Público,
editorial
Sem
separação clara de interesses, nunca saberemos as razões verdadeiras das
decisões políticas.
Em
Julho de 2013, quando foi nomeado ministro da Economia, Pires de Lima deu uma
ordem aos bancos onde tinha contas para que vendessem todas as suas acções
portuguesas.
Foi
nessa altura que vendeu, por cerca de 70 mil euros, as 80.433 acções que tinha
no BES. Quis assim garantir que, ao agir como ministro, não seria apanhado a
pensar para com os seus botões algo do tipo: “Se decidir A, perco dinheiro; se
decidir B, não perco...”
Foi
um gesto de transparência. Desligou-se da banca portuguesa e criou o que no
mundo dos negócios se chama chinese walls, um biombo entre a sua acção
como ministro e os seus investimentos pessoais. Isso fez com que, um ano
depois, quando mergulhou na crise que fez implodir o BES, Pires de Lima fosse
um político mais livre e independente do que teria sido se o seu dinheiro
estivesse em jogo.
O
mesmo não é verdade em relação a outros ministros. Ao todo, 16 membros do
Governo de Passos Coelho assistiram com particular atenção ao desmoronar do
império Espírito Santo. Alguns têm contas acima de 100 mil euros no BES.
Juntos, têm um milhão de euros em aplicações, fundos, carteiras, banca-seguros
e títulos.
Um
exemplo da importância dos biombos é a decisão tomada em Conselho de Ministros
em plena crise do BES: até onde se deveria proteger quem tinha poupanças no
BES? Todos os depositantes ou só os que tinham menos de 100 mil euros, como
estipula o novíssimo regulamento europeu? O Governo decidiu que tanto os
pequenos como os grandes depositantes deveriam ficar a salvo.
Na
prática, só não foram protegidos os accionistas com pelo menos 2% do banco,
valores muitíssimo mais elevados. Neste debate, ouvimos sempre falar da
importância de garantir a confiança no mercado. Ou seja, de não serem tomadas
decisões que levem as pessoas a guardar as suas poupanças debaixo do colchão.
Mas com esta ausência de separação de interesses nunca saberemos a razão real
das decisões políticas.
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