Pedro
Bacelar de Vasconcelos – Jornal de Notícias, opinião
A
Comunicação Social portuguesa destacava ontem o relatório divulgado pelo Banco
Mundial (Doing Business 2015) que coloca Portugal em 25.º lugar num ranking de
189 países ordenados segundo um critério complexo que procura apurar a maior ou
menor facilidade da concretização de negócios entre privados, nos vários países
considerados ("Económico", 29 de outubro de 2014). Mais do que a
posição ocupada, salienta-se a melhoria obtida relativamente ao ano anterior.
Portugal teria subido seis lugares, colocando-se agora à frente de outros
países europeus como a Holanda, Bélgica, França, Polónia e até, na Ásia, acima
do Japão. Segundo declarações colhidas no Ministério da Economia, este sucesso
relativo teria ficado a dever-se à flexibilização das leis do trabalho, à
aceleração das decisões judiciais, à facilitação do registo de propriedades e
ao cumprimento das obrigações fiscais.
O
mesmo relatório do Banco Mundial era também objeto de destaque em
"Comunicado de Imprensa" do Conselho de Ministros de Timor-Leste.
Embora colocado nesse ranking numa posição mais modesta, Timor-Leste é ali
qualificado como a economia que mais progrediu na simplificação do processo de
constituição de novas empresas (...) "através da conceção de um balcão
único" - uma medida aprovada pelo Governo de Xanana Gusmão, em 2012 -
"que reduziu o tempo necessário para abrir uma empresa, de 94 para apenas
10 dias". A simplificação administrativa e o melhoramento substancial do
abastecimento da energia elétrica foram os fatores responsáveis pelo expressivo
melhoramento do ambiente empresarial no território deste jovem parceiro da
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
Em
Timor, o fator mais adverso reside, por uma lado, na dificuldade de validação
dos títulos de propriedade - herança da ocupação estrangeira e das deslocações
forçadas de populações inteiras durante a guerra de resistência - mas também
nas fragilidades de um sistema judicial criado a partir do zero, depois da
libertação, com juízes recrutados de emergência e amplo recurso à cooperação
internacional, sobretudo, a magistrados e assessores jurídicos de língua
portuguesa. Contudo, a consolidação de um poder judicial independente e
democrático, constituindo um fator estimulante do dinamismo económico, é, acima
de tudo, uma parte essencial da própria construção do Estado soberano. Numa
atitude discrepante com a atenção e o interesse que as velhas potências
coloniais europeias costumam dedicar aos povos que oprimiram e exploraram no
passado, em Portugal, nem se valoriza os sucessos que alcançaram nem os
problemas com que se confrontam.
De
facto, os progressos significativos alcançados pelos timorenses na área da
economia não transpareceram nos órgãos de Comunicação Social portugueses, nem a
determinação expressa numa resolução aprovada no Parlamento Nacional em Díli,
na passada sexta-feira, no sentido de um renovado empenhamento na consolidação
da autonomia e da eficiência dos tribunais nacionais, obteve a atenção que
indiscutivelmente merece. Uma indiferença incompreensível porque a Justiça é um
setor fundamental onde a cooperação portuguesa se pode orgulhar da valiosa
contribuição de inúmeros magistrados e assessores jurídicos. Contudo, a
perpetuação da presença de funcionários internacionais, designadamente no
exercício de funções jurisdicionais, a par dos juízes timorenses, é um fator de
inevitável perturbação da transparência de um poder judicial independente que
assume também relevantes atribuições jurídico-políticas, designadamente, em
sede de controlo da constitucionalidade e da averiguação da responsabilidade
criminal dos titulares de órgãos de soberania. Quando as multinacionais do
petróleo procuram apoderar-se dos recursos naturais do povo timorense através
de dezenas de processos instaurados nos tribunais de Timor, o mínimo que nos compete
é esforço para compreender o que se passa e manifestar total solidariedade com
o povo irmão e com os seus representantes legítimos!
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