sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Ativistas testam liberdade de expressão em Macau com debate na Universidade




Macau, China, 31 out (Lusa) - Cerca de 40 pessoas, a maioria estudantes, participaram hoje no primeiro debate organizado por ativistas no novo campus da Universidade de Macau, na Ilha da Montanha, em que se apontou a falta de liberdade académica.

"Este é um momento histórico porque estamos a realizar a primeira assembleia na Ilha da Montanha", disse aos jornalistas o ativista Jason Chao, ao frisar que "as autoridades não impuseram nenhuma restrição à realização da iniciativa".

A Ilha da Montanha é território chinês, mas encontra-se sob jurisdição de Macau, aplicando-se ali as mesmas leis da Região Administrativa Especial, incluindo direitos e garantias que não estão previstos na China.

"Pelo menos agora sabemos que as leis de Macau se aplicam na Ilha da Montanha. E esperamos que alunos e os cidadãos em geral aproveitem esta oportunidade para se envolverem em mais iniciativas do género. Precisamos de aumentar a consciencialização sobre assuntos importantes para a sociedade civil", afirmou.

O reitor da Universidade de Macau, Wei Zhao, foi convidado a estar presente no debate promovido pelos ativistas, mas declinou o convite. Em resposta escrita aos ativistas, lida por Jason Chao, o reitor disse que aquela universidade estava "determinada em proporcionar um ambiente seguro, saudável e produtivo para alunos e docentes e em garantir a liberdade académica e tolerância zero em relação a qualquer tipo de assédio".

A iniciativa promovida sob a mensagem "Por um campus livre habitável, livre de assédio sexual e com liberdade académica", chegou a ser apresentada pelo grupo de ativistas como um protesto, mas decorreu em formato de mesa redonda, sem cartazes ou palavras de ordem.

Das poucas exceções à regra, a estudante Carol Lam marcou presença na iniciativa que decorreu junto à biblioteca da Universidade de Macau, com uma faixa no cabelo, na qual pedia liberdade académica e de expressão, e o fim da opressão da política.

A mesma faixa era ainda ornamentada por um laço amarelo, em apoio aos estudantes de Hong Kong, que há mais de um mês protestam em Hong Kong em prol do sufrágio universal, explicou.

Carol Lam disse estar sobretudo preocupada com a liberdade académica: "A Universidade diz que respeita a liberdade académica e a independência política, mas eu, enquanto aluna, não consigo ver nada disso", afirmou, ao defender que as instituições de ensino superior deviam estar mais preocupadas com o contributo que os professores podem dar para o desenvolvimento intelectual, em vez de recearem eventuais influências das suas orientações políticas nas salas de aulas.

Bill Chou, antigo professor de Ciência Política da Universidade de Macau, também presente no debate, disse aos jornalistas que "a liberdade académica não melhorou" desde o seu despedimento da Universidade de Macau e do também docente Éric Sautedé, da Universidade de São José.

O académico apontou a falta de autonomia das instituições de ensino superior de Macau e a fraqueza das associações do sector na defesa dos direitos dos professores.

"Ao contrário do que acontece nos países ocidentais, os docentes em Macau não estão protegidos, incluindo de eventuais ações de discriminação", afirmou.

Nesse sentido, defendeu que, "do ponto de vista institucional, a Universidade de Macau e mesmo outras universidades não mudaram".

"Antes de uma reforma institucional não me parece que haja suficiente proteção institucional e liberdade académica e de expressão", reiterou.

O debate incluiu o tema do assédio sexual, depois de um alegado caso recente que envolveu um professor, suspenso por 12 dias, e uma aluna.

A Universidade de Macau relatou este mês que nos últimos seis anos recebeu duas queixas de assédio sexual.

No debate, os estudantes exibiram ainda algumas fotos para evidenciar o estado de degradação de algumas instalações do novo campus universitário.

FV (ISG) // APN - Lusa

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