Boris Pavlischev - Voz da Rússia
No
Afeganistão, na véspera da retirada das tropas da coligação, tornou-se
conhecido um novo escândalo com as forças de retaguarda norte-americanas.
Constatou-se que foram “jogados no lixo” quase 1,5 bilhões de dólares dos
impostos dos cidadãos norte-americanos.
Em
um aeródromo de Cabul foram destruídos 16 aviões militares de transporte,
adquiridos pelo Pentágono para o exército afegão, mas que nunca lhe foram
entregues. Segundo os peritos, a causa dessas ações podem ter sido não só erros
de gestão, mas também corrupção.
16
aviões G.222 de fabricação italiana chegaram a Cabul há alguns anos atrás. Eles
quase não voaram devido à falta de peças sobresselentes e, a partir de março do
ano passado, ficaram completamente parados. Segundo apurou John Sopko,
principal inspetor militar dos EUA, há uns meses atrás, todos os aviões foram
destruídos por escavadoras perto do aeródromo de Cabul. A sucata obtida foi
vendida por uma construtora afegã a seis cêntimos a libra. Em outras palavras,
quase todos os 468 milhões de dólares transformaram-se em lixo. “Quase” tudo,
porque 4 dos 20 aviões comprados ficaram intactos e encontram-se numa base da
Força Aérea na Alemanha.
O
inspetor militar esteve anteriormente em Cabul, viu os aviões parados, chamou a
atenção para o problema das peças sobresselentes, mas os respectivos serviços
de prevenção não deram ouvidos por alguma razão.
Já
tinham acontecido escândalos com os serviços de retaguarda norte-americanos em Cabul. Há uns anos
atrás, foi noticiado um enorme roubo de combustível pelo pessoal
norte-americano, recorda Nikita Mendkovich, perito do Centro de Estudos do
Afeganistão Contemporâneo. Mas, segundo ele, semelhantes incidentes não levarão
à revisão dos princípios de prestação de ajuda a Cabul:
“Trata-se
de um fenômeno por si só desagradável para os EUA, mas dificilmente provocará
quaisquer convulsões políticas. Este exemplo parece mostrar mais a ineficácia
da gestão, mostrada por atos tão estranhos”.
Todavia,
não se pode excluir que por detrás dos aparelhos voadores não tanto esteja a
ineficácia quanto algum esquema de corrupção. Vladimir Evseev, diretor do
Centro de Estudos Sócio-Políticos, opinia:
“Quando
se adquire aviões militares de transporte, isso deve ser acompanhado da criação
de um sistema da sua manutenção. No mínimo, a criação de um centro de
manutenção no Afeganistão, o que não foi feito. Será que estava prevista a
compra de peças sobresselentes ou não? Colocam-se numerosas questões e pode-se
supor que, inicialmente, não estava planejado utilizá-los em ações de combate.
Não vejo a necessidade de tão grande aquisição de aviões militares de
transporte para o exército afegão”.
Segundo
o perito, o atual exército afegão serve mais para manter territórios do que
para operações ofensivas, quando é necessário a deslocação rápida de tropas em aviões. Mais , os
afegãos não estavam prontos para receber esses aparelhos. Eles não tinham nem
pilotos para esse tipo de aviões, nem pessoal técnico. Os norte-americanos não
podiam não saber disso.
Mas
porque é que Washington forneceu os aviões sabendo que os afegãos não os podem
utilizar? Além da versão da corrupção, há ainda outra: cria-se a aparência no
lugar da prestação de ajuda real. Os peritos chamam a atenção para o fato de os
norte-americanos, sob os mais diferentes pretextos, não darem a Cabul, por
exemplo, armamentos pesados.
O fato de os afegãos não
terem pilotos preparados e armamentos pesados significa que os norte-americanos
não estão interessados no exército afegão com capacidade total de combate. É
melhor um que dependa completamente dos Estados Unidos. Porque os EUA procuram
pretexto para ficar. Se os afegãos conseguirem sozinhos acabar com os talibãs,
que ficarão lá a fazer os norte-americanos? Terão de regressar a casa. Mas
Washington gostaria de fixar-se no Afeganistão durante muito tempo.
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