Adenilton
Cerqueira – Black Brasil
A
Bahia é o estado com a maior população de negros declarados no Brasil, de
acordo com o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de
2010, com 17,1% dos habitantes se declarando negros. Outras 59,2% se dizem
pardas. Ainda assim, apenas dois deputados estaduais e seis deputados federais
eleitos no estado se declararam negros e foram eleitos nas eleições de 2014. Na
Assembleia Legislativa da Bahia, apenas Pastor Sargento Isidório (PSC) e Zé
Raimundo (PT) são negros entre os 63 parlamentares que se elegeram. 38 deles se
declararam brancos e 23, pardos. O percentual equivale a 3,17% de
representatividade de negros na Casa Legislativa. Já entre os 39 baianos que
irão para a Câmara dos Deputados, em Brasília, os negros são Irmão Lázaro (PSC),
Antonio Brito (PTB), Valmir Assunção (PT), Márcio Marinho (PRB), Tia Eron (PRB)
e Bebeto (PSB), o que equivale a 15,3% da bancada. Entre os demais, 20 se
declaram brancos e 13, pardos. Apesar do baixo equivalente, a Bahia foi o
estado que mais elegeu negros para a Câmara - seis dos 22 que cumprirão mandato
em 2015, com apenas São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais sendo os outros a
eleger mais de um.
De
acordo com o coordenador-geral Coletivo de Entidades Negras (CEN), Marcos
Rezende, a falta de representatividade dos negros na Bahia é um reflexo do
cenário nacional. “Isso tem acontecido não só na Bahia, mas no Brasil inteiro.
Militantes históricos do movimento negro não se elegeram no país, como Edson
Santos (PT-RJ), Janete Pietá (PT-SP) e Luiz Alberto (PT) aqui na Bahia. Os que
se elegeram não são do movimento negro, se associam apenas como uma linha
auxiliar, eles tem uma relação muito mais arraigada com os evangélicos”, disse
Rezende. Ele defende que é preciso fazer uma reforma política e que se fomente
o debate na sociedade em relação às cotas, promoção de igualdade racial e
diversidade religiosa, para que os negros possam assumir mais cargos públicos,
pois eles teriam capital político, mas não tem capital financeiro para fazer
uma campanha política nos padrões atuais. “Temos preocupação de que tenhamos um
retrocesso apesar das pesquisas apontarem que são os votos dos negros e das
mulheres que decidem eleições”, afirmou.
O
coordenador mencionou que deputados que não conseguiram a reeleição foram
responsáveis pela aprovação do Estatuto da Igualdade Racial e de Combate a
Intolerância Religiosa do estado, como Bira Corôa (PT), o que fará com que os
representantes não “comecem do zero” ao abordar a pauta na próxima legislatura.
Sobre os negros que se elegeram, Rezende afirmou ser preocupante o baixo número
tanto o baixo número proporcional quanto a sua relação com a igreja evangélica.
“São pessoas que ao longo que da sua história não abraçam a pauta do movimento
negro. A igreja não necessariamente pode ter feito uma grande inserção dos seus
fieis, mas eles tem um elemento da fidelidade no campo da espiritualidade, uma
ordem unida em que a igreja está fechada com esses candidatos”, afirmou, se
referindo ao Pastor Isidório, Irmão Lázaro (ambos campeões de votos), Márcio
Marinho e Tia Eron. “Não sei se por coincidência eles são negros, mas vale à
pena salientar que essas pessoas foram içadas pela Igreja Universal e tiveram
exposição na mídia. Essas pessoas embora epidermicamente negras, até defendem
uma parcela da pauta, mas não todas, como o tombamento da região dos terreiros
do candomblé ou a união homoafetiva”. Rezende ainda afirma que eles têm um
limite e são eleitos por conta do número de fieis.
Sobre
o autor: Adenilton Cerqueira é baiano meio soteropolitano, meio feirense é o
fundador deste blog, é radialista, escritor por compulsão e esta escrevendo um
livro (Periferia em Movimento)
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