O
grande capital já tem a máquina da “alternância” devidamente oleada. Já mudou
as caras no PS, já tem no terreno “novas” forças de “esquerda não sectária” –
ou seja, dispostas a associar-se ao PS por qualquer prato de lentilhas -, e
fará todos os esforços para que o Governo PSD/CDS realize o máximo de trabalho
sujo até ser corrido. Mas convencer o eleitorado de que o PS se situa “à
esquerda” não é fácil. Os portugueses já são capazes de estar demasiadamente
escaldados.
Quem
achar que os problemas do PS e de António Costa se situam em certos processos
judiciais está enganado. O principal problema que têm é o seu currículo e a
memória que o povo tem dele. Podem encenar «candidaturas a primeiro-ministro»,
podem chamar «gandhi» a Costa, podem recorrer a todo o arsenal da mistificação
comunicacional. Mas no fundo o seu único trunfo é a amnésia. E talvez também o
desespero provocado pela política de que há mais de 38 anos são, à vez,
cúmplices ou agentes activos. O desespero, infelizmente, é mau conselheiro.
A
«unidade» do PS à volta de Costa traduziu-se no cortejo de gerações de figuras
da política de direita que esteve presente no congresso do fim-de-semana. E tão
significativas como as presenças foram algumas ausências, cautelosamente
varridas para debaixo do tapete. Cuidado que teve falhas em relação aos
momentos de solidariedade internacional. É certo que o PSF de Hollande, o mais
impopular presidente francês da história, não constou. É certo que os
«trabalhistas» de Israel, esse aguerrido braço do sionismo, também não
constaram. É certo que do «New Labour» é melhor nem falar. Podia fazer-se uma
extensa lista das companhias internacionais que, em ano de eleições, é
preferível ao PS omitir.
Mas
tiveram a imprudência de receber uma mensagem em vídeo de Matteo Renzi, o
primeiro-ministro italiano. Segundo os jornais, Renzi espera trabalhar com
Costa para «dar esperança aos mais pobres», num «novo ânimo» à Europa. Ora a
primeira lição que o PS devia ter presente é evitar saudações de forças amigas
que estão no poder. Renzi tomou posse em Fevereiro deste ano. Desde então, a
sua política de «dar esperança aos mais pobres» já se manifesta
estatisticamente: o número de desempregados aumentou 180 mil, numa Itália
economicamente estagnada, com 3,41 milhões de inscritos nas listas de
desempregados, onde o desemprego juvenil é da ordem dos 43,3%, onde 708 mil
jovens procuram trabalho. Em Outubro, para acrescentar essa «esperança»,
colocou em hasta pública para venda a preços de mercado toda a habitação social
pública. É este traste, que consegue empreender coisas que nem Berlusconi
tentou, que o PS de Costa destacou para dar lustro internacional ao seu
congresso.
Faz
sentido.
*Este
artigo foi publicado no “Avante!” nº 2140, 4.12.2014
Foto
Alberto Frias em Expresso
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