segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Timor-Leste espera reforçar relações com a Indonésia sob o governo de Jokowi




Jacarta, 20 out (Lusa) - Timor-Leste espera um reforço das relações com a Indonésia durante o mandato do novo Presidente, apesar de Joko Widodo, conhecido como Jokowi, ter "uma política mais voltada para dentro", disse o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros timorense, Constâncio Pinto.

Após dez anos da presidência de Susilo Bambang Yudhoyono, que a 10 de outubro foi considerado o "melhor amigo do povo de Timor-Leste" pelo primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, a Indonésia entrou hoje num novo ciclo de governação, com a tomada de posse do primeiro Presidente do país que não faz parte da tradicional elite política.

"Esperamos que as nossas relações de amizade continuem e fortifiquem cada vez mais", disse à Lusa o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, após participar na cerimónia de tomada de posse em Jacarta, acompanhando o Presidente timorense, Taur Matan Ruak, que recusou prestar declarações.

Constâncio Pinto acredita que "a política mais para dentro do país" traçada pelo novo Presidente "não vai afetar muito" as relações bilaterais.

Ainda assim, defendeu que poderá será necessário um trabalho de "compreensão mútua" e de aprendizagem "sobre a questão de Timor-Leste" com o novo governo indonésio, cuja composição só será revelada amanhã.

O governante afirmou esperar também que, durante o mandato de Jokowi, a Indonésia continue os esforços para promover a entrada de Timor-Leste na Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) e que seja possível "chegar a um acordo" quanto à parcela de um a dois por cento de fronteira terrestre que ainda está por resolver antes de discutir as fronteiras marítimas.

Já Cillian Nolan, diretor adjunto do Instituto de Análise Política de Conflitos (IPAC, na sigla em inglês), antecipa que "Timor-Leste será menos prioritário em Jacarta", mas que "as relações calorosas" e "o sentimento de orgulho na relação bilateral ativa e construtiva desenvolvida" entre os dois países permanecerão.

Cillian Nolan, que já trabalhou em Díli como analista, sublinhou que Jokowi e o seu vice-presidente, Jusuf Kalla, não têm uma relação tão próxima com a nação mais recente do Sudeste Asiático como a de Susilo Bambang Yudhoyono, localmente conhecido como SBY.

O ex-Presidente "serviu lá durante a carreira militar, teve um papel importante de coordenação do Ministério dos Assuntos de Segurança em 2001-2002 quando Timor-Leste estava a tornar-se totalmente independente e foi instrumental na criação da Comissão de Verdade e Amizade, que mais tarde ajudou a consolidar as relações bilaterais", justificou.

Na visão do especialista, é igualmente esperada "uma diminuição dos esforços ativos para promover a entrada de Timor-Leste na ASEAN" por parte de Jacarta, embora esse passo seja encarado "como algo do seu interesse", dado que a Indonésia quer ter um "vizinho estável e próspero".

Por seu lado, Meidyatama Suryodiningrat, chefe de redação do jornal indonésio The Jakarta Post e comentador de política externa, entende que se as relações "muito boas" entre os dois países "mudarem, só poderá ser para melhor", embora apresente outrossim dúvidas quanto à atenção que Jacarta colocará na entrada de Timor-Leste na ASEAN.

No primeiro discurso enquanto Presidente da Indonésia, Jokowi sublinhou que o país vai continuar a apostar numa política externa "livre a ativa" e defendeu que chegou a hora de deixar de negligenciar os mares e de regressar ao princípio "Jalesveva Jayamahe" ("No mar vamos triunfar").

Meidyatama Suryodiningrat prevê que a diplomacia e a segurança indonésias passem a concentrar-se sobretudo no mar, sublinhando que "houve uma falta de atenção quanto aos assuntos marítimos no passado".

Depois de 24 anos de ocupação que culminaram com a independência de Timor-Leste, a 20 de maio de 2002, as autoridades de Díli e Jacarta têm estabelecido fortes relações diplomáticas e de cooperação em várias áreas.

AYN // PJA - Lusa

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