quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Portugal: E QUANTO CUSTARÁ NÃO TRAVAR A PRIVATIZAÇÃO DA TAP?



Daniel Oliveira – Expresso, opinião

O governo e a administração da TAP, que se preparam para entregar um ativo fundamental para o País a quem seguramente não terá como critério os interesses nacionais, estão a tentar virar os portugueses contra a greve marcada para a empresa. Deram-nos números. Falaram sobre os prejuízos para o turismo. As greves, ao que parece, deveriam ser feitas quando não têm efeito algum. Só aí os que repetem sempre que são a favor do direito à greve mas consideram todas as greves ilegítimas ou erradas, talvez aceitem que se podem fazer. A greve ideal, do seu ponto de vista, é aquela em que apenas os trabalhadores sejam prejudicados, perdendo o rendimento do dia de trabalho sem afetar a empresa.

Interessa-me saber quando custará a greve da TAP à transportadora aérea? Sim, interessa. Mas gosto de contas completas. E por isso gostava que alguém se desse ao trabalho de saber quanto custará, no futuro, a sua privatização. Sim, acho interessantíssimo saber quanto perde o turismo nacional por não a ter a TAP a funcionar no fim do ano. Mas acho ainda mais relevante saber quando perderá o turismo nacional quando os novos donos da TAP decidirem que há prioridades mais interessantes ou escalas mais vantajosas do que os aeroportos nacionais. Ou quando a venderem a outros e Portugal ficar sem companhia aérea. Aí, todos perguntarão, como perguntam hoje com a PT: como foi isto possível?

Bem sei que é hábito nacional pensar apenas no dia seguinte. Mas seria muito interessante perceber quanto custa, todos os anos, a privatização da EDP, paga pela economia com uma factura energética sufocante. Ou quanto já está a custar a privatização da ANA, cujas tarifas triplicaram poucos dias depois da privatização. Ou quem compensará a perda em dividendos. Só os CTT e os 20% da EDP, recentemente privatizados, davam ao Estado, em dividendos, todos os anos, o mesmo que se ganhou com a redução de custos da dívida em todas as privatizações que se fizeram nestes anos. É um mau negócio e deixamos a factura para os nossos filhos e netos. Ou quanto custará a privatização da REN ou das Águas e total perda de poder sobre o nosso próprio futuro. Sei que tudo o que perdemos com estas vendas ao desbarato foi bem mais do que teríamos perdido com qualquer greve que as tivesse travado.

E por favor, não me venham falar de cadernos de encargos. Temos olhado com atenção para o que acontece a todas as empresas que se privatizam. Sabemos com a chinesa Three Gorges se esteve nas tintas para a fábrica de turbinas eólicas que se comprometeu a instalar em Portugal, quando negociou a compra da EDP. Ou como os alemães nunca cumpriram as contrapartidas dos submarinos. O problema é a impossibilidade, determinada por uma União Europeia que tem como objetivo destruir as pequenas companhias aéreas de bandeira, do Estado injetar dinheiro na TAP. Lute-se, na Europa, contra uma regra que não tem qualquer sentido que não seja a de estipular, como convicção ideológica, que os Estados não têm o direito soberano a ter empresas suas e a garantir a sua saúde financeira. Que a concorrência é um valor absoluto, acima do interesse público.

Assim, só criticarei a greve da TAP se ela não conseguir ser suficientemente eficaz para travar este crime contra o País. E se os dirigentes sindicais não conseguirem falar para fora, conquistando os portugueses para a defesa de uma empresa que foi construída por nós todos, através do Estado.

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