sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Portugal: FAZ SENTIDO




O grande capital já tem a máquina da “alternância” devidamente oleada. Já mudou as caras no PS, já tem no terreno “novas” forças de “esquerda não sectária” – ou seja, dispostas a associar-se ao PS por qualquer prato de lentilhas -, e fará todos os esforços para que o Governo PSD/CDS realize o máximo de trabalho sujo até ser corrido. Mas convencer o eleitorado de que o PS se situa “à esquerda” não é fácil. Os portugueses já são capazes de estar demasiadamente escaldados.

Quem achar que os problemas do PS e de António Costa se situam em certos processos judiciais está enganado. O principal problema que têm é o seu currículo e a memória que o povo tem dele. Podem encenar «candidaturas a primeiro-ministro», podem chamar «gandhi» a Costa, podem recorrer a todo o arsenal da mistificação comunicacional. Mas no fundo o seu único trunfo é a amnésia. E talvez também o desespero provocado pela política de que há mais de 38 anos são, à vez, cúmplices ou agentes activos. O desespero, infelizmente, é mau conselheiro.

A «unidade» do PS à volta de Costa traduziu-se no cortejo de gerações de figuras da política de direita que esteve presente no congresso do fim-de-semana. E tão significativas como as presenças foram algumas ausências, cautelosamente varridas para debaixo do tapete. Cuidado que teve falhas em relação aos momentos de solidariedade internacional. É certo que o PSF de Hollande, o mais impopular presidente francês da história, não constou. É certo que os «trabalhistas» de Israel, esse aguerrido braço do sionismo, também não constaram. É certo que do «New Labour» é melhor nem falar. Podia fazer-se uma extensa lista das companhias internacionais que, em ano de eleições, é preferível ao PS omitir.

Mas tiveram a imprudência de receber uma mensagem em vídeo de Matteo Renzi, o primeiro-ministro italiano. Segundo os jornais, Renzi espera trabalhar com Costa para «dar esperança aos mais pobres», num «novo ânimo» à Europa. Ora a primeira lição que o PS devia ter presente é evitar saudações de forças amigas que estão no poder. Renzi tomou posse em Fevereiro deste ano. Desde então, a sua política de «dar esperança aos mais pobres» já se manifesta estatisticamente: o número de desempregados aumentou 180 mil, numa Itália economicamente estagnada, com 3,41 milhões de inscritos nas listas de desempregados, onde o desemprego juvenil é da ordem dos 43,3%, onde 708 mil jovens procuram trabalho. Em Outubro, para acrescentar essa «esperança», colocou em hasta pública para venda a preços de mercado toda a habitação social pública. É este traste, que consegue empreender coisas que nem Berlusconi tentou, que o PS de Costa destacou para dar lustro internacional ao seu congresso.

Faz sentido.

*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2140, 4.12.2014

Foto Alberto Frias em Expresso

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