Paulo
Ferreira – Jornal de Notícias, opinião
A
alma do Governo liderado por Pedro Passos Coelho aproxima-se rapidamente dos 21 gramas , o peso que a
dita cuja alcança quando o ocaso chega e, solícito, transporta o ente para
outras e insondáveis paragens. Esta constatação devia, por si só, ser bastante
para sossegar as vozes mais cortantes que, ao mínimo erro do Executivo bicolor,
correm a pedir cabeças. Já não estamos no tempo da briga justificada; estamos
claramente no tempo de ajudar o Governo a terminar os trabalhos com dignidade,
para parafrasear a famosa frase do famoso professor Cavaco Silva.É por isso que
custa ouvir para aí 3/4 do círculo político, digamos assim, reclamarem, dia
após dia, a demissão deste ou daquele ministro, mais a demissão deste ou
daquele secretário de Estado, para chegaram à demissão do Governo. O problema
não está na qualidade e/ou quantidade da argumentação - disso há aos montes. O
problema está na consequência da argumentação. Que, obviamente, é nenhuma.
Vamos
aos exemplos.
Depois
de ter pedido desculpa por uma grossa trapalhada, a ministra da Justiça
meteu-se noutra, chamada Citius, ainda mais grossa. À data de ontem, andavam
ainda no ar meio milhão de processos judiciais. A ministra concluiu, estribada,
lá está, em estudos aprofundados e de resultados inequívocos, que a culpa é das
chamadas chefias intermédias, essa cáfila que pulula na Administração Pública a
que cumpre zelar pelos interesses corporativos, uma coisa gelatinosa que serve
para justificar tudo e o seu exato contrário.
Depois
de ter pedido desculpa por uma grossa trapalhada, o ministro da Educação correu
a meter-se noutra de semelhantes dimensões. Mais de um mês após o início do ano
letivo, dá-se o caso de um professor ter 95 horários para escolher. É uma
espécie de euromilhões da incompetência. Claro: a culpa há de ter sido de um
maldito algoritmo que não se deu bem com os colegas. Resultado: temos uma
espécie de Matrix na Educação.
O
ministro dos Negócios Estrangeiros, cuja existência estava por provar até há
dias, disse qualquer coisa sobre portuguesas alegadamente jihadistas que, aos
olhos do seu colega da Administração Interna, põe em risco a vida das ditas
cujas, uma vez que os fanáticos da coisa gostam de mostrar que têm poder
cortando cabeças.
Entre
outras maravilhas parecidas às descritas, ainda há o triste caso do secretário
de Estado que se demitiu por ter sido acusado de plágio.
A
questão é: o primeiro-ministro devia demitir os três ministros? Claro que sim.
Sucede que há uma questão antes desta questão. Que é esta: o primeiro-ministro
tem condições para demitir os três ministros? Claro que não. Basta pensar
nisto: quem seria o louco, ou a louca, que aceitaria ir para um Governo cuja
alma se aproxima dos 21
gramas ? O poder de recrutamento de Passos e Portas é
igual a zero. Ou quem seria o louco, ou a louca, disposto a ficar com as pastas
em aberto, somando sarilhos aos sarilhos?
Aconteça
o que acontecer, resta esperar que o estertor se complete. É da natureza das coisas.
E é o único modo de a alma voltar a engordar.
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