Macau,
China, 31 out (Lusa) - Cerca de 40 pessoas, a maioria estudantes, participaram
hoje no primeiro debate organizado por ativistas no novo campus da Universidade
de Macau, na Ilha da Montanha, em que se apontou a falta de liberdade
académica.
"Este
é um momento histórico porque estamos a realizar a primeira assembleia na Ilha
da Montanha", disse aos jornalistas o ativista Jason Chao, ao frisar que
"as autoridades não impuseram nenhuma restrição à realização da
iniciativa".
A
Ilha da Montanha é território chinês, mas encontra-se sob jurisdição de Macau,
aplicando-se ali as mesmas leis da Região Administrativa Especial, incluindo
direitos e garantias que não estão previstos na China.
"Pelo
menos agora sabemos que as leis de Macau se aplicam na Ilha da Montanha. E
esperamos que alunos e os cidadãos em geral aproveitem esta oportunidade para
se envolverem em mais iniciativas do género. Precisamos de aumentar a
consciencialização sobre assuntos importantes para a sociedade civil",
afirmou.
O
reitor da Universidade de Macau, Wei Zhao, foi convidado a estar presente no
debate promovido pelos ativistas, mas declinou o convite. Em resposta escrita
aos ativistas, lida por Jason Chao, o reitor disse que aquela universidade
estava "determinada em proporcionar um ambiente seguro, saudável e
produtivo para alunos e docentes e em garantir a liberdade académica e
tolerância zero em relação a qualquer tipo de assédio".
A
iniciativa promovida sob a mensagem "Por um campus livre habitável, livre
de assédio sexual e com liberdade académica", chegou a ser apresentada
pelo grupo de ativistas como um protesto, mas decorreu em formato de mesa
redonda, sem cartazes ou palavras de ordem.
Das
poucas exceções à regra, a estudante Carol Lam marcou presença na iniciativa
que decorreu junto à biblioteca da Universidade de Macau, com uma faixa no
cabelo, na qual pedia liberdade académica e de expressão, e o fim da opressão
da política.
A
mesma faixa era ainda ornamentada por um laço amarelo, em apoio aos estudantes
de Hong Kong, que há mais de um mês protestam em Hong Kong em prol do
sufrágio universal, explicou.
Carol
Lam disse estar sobretudo preocupada com a liberdade académica: "A
Universidade diz que respeita a liberdade académica e a independência política,
mas eu, enquanto aluna, não consigo ver nada disso", afirmou, ao defender
que as instituições de ensino superior deviam estar mais preocupadas com o
contributo que os professores podem dar para o desenvolvimento intelectual, em
vez de recearem eventuais influências das suas orientações políticas nas salas
de aulas.
Bill
Chou, antigo professor de Ciência Política da Universidade de Macau, também
presente no debate, disse aos jornalistas que "a liberdade académica não
melhorou" desde o seu despedimento da Universidade de Macau e do também
docente Éric Sautedé, da Universidade de São José.
O
académico apontou a falta de autonomia das instituições de ensino superior de
Macau e a fraqueza das associações do sector na defesa dos direitos dos
professores.
"Ao
contrário do que acontece nos países ocidentais, os docentes em Macau não estão
protegidos, incluindo de eventuais ações de discriminação", afirmou.
Nesse
sentido, defendeu que, "do ponto de vista institucional, a Universidade de
Macau e mesmo outras universidades não mudaram".
"Antes
de uma reforma institucional não me parece que haja suficiente proteção
institucional e liberdade académica e de expressão", reiterou.
O
debate incluiu o tema do assédio sexual, depois de um alegado caso recente que
envolveu um professor, suspenso por 12 dias, e uma aluna.
A
Universidade de Macau relatou este mês que nos últimos seis anos recebeu duas
queixas de assédio sexual.
No
debate, os estudantes exibiram ainda algumas fotos para evidenciar o estado de
degradação de algumas instalações do novo campus universitário.
FV
(ISG) // APN - Lusa
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