sábado, 25 de outubro de 2014

São Tomé e Príncipe: Laços com Portugal e Angola catapultaram Patrice Trovoada




Nascido no Gabão e falando português com influências fonéticas francesas, Patrice Trovoada granjeou em São Tomé e Príncipe uma imagem de “francófono” que os seus adversários exploram contra si. No caminho de regresso à chefia do governo, desencadeou esforços para realçar as afinidades pessoais e políticas com Angola e Portugal, países com elevados níveis de aceitação na sociedade e na população.

Segundo o Africa Monitor Intelligence, a escala de Patrice Trovoada em Luanda, na sua viagem de regresso de Lisboa a São Tomé, teve como objetivo vincar a importância que atribui a Angola como parceiro do seu país, daí retirando esperados proveitos políticos e eleitorais.

Em Luanda, encontrou-se com o Vice Presidente, Manuel Vicente, e falou ao telefone com Vieira Dias “Kopelipa”, na ocasião ausente da capital. Na viagem, efectuada numa aeronave alugada, Trovoada fez-se acompanhar por quatro deputados portugueses: Mário Ruivo e João Portugal (PS), Nuno Serra (PSD) e Ribeiro e Castro (CDS).

O propósito imediato do convite aos deputados terá sido o de tentar dissuadir, por meio da sua presença, eventuais “procedimentos” das autoridades contra si próprio, ditados por acções judiciais que lhe foram movidas; num plano mais vasto, pretendeu igualmente promover a ideia de que cultiva laços especiais em Portugal – de onde procedia e onde estivera retirado desde 2013, adianta o Africa Monitor Intelligence.

A presença dos deputados trazidos pela ADI causou incómodo nos restantes partidos. O presidente são-tomense, Manuel Pinto da Costa, criticou os parlamentares portugueses, que acusou de "sujarem o nome" do país.


Aura de “vítima” de Trovoada

Vencedor das eleições legislativas de 12 de outubro com maioria absoluta, Trovoada conduziu uma campanha com uma dinâmica de vitória que o regresso ao país, a 3 de Outubro, acentuou. A figura do ex-Primeiro-Ministro foi um dos principais factores de mobilização da campanha do ADI, tendo em conta a popularidade de que goza.

A prolongada ausência no estrangeiro a que se remeteu esteve ligada a vicissitudes que lhe conferiram aura de vítima, incluindo o afastamento coercivo do poder, processos judiciais, acusações de existência de um clima interno de marginalização ou perseguição contra elementos do seu partido, etc. Em consequência, o seu regresso acabou por ter um carácter “messiânico”.

A campanha do ADI também se revelou superior à dos seus adversários em termos de capacidade financeira e organizativa. O MLSTP/PSD e PCD/GR, principais adversários, também mostraram dispor de fartos meios financeiros, especulando-se que tiveram origem em Angola. 

Outro trunfo para Trovoada foi o desgaste político-eleitoral provocado pelo governo de coligação. Osvaldo Vaz, o candidato a Primeiro-Ministro apresentado pelo MLSTP/PSD não se revelou mobilizador, tal como António Dias, do PCD/GR.

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