Jacarta,
20 out (Lusa) - Timor-Leste espera um reforço das relações com a Indonésia
durante o mandato do novo Presidente, apesar de Joko Widodo, conhecido como
Jokowi, ter "uma política mais voltada para dentro", disse o
vice-ministro dos Negócios Estrangeiros timorense, Constâncio Pinto.
Após
dez anos da presidência de Susilo Bambang Yudhoyono, que a 10 de outubro foi
considerado o "melhor amigo do povo de Timor-Leste" pelo
primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, a Indonésia entrou hoje num novo
ciclo de governação, com a tomada de posse do primeiro Presidente do país que
não faz parte da tradicional elite política.
"Esperamos
que as nossas relações de amizade continuem e fortifiquem cada vez mais",
disse à Lusa o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, após participar na
cerimónia de tomada de posse em Jacarta, acompanhando o Presidente timorense,
Taur Matan Ruak, que recusou prestar declarações.
Constâncio
Pinto acredita que "a política mais para dentro do país" traçada pelo
novo Presidente "não vai afetar muito" as relações bilaterais.
Ainda
assim, defendeu que poderá será necessário um trabalho de "compreensão
mútua" e de aprendizagem "sobre a questão de Timor-Leste" com o
novo governo indonésio, cuja composição só será revelada amanhã.
O
governante afirmou esperar também que, durante o mandato de Jokowi, a Indonésia
continue os esforços para promover a entrada de Timor-Leste na Associação das
Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) e que seja possível "chegar a um
acordo" quanto à parcela de um a dois por cento de fronteira terrestre que
ainda está por resolver antes de discutir as fronteiras marítimas.
Já
Cillian Nolan, diretor adjunto do Instituto de Análise Política de Conflitos
(IPAC, na sigla em inglês), antecipa que "Timor-Leste será menos
prioritário em Jacarta", mas que "as relações calorosas" e
"o sentimento de orgulho na relação bilateral ativa e construtiva desenvolvida"
entre os dois países permanecerão.
Cillian
Nolan, que já trabalhou em Díli como analista, sublinhou que Jokowi e o seu
vice-presidente, Jusuf Kalla, não têm uma relação tão próxima com a nação mais
recente do Sudeste Asiático como a de Susilo Bambang Yudhoyono, localmente
conhecido como SBY.
O
ex-Presidente "serviu lá durante a carreira militar, teve um papel
importante de coordenação do Ministério dos Assuntos de Segurança em 2001-2002
quando Timor-Leste estava a tornar-se totalmente independente e foi
instrumental na criação da Comissão de Verdade e Amizade, que mais tarde ajudou
a consolidar as relações bilaterais", justificou.
Na
visão do especialista, é igualmente esperada "uma diminuição dos esforços
ativos para promover a entrada de Timor-Leste na ASEAN" por parte de
Jacarta, embora esse passo seja encarado "como algo do seu
interesse", dado que a Indonésia quer ter um "vizinho estável e
próspero".
Por
seu lado, Meidyatama Suryodiningrat, chefe de redação do jornal indonésio The
Jakarta Post e comentador de política externa, entende que se as relações
"muito boas" entre os dois países "mudarem, só poderá ser para
melhor", embora apresente outrossim dúvidas quanto à atenção que Jacarta
colocará na entrada de Timor-Leste na ASEAN.
No
primeiro discurso enquanto Presidente da Indonésia, Jokowi sublinhou que o país
vai continuar a apostar numa política externa "livre a ativa" e
defendeu que chegou a hora de deixar de negligenciar os mares e de regressar ao
princípio "Jalesveva Jayamahe" ("No mar vamos triunfar").
Meidyatama
Suryodiningrat prevê que a diplomacia e a segurança indonésias passem a
concentrar-se sobretudo no mar, sublinhando que "houve uma falta de
atenção quanto aos assuntos marítimos no passado".
Depois
de 24 anos de ocupação que culminaram com a independência de Timor-Leste, a 20
de maio de 2002, as autoridades de Díli e Jacarta têm estabelecido fortes
relações diplomáticas e de cooperação em várias áreas.
AYN
// PJA - Lusa
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