Artur
Pereira – jornal i, opinião
Esta
é a hora e a oportunidade de os cidadãos encontrarem os meios e as formas de se
organizarem e romperem com a actual correlação de forças...
Paira
uma ameaça sobre Portugal, não é nova. Os portugueses conhecem-na, embora nem
sempre identifiquem os propagadores da peçonha e a dimensão dos seus perigos e,
no entanto, sem uma vigilância profiláctica e um combate decidido, os seus
efeitos para a comunidade são devastadores.
Essa
ameaça tem um nome: Bloco Central. Convém esclarecer que só por cínica
conveniência política se pode confundir bloco central com centro político.
Nada
de mais errado. Há que distinguir os interesses do centro do centro dos
interesses. O primeiro corresponde a uma legítima ambição da classe média e de
todos os que se encontram neste espaço socioeconómico de melhorar as suas
condições de vida e defender os seus direitos. O segundo corresponde à relação
adúltera entre PS e PSD, com o CDS pela mão, assinalada como Centrão.
E
se nem sempre o bloco central político foi evidente nos acordos para a
governação, já o Centrão dos interesses nunca mais nos abandonou e, ao longo
destes anos, conseguiu sempre encontrar entre os protagonistas do PS, PSD e
CDS, travestidos de gestores, banqueiros e peritos, os necessários entendimentos
para o favorecimento de lóbis e enriquecimento pessoal. Tudo isto às custas do
sofrimento dos portugueses e do empobrecimento de Portugal.
Os
responsáveis têm nome e apelido. Pinto de sousa, mendes, vitorinos, cavacos,
portas, marcelos, costas, citando por falta de espaço só alguns: são eles, uns
por responsabilidade directa, outros por cumplicidade e cobardia, tendo vivido
todos estes anos sob o Estado e do Estado, os responsáveis pelas políticas que
nos levaram ao colapso social e financeiro, à degradação ética e de princípios
e ao afastamento dos cidadãos da política.
Eles
são os verdadeiros anti-sistema. Foram eles, com o nó da gravata bem feito, que
destruíram o sistema por dentro, fragilizando as instituições que deviam
defender os cidadãos da corrupção e abastardando a legalidade que diziam
defender. Andavam a dinamitar o sistema por dentro.
Destruíram-no,
ano após ano, pacientemente, em cada caso de corrupção, em cada familiar
instalado, em cada tráfico de influências, em cada fortuna inexplicável, em
cada pública incompetência, em cada lei por medida, em cada roubo público para
benefício pessoal. Foram eles, os do arco da governação, com o seu exemplo e
práticas, os destruidores do sistema.
Foram
eles, que levaram a nação ao abismo, que agora nos dizem, com consternado
cinismo, que governar é muito difícil.
Cheirando
a hipótese de mudança, preparam-se já, ansiosos e gulosos, os do PS em
abstinência, os do CDS em pânico e os do PSD por ingratidão esquecidos, para
voltar aos bons velhos tempos. É uma curiosa mas irremediável contradição entre
a actual direita neoliberal e uma direita que, prevendo o fim de um ciclo, opta
por uma estratégia de somar para se perpetuar.
A
campanha já está aí na imprensa que, por preguiça ou propensão, deixa óbvio que
não existe outra saída que não seja a de um próximo governo de bloco central
PS/PSD.
E
mesmo a "deriva" esquerdista de Costa com o útil Tavares necessitou
do imediato esclarecimento de que era apenas um suponha-se... Nós sabemos, o PS
acabará por governar com a direita, como sempre fez - está-lhes na história e
nos seus interesses.
Mas
esta é também a hora e a oportunidade de os cidadãos encontrarem os meios e as
formas de se organizarem e romperem com a actual correlação de forças,
construindo maiorias que permitam outras alternativas de governação. Existem
outros caminhos.
Os
cidadãos não permitirão que transformem o que em Abril foi a primavera da
esperança no inverno do nosso desespero.
Consultor
de comunicação - Escreve às quintas-feiras
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