Moradores
continuam a entrar em Chã das Caldeiras apesar da interdição imposta pelo SNPCB
Os
moradores de Chã das Caldeiras continuam a entrar na caldeira para cuidar dos
terrenos e dos animais e para colheita de feijões (congo e fava), apesar da
interdição imposta pelo Serviço Nacional de Protecção Civil e Bombeiros
(SNPCB).
Na
quinta-feira, mais de três dezenas de moradores, na sua maioria jovens, entram
no interior a recolher pastos para os animais e feijões e cuidar dos campos de
cultivo, com medo de que alguns indivíduos possam fazer o desfruto dos seus
trabalhos.
Carlos
Fernandes "Yaya", um dos deslocados e com residência em Achada Furna na
sequência da erupção vulcânica, que estava a fazer colheita de feijão, disse à
Inforpress que se vê obrigado a deslocar-se a Chã, porque conforme explicou
"não dá para ficar sentado em Achada Furna , com braços cruzados sem fazer nada,
à espera de bocado de coisas que nem da para sustentar a família".
"É
muito aborrecido ficar sentado, sem fazer nada. Quando venho a Chã, fico menos
enfadado que em Achada
Furna , somente a pensar muito nos estragos da erupção",
disse Yaya, notando que "anda para esquecer um pouco".
A
colheita de feijão serve para enriquecer a dieta alimentar da família e mesmo
para vender e adquirir outros produtos, já que, segundo o mesmo, em Achada Furna , o
sistema montado na distribuição de géneros e outros produtos não funciona da
melhor maneira.
Não
obstante a tragédia que destruiu quase na totalidade os povoados de Portela e
Bangaeira, Carlos Fernandes "Yaya", cuja habitação foi consumida
pelas lavas, já tem planos para futuro e espera que quando a lava acalmar, as
autoridades venham a construir uma passagem para acesso a outro lado, não
calcetada, para permitir às pessoas chegar aos respectivos campos de cultivo de
fruteiras em Montinho e Penedo, e em Rachado, para cuidar dos seus terrenos.
Este
disse que parte do seu terreno de cultivo ficou queimada, mas que a outra é
aproveitável ainda para a prática agrícola e que a “vida contínua”.
Adiantou
que neste momento é necessário proceder-se à poda das fruteiras, caso contrário
não irão produzir nada no próximo ano, “complicando ainda mais a situação”.
A
poda, conforme explicou, é feita em Fevereiro e até lá espera que a lava esteja
calmo e permita a passagem, esperando que as autoridades tenham construído o
acesso, porque para percorrer a pé desde Curral Asno até Portela, por si só
“representa um dia de trabalho”.
“Chã
era uma zona que abastecia a ilha inteira, mas acabou. Não sentimos grande
prazer em morar na caldeira, regressamos só para trabalhar e sair no final do
dia, já nem para dormir dá”, disse Yaya.
Outras
pessoas que se encontravam na caldeira na colheita de feijões, contactadas pela
Inforpress afirmaram que o feijão-verde faz parte dos hábitos alimentares dos
moradores de Chã d as Caldeiras e que este ano, apesar de produção de feijão
ser inferior, comparativamente com os anos anteriores, por escassez de chuvas,
ainda há muito feijão por apanhar nos campos que não foram engolidos pelas
lavas.
Enquanto
a entrada não for facilitada pelas autoridades, muitos dos moradores, sobretudo
os mais jovens, entram através dos caminhos existentes nas rochas ou se
deslocam muito cedo, por volta das 02:00 de madrugada, para escaparem ao
controlo das autoridades.
As
famílias instaladas nos centros de acolhimento de Monte Grande e Achada Furna
recebem, semanalmente, uma cesta básica e, diariamente, pão, bolacha, leite,
sumo e água, mas queixam-se da quantidade disponibilizada para cada família.
*Título PG
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