Folha
8 Digital (ao) – 05 dezenbro 2014
O
julgamento dos alegados assassinos de Cassule e Kamulingue, não pára de
surpreender, pois, a cada dia e sessão de julgamento, surge uma nova revelação
sobre a recambolesca trama homicida, levada à cabo por altos oficiais da
secreta e polícia angolana.
Nas
sessões de julgamento da semana de 01 à 05.12, a sala da 6.ª secção do
Tribunal Provincial de Luanda, teve um dos principais protagonistas,
alegadamente, envolvido nos assassinatos de Alves Cassule e Isaías Kamulingue,
mais concretamente, o réu Júnior Maurício, mais conhecido por “Cheu”, à altura
dos factos, chefe do gabinete Técnico do Secretariado Provincial do MPLA de
Luanda e do co-réu João Luís Fragoso.
Dele
havia muita expectativa e esta veio, do ponto de vista da clareza dos
depoimentos, principalmente de “Cheu” ao confirmar o que muito se suspeitava.
A existência de um serviço de inteligência secreto, no Comité Provincial do
MPLA de Luanda, dependendo e coordenado directamente pelo 1.º Secretário
Provincial, Bento Bento de quem dependia e prestava contas. “Eu trabalhava
nesse gabinete, como oficial operativo e o financiamento provinha do general
Filó que é o director adjunto dos Serviços de Inteligência Militar.”
Este
oficial camuflado como militante reconhece, que tinha como chefe directo, João
Francisco Kinguengo, “Luta”, que, também, estabelecia contactos com os Serviços
de Inteligência e Segurança de Estado (SINSE) e com os Serviços de
Inteligência Militar, na pessoa do adjunto do general José Maria, o também,
general Filó.
“O
Cheu sempre colaborou com o general Filó desde o tempo em ambos estavam na
Marinha de Guerra, o oficial superior como responsável da Contra Inteligência
Militar e o Cheu como simples operativo”, ouviu-se na barra.
Mais
adiante, foi detonada outra “granada”, ao afirmar-se ter, um belo dia, o
“chefe confidenciado ao também réu João Fragoso, que o general Filó é quem financiava
o grupo de colaboradores do MPLA comandado pelo Cheu”.
Foi
ainda dito ter saído, também, da algibeira do general Filó recomendações
precisas ao “Cheu” para o rapto de Cassule, “mas apenas para dar-lhe uma surra,
não para o matar”, reconheceu.
Mais
adiante, deu a conhecer ter o MPLA, um programa de “COMBATE POLÍTICO” que
visa neutralizar activistas políticos de outros partidos e os manifestantes.
Foi
com base neste programa, que activistas como Luaty Beirão, Rafael Marques de
Morais, Casimiro Carbono e o político Filomeno Viera Lopes foram selvática e
“programaticamente” espancados e torturados.
FAMÍLIAS
INDIGNADAS MOVERÃO
PROCESSO CRIME
CONTRA GENERAL
FILÓ
Perante
os factos esgrimidos na barra judicial, os assistentes das famílias das
vitimas decidiram extrair certidões destes chocantes depoimentos para moverem
um processo crime contra o general Filó por acharem ser o mesmo, autor moral
dos crimes cometidos por membros do MPLA e seus colaboradores financiados
pelo general Filó, por atentarem contra a Constituição e a Lei dos Partidos
Políticos, que proíbe a estes, a criação de forças militares ou para-militares.
Sendo
certo o facto do general Filó ser conhecedor dos responsáveis pelo rapto e
morte de Cassule, a ele assistia a obrigatoriedade de denunciar o crime.
Não
tendo agido em conformidade com a lei, sendo alto responsável de um órgão de
Segurança de Estado, incorreu no cometimento de um crime de encobrimento,
previsto e punível nos termos do artigo 23.º do Código Penal, por dever de
informar aos órgãos competentes quem eram os presumíveis autores.
“E,
tendo ainda em conta, as funções que o mesmo desempenha nos Serviços de Inteligência
Militar, tinha a obrigação de informar a Casa Militar da Presidência da
República, os factos que teriam levado a morte do Cassule e nunca ocultar tais
factos”, esclareceu um magistrado judicial.
Mas,
sobre estas denúncias, existe ainda a probabilidade, agora de ser arrolado
como testemunha, ou na pior das hipóteses, como declarante, o ex-governador provincial
e actual 1.º secretário do MPLA de Luanda, Bento Bento acusado de ter extinto
do governo provincial, o ex- chefe do SINSE de Luanda, dispensando todas
actividades deste órgão, para criar uma área de segurança e ordem pública,
tendo como um dos assessores o actual réu, Cheu, responsável pela morte de
Alves Cassule e um dos principais recrutadores de agentes secretos, fora do
controlo do SINSE, em função de ter sido criado, na sede provincial do MPLA, um
órgão paralelo, que infiltrava agentes nas outras formações partidárias,
organizações da sociedade civil e de grupos juvenis de contestação, com o
objectivo do cometimento de raptos, espancamentos e assassinatos de opositores
políticos no quadro de um famigerado “PROGRAMA DE COMBATE POLÍTICO.
Agora
vamos ver os desenvolvimentos dos próximos capítulos.
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