ela ainda continua obcecada por
Minas Gerais e traz ao debate esse mundo de fantasia que ela apresenta no seu
programa eleitoral."
O
próximo e último debate presidencial será realizado pela TV Globo na próxima
sexta-feira (24/10), dois dias antes do segundo turno.
Karina
Gomes / Marina Estarque – Deutsche Welle
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