Daniel
Oliveira – Expresso, opinião
O
governo e a administração da TAP, que se preparam para entregar um ativo
fundamental para o País a quem seguramente não terá como critério os interesses
nacionais, estão a tentar virar os portugueses contra a greve marcada para a
empresa. Deram-nos números. Falaram sobre os prejuízos para o turismo. As
greves, ao que parece, deveriam ser feitas quando não têm efeito algum. Só aí
os que repetem sempre que são a favor do direito à greve mas consideram todas
as greves ilegítimas ou erradas, talvez aceitem que se podem fazer. A greve
ideal, do seu ponto de vista, é aquela em que apenas os trabalhadores sejam
prejudicados, perdendo o rendimento do dia de trabalho sem afetar a empresa.
Interessa-me
saber quando custará a greve da TAP à transportadora aérea? Sim, interessa. Mas
gosto de contas completas. E por isso gostava que alguém se desse ao trabalho
de saber quanto custará, no futuro, a sua privatização. Sim, acho
interessantíssimo saber quanto perde o turismo nacional por não a ter a TAP a
funcionar no fim do ano. Mas acho ainda mais relevante saber quando perderá o
turismo nacional quando os novos donos da TAP decidirem que há prioridades mais
interessantes ou escalas mais vantajosas do que os aeroportos nacionais. Ou
quando a venderem a outros e Portugal ficar sem companhia aérea. Aí, todos
perguntarão, como perguntam hoje com a PT: como foi isto possível?
Bem
sei que é hábito nacional pensar apenas no dia seguinte. Mas seria muito
interessante perceber quanto custa, todos os anos, a privatização da EDP, paga
pela economia com uma factura energética sufocante. Ou quanto já está a custar
a privatização da ANA, cujas tarifas triplicaram poucos dias depois da
privatização. Ou quem compensará a perda em dividendos. Só os
CTT e os 20% da EDP, recentemente privatizados, davam ao Estado, em dividendos,
todos os anos, o mesmo que se ganhou com a redução de custos da dívida em todas
as privatizações que se fizeram nestes anos. É um mau negócio e deixamos a
factura para os nossos filhos e netos. Ou quanto custará a privatização da REN
ou das Águas e total perda de poder sobre o nosso próprio futuro. Sei que tudo
o que perdemos com estas vendas ao desbarato foi bem mais do que teríamos
perdido com qualquer greve que as tivesse travado.
E
por favor, não me venham falar de cadernos de encargos. Temos olhado com
atenção para o que acontece a todas as empresas que se privatizam. Sabemos com
a chinesa Three Gorges se esteve nas tintas para a fábrica de turbinas eólicas
que se comprometeu a instalar em Portugal, quando negociou a compra da EDP. Ou
como os alemães nunca cumpriram as contrapartidas dos submarinos. O problema é
a impossibilidade, determinada por uma União Europeia que tem como objetivo
destruir as pequenas companhias aéreas de bandeira, do Estado injetar dinheiro na
TAP. Lute-se, na Europa, contra uma regra que não tem qualquer sentido que não
seja a de estipular, como convicção ideológica, que os Estados não têm o
direito soberano a ter empresas suas e a garantir a sua saúde financeira. Que a
concorrência é um valor absoluto, acima do interesse público.
Assim,
só criticarei a greve da TAP se ela não conseguir ser suficientemente eficaz
para travar este crime contra o País. E se os dirigentes sindicais não
conseguirem falar para fora, conquistando os portugueses para a defesa de uma empresa
que foi construída por nós todos, através do Estado.
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