Rita
Tavares – jornal i
A
expressão utilizada por Passos no fim-de-semana passado foi aproveitada pela
oposição que criticou o discurso “esperançoso” do governo no debate quinzenal
No
último debate quinzenal deste ano, o primeiro-ministro escolheu o balanço da
situação económica do país para a sua intervenção e concluiu que para 20115
existe “uma perspectiva mais positiva e esperançosa para todos os portugueses”.
E garantiu que a recuperação da economia portuguesa está a ser feita de forma
“sustentável e saudável, quer do lado da procura interna, quero do
investimento!”. Mas na oposição os ataques foram quase em uníssono,
aproveitando uma expressão recentemente usada por Passos: “Quem se lixou foi
mesmo o mexilhão.”
O
chefe do executivo voltou aos quinzenais dois meses depois (estes debates foram
interrompidos devidos aos trabalhos sobre o Orçamento do Estado para o próximo
ano) e repetiu que os últimos dados do Banco de Portugal e do INE mostram que
se “mantém a tendência de crescimento”, argumentando que o investimento feito
até aqui está a ser dirigido para “o sector transaccionável e não está a ser
transformado em betão ou colocado na economia protegida”. Além disso, Passos vê
ainda “uma trajectória de desendividamento progressivo” e o emprego “a crescer
de uma forma muito sustentada”, apesar de admitir “níveis muito elevados” de
desemprego.
Um
balanço contrariado pela oposição. Pelo PS, Ferro Rodrigues foi o primeiro a
contestá-lo, recorrendo ao que Passos disse nos últimos dias - “desta vez quem
se lixou não foi o mexilhão”. O adágio, explicou Passos no debate, foi usado
“para dizer que nesta crise todos fomos chamados a contribuir”. Mas Ferro
enumerou os efeitos com os cortes em subsídios sociais, “o desemprego de longa
duração”, o aumento de trabalhadores precários, “os desempregados que
emigraram” para concluir de forma repetida: “Na sua linguagem marítima trata-se
de mexilhão ou lagosta, senhor primeiro-ministro?”
Para
o líder parlamentar socialista, a análise de Passos teve um “registo de
negação, irrealismo e de efabulação”. E acrescentou que o governo está “em
trânsito de uma estratégia neoliberal, para uma estratégia neopopulista”,
ouvindo Passos atirar de volta: “Não arrancámos com neoliberalismo, mas com o
Memorando de entendimento negociado pelo PS.”
Mas
no PCP, Jerónimo de Sousa também atacou Passos pelo mesmo flanco, atirando à
“insensibilidade social” do governo: “Quem era pobre, pobre ficou e quem se
lixou foram os que não sendo pobres, passaram a ser? É destes que fala senhor
primeiro-ministro?“. E o líder comunista ainda se indignou com a análise
económica deixada pelo chefe do executivo: “Não venha com o argumento que
estamos melhor que a Grécia, até pode dizer que estamos melhor que o Biafra,
mas é isso que o consola, senhor primeiro-ministro?”. E Passos
defendeu-se garantindo não estar a ignorar os “portugueses que ainda passam
sérias dificuldades”.
Já
Catarina Martins, do Bloco de Esquerda, aproveitou a expressão mais repetida
neste debate quinzenal para acusar o executivo de favorecer os poderosos.
“Quando estão em causa os novos donos disto tudo, abandona logo o mexilhão”,
acusou a deputada bloquista.
Foto:
Miguel A. Lopes / Lusa
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