Verdade
(mz) - Editorial
Em
poucas horas, entre a noite da última segunda-feira e a manhã de terça-feira,
os problemas de falta de projectos de engenharia e consistência das construções
públicas e privadas, na cidade de Maputo, mormente na periferia, foram, mais
uma vez, expostos pela chuva. E, certamente, nenhuma lição se tira desta
situação, nem por parte das autoridades nem das vítimas. Aqueles com quem
celebramos o “contrato social” fingem que não ouvem os gritos atroadores de
pedidos de socorro.
As
mesmas vias públicas, as mesmas machambas, as mesmas casas e as mesmas escolas
que há meses foram submersas pela água da precipitação voltaram a ficar
alagadas, tendo-se agravado o estado precário em que se encontravam. O cenário
repete-se anualmente. Do lado dos citadinos, indigna-nos a relutância de
permanecerem nos mesmos lugares nos dias de chuva. Nada aprendem com o
sofrimento das épocas chuvosas passadas. Os riscos que corremos viram uma
maneira de viver plasmada no dia-a-dia das comunidades.
Apesar
de as autoridades que tratam dos fenómenos atmosféricos e das suas leis, com
vista à previsão do tempo avisarem, sempre, que a chuva vai cair e poderá
causar “excesso” de água ou inundações, as vítimas permanecem nos mesmos
lugares e ficam à espera de serem evacuadas. O povo espera melhores práticas
por parte do Governo nesse sentido mas este já provou a sua incapacidade para
tal. É preciso, por iniciativa própria, fugir das zonas de risco para não se
depender dos planos de contingência de uma autoridade que não consegue, sequer,
atribuir um talhão devidamente demarcado, e até porque os tais programas de
contingência nunca foram eficazes para se evitar tragédias.
Não
podemos ficar à espera de que o Governo nos procure para nos dizer para onde
nos devemos dirigir para escaparmos da fúria das águas. O caminho que nos leva
até lá é o mesmo de sempre, mas não se deve nunca retornar à origem. Agir de
tal forma é um sinal de cidadania e de maturidade, que não depende de nenhuma
autoridade política para surtir efeitos na vida de cada um. As pessoas que
ignoram as previsões de tempo do Instituto de Meteorologia e ficam à espera de
que o município ou o INGC, por exemplo, lhes indique onde se devem refugiar
arriscam-se a morrer por negligência, aguardando por uma salvação que talvez
nunca chegue.
O
Governo, a quem tanto se pede uma vida digna e um saneamento do meio com
qualidade, tem o dever de garantir tais condições para todos, mas entre o que
se promete fazer e a realidade existe uma distância abismal capaz de endoidecer
qualquer um. Se as pessoas abandonassem as zonas de risco enquanto cedo e não
ficassem à espera de soluções milagrosas, as lamentações em torno de vidas
humanas jamais fariam sentido. Não se pode ficar levianamente à espera de que o
Executivo distribua talhões ou casas até porque estes não chegariam para todos.
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