David
Pontes – Jornal de Notícias, opinião
Por
estes dias, o economista norte-americano Nouriel Roubini veio avisar que se
está a formar uma bolha nos mercados financeiros que deverá rebentar com todo o
seu esplendor de desgraça lá para o ano de 2016. A "mãe de todas
as bolhas", chamou-lhe ele.
Antes
de começarmos a esboçar um sorriso desdenhoso perante quem se atreve a envergar
as vestes de profeta, convém lembrar que este é o homem que em 2006 foi
ridicularizado por prever a bolha imobiliária no mercado norte-americano...que
acabaria por rebentar em 2008, com as consequências que ainda hoje todos
sofremos. Não é impunemente que se ganha o apelido de "Dr. Doom" [Dr.
Desgraça].
Com
as bolsas europeias a registarem o seu melhor período desde há sete anos, com
Wall Street a negociar em novos máximos históricos, poderíamos ler nos tempos
que correm sinais de recuperação económica. Infelizmente, as bolhas fazem-se
dessa ilusão de valor, a que não corresponde uma realidade material, e se
Roubini tiver razão, mais tarde ou mais cedo, essa ilusão irá desvanecer.
A
verdade é que os mercados financeiros não aprenderam nada com as sucessivas
crises e continuam a escapar a uma regulação firme. É pelo menos esse o retrato
que nos fica do reality-show financeiro da comissão de inquérito ao caso BES.
Gente que vive na sua muito própria bolha, empenhada em guerras privadas, em
construir a sua narrativa, em apontar um culpado. E o maior risco pode ser nós
contentarmo-nos com esta ilusão de justiça, acreditando que, agora sim, "os
poderosos estão a pagar", só porque estão debaixo dos holofotes. Com tanta
luz e tanta exposição, corremos o risco de ficar ofuscados e não perceber que o
sistema permanece intocável e pouco se fez (ou se fará?) para que 2016 não
suceda a 2008.
Sem comentários:
Enviar um comentário