sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Portugal: AFINAL QUEM SE LIXOU FOI O MEXILHÃO?



Rita Tavares – jornal i

A expressão utilizada por Passos no fim-de-semana passado foi aproveitada pela oposição que criticou o discurso “esperançoso” do governo no debate quinzenal

No último debate quinzenal deste ano, o primeiro-ministro escolheu o balanço da situação económica do país para a sua intervenção e concluiu que para 20115 existe “uma perspectiva mais positiva e esperançosa para todos os portugueses”. E garantiu que a recuperação da economia portuguesa está a ser feita de forma “sustentável e saudável, quer do lado da procura interna, quero do investimento!”. Mas na oposição os ataques foram quase em uníssono, aproveitando uma expressão recentemente usada por Passos: “Quem se lixou foi mesmo o mexilhão.”

O chefe do executivo voltou aos quinzenais dois meses depois (estes debates foram interrompidos devidos aos trabalhos sobre o Orçamento do Estado para o próximo ano) e repetiu que os últimos dados do Banco de Portugal e do INE mostram que se “mantém a tendência de crescimento”, argumentando que o investimento feito até aqui está a ser dirigido para “o sector transaccionável e não está a ser transformado em betão ou colocado na economia protegida”. Além disso, Passos vê ainda “uma trajectória de desendividamento progressivo” e o emprego “a crescer de uma forma muito sustentada”, apesar de admitir “níveis muito elevados” de desemprego.

Um balanço contrariado pela oposição. Pelo PS, Ferro Rodrigues foi o primeiro a contestá-lo, recorrendo ao que Passos disse nos últimos dias - “desta vez quem se lixou não foi o mexilhão”. O adágio, explicou Passos no debate, foi usado “para dizer que nesta crise todos fomos chamados a contribuir”. Mas Ferro enumerou os efeitos com os cortes em subsídios sociais, “o desemprego de longa duração”, o aumento de trabalhadores precários, “os desempregados que emigraram” para concluir de forma repetida: “Na sua linguagem marítima trata-se de mexilhão ou lagosta, senhor primeiro-ministro?”

Para o líder parlamentar socialista, a análise de Passos teve um “registo de negação, irrealismo e de efabulação”. E acrescentou que o governo está “em trânsito de uma estratégia neoliberal, para uma estratégia neopopulista”, ouvindo Passos atirar de volta: “Não arrancámos com neoliberalismo, mas com o Memorando de entendimento negociado pelo PS.”

Mas no PCP, Jerónimo de Sousa também atacou Passos pelo mesmo flanco, atirando à “insensibilidade social” do governo: “Quem era pobre, pobre ficou e quem se lixou foram os que não sendo pobres, passaram a ser? É destes que fala senhor primeiro-ministro?“. E o líder comunista ainda se indignou com a análise económica deixada pelo chefe do executivo: “Não venha com o argumento que estamos melhor que a Grécia, até pode dizer que estamos melhor que o Biafra, mas é isso que o consola, senhor primeiro-ministro?”.  E Passos defendeu-se garantindo não estar a ignorar os “portugueses que ainda passam sérias dificuldades”.

Já Catarina Martins, do Bloco de Esquerda, aproveitou a expressão mais repetida neste debate quinzenal para acusar o executivo de favorecer os poderosos. “Quando estão em causa os novos donos disto tudo, abandona logo o mexilhão”, acusou a deputada bloquista.

Foto: Miguel A. Lopes / Lusa

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