quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

UMA BOLHA DE JUSTIÇA



David Pontes – Jornal de Notícias, opinião

Por estes dias, o economista norte-americano Nouriel Roubini veio avisar que se está a formar uma bolha nos mercados financeiros que deverá rebentar com todo o seu esplendor de desgraça lá para o ano de 2016. A "mãe de todas as bolhas", chamou-lhe ele.

Antes de começarmos a esboçar um sorriso desdenhoso perante quem se atreve a envergar as vestes de profeta, convém lembrar que este é o homem que em 2006 foi ridicularizado por prever a bolha imobiliária no mercado norte-americano...que acabaria por rebentar em 2008, com as consequências que ainda hoje todos sofremos. Não é impunemente que se ganha o apelido de "Dr. Doom" [Dr. Desgraça].

Com as bolsas europeias a registarem o seu melhor período desde há sete anos, com Wall Street a negociar em novos máximos históricos, poderíamos ler nos tempos que correm sinais de recuperação económica. Infelizmente, as bolhas fazem-se dessa ilusão de valor, a que não corresponde uma realidade material, e se Roubini tiver razão, mais tarde ou mais cedo, essa ilusão irá desvanecer.

A verdade é que os mercados financeiros não aprenderam nada com as sucessivas crises e continuam a escapar a uma regulação firme. É pelo menos esse o retrato que nos fica do reality-show financeiro da comissão de inquérito ao caso BES. Gente que vive na sua muito própria bolha, empenhada em guerras privadas, em construir a sua narrativa, em apontar um culpado. E o maior risco pode ser nós contentarmo-nos com esta ilusão de justiça, acreditando que, agora sim, "os poderosos estão a pagar", só porque estão debaixo dos holofotes. Com tanta luz e tanta exposição, corremos o risco de ficar ofuscados e não perceber que o sistema permanece intocável e pouco se fez (ou se fará?) para que 2016 não suceda a 2008.

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