Martinho
Júnior, Luanda (textos anteriores)
7
– A transladação de Cuba de colónia espanhola, para neocolónia dos Estados
Unidos da América ocorreu em 1898; no estado de neo colónia Cuba vegetou entre
1902 e 1958 e só não mais que isso, graças à Revolução.
A
propósito da situação de neo colónia, sintetizou o Comandante Fidel:
“Os
governos corrompidos e as intervenções yanquis que se sucederam nas primeiras
décadas da república neo colonizada, cumpriram a missão de entregar ao amo
estrangeiro as riquezas do país.
As
melhores terras agrícolas, as centrais mais importantes, as reservas minerais,
as indústrias básicas, os caminhos-de-ferro, os bancos, os serviços públicos e
o comércio exterior, passaram para o férreo controlo do capital monopolista dos
Estados Unidos.
O
povo rebelde e valoroso, que assombrou o mundo com suas façanhas patrióticas,
viu-se obrigado a seguir vivendo como um pária em sua própria terra”.
8
– Os governos de turno foram-se sucedendo, com o comprometimento a ser regulado
pelos representantes norte americanos, que chegaram a ser eles mesmos os
titulares de poder directo e estimularam divisões que conduzissem sempre a
impedir qualquer veleidade de rebeldia em prol de independência real e
soberania.
Com
Tomás Estrada Palma se deu início e cobriu esse processo de transição entre o
estatuto de protectorado ao de neo colónia, com seguidores como José Miguel
Gómez, Mário Garcia Menocal, Alfredo Zayas e Gerardo Machado, antes do golpe de
estado de Fulgêncio Batista.
Todos
eles foram pródigos em despotismo, corrupção e todo o tipo de humilhações, com
a prática de banho de sangue, sempre que eclodisse um foco rebelde.
A
5 de Setembro e 1933, assumiu o controlo do poder o Agrupamento Revolucionário
de Cuba, cujo único militar, em sua composição, era Fulgêncio Batista, “Sargento-Chefe
Revolucionário de todas as Forças Armadas da República”.
Com
a subida de Franklin D. Roosevelt ao poder nos Estados Unidos, o novo
Presidente norte-americano alentou a projecção de Fulgêncio Batista, levando a
cabo um novo tratado comercial e a derrogação da Emenda Platt, pelo que nos
dias 13 e 14 de janeiro de 1934, Fulgêncio Batista conseguiu com êxito realizar
o golpe que o colocou efectivamente no poder, por detrás de titulares da
Presidência suas marionetes.
Em
1940, com uma nova Constituição, Fulgêncio Batista assume a Presidência por um
período de 4 anos, em que adoptou leis progressistas que favoreceram os trabalhadores,
uma vez que beneficiou do apoio do Partido Comunista então chefiado por Júlio
António Mella, o que não desmotivou a relação privilegiada com os Estados
Unidos, que durante o período mantiveram a presença de suas corporações
privadas intocáveis.
Findo
esse período refugia-se nos Estados Unidos, residindo ou no Waldorf-Astoria de
Nova York, ou em Daytona
Beach , na Florida, divorciando-se da primeira esposa e
casando com uma segunda.
A
10 de Março de 1952, depois de regressar a Cuba, Fulgêncio Batista, com o apoio
dos militares, leva a cabo um golpe de estado depondo o então Presidente Carlos
Prio Socarrás e sendo imediatamente reconhecido pelos Estados Unidos.
Instaurou
uma ditadura, pondo de lado suas anteriores relações progressistas, não combateu
a corrupção, permitiu o aumento das desigualdades e encetou relações com
entidades da mafia norte americana, incrementando sua ligação ao tráfico de
drogas e controlando os casinos de jogo.
Segundo
John F. Kennedy “no começo de 1959 as companhias norte americanas eram
proprietárias de 40% das terras produtoras de açúcar, quase todos os ranchos
criadores de gado, 90% das minas e das concessões minerais do país,
praticamente toda a indústria do petróleo, 80% dos serviços, praticamente toda
a indústria e o suprimento de 2/3 das importações cubanas”.
O
Embaixador norte-americano em Havana era nessa altura o segundo homem mais
importante no país e a retórica da Guerra Fria, com a ideologia anti comunista
como bandeira, tornou-se no“leit motiv” das relações internacionais.
Fulgêncio
Batista assassinou 20.000 cubanos em sete anos e tornou a ilha num estado
policial.
9
– A 26 de julho de 1953 um grupo de revolucionários, chefiado pelo jovem Fidel
de Castro, atacou o Quartel Moncada em Santiago de Cuba, sendo neutralizado,
mas lançando o fermento da luta contra o fascismo, o imperialismo e o ditador
imposto a Cuba.
Fulgêncio
Batista não aprendeu de forma alguma a lição e nas eleições de 1954 ampliou as
medidas despóticas, acabando por ser reeleito, após eleições fraudulentas.
Revoltas
estudantis e de alguns grupos militares foram-se sucedendo, com as purgas
militares a enfraquecerem as forças armadas ao ponto de as tornarem bastante
fragilizadas na sua capacidade de manobra e táctica, quando eclodiu a
guerrilha.
A
impopularidade crescente levou a que o movimento guerrilheiro aumentasse
fortemente sua influência e mobilização popular quando se instalou na Sierra
Maestra, angariando cada vez apoios mais amplos, obrigando a que as
interferências de Fulgêncio Batista nas medidas de contra guerrilha, tornassem
ainda mais débil e confusa a resposta dos militares, enquanto se ia isolando a
sua posição sócio-política e fragilizando o seu poder.
Os
Estados Unidos começaram por lhe fornecer aviões de combate, tanques, navios e
até uma das últimas palavras de tecnologia de então como o napalm, mas em 1958,
constatando o isolamento crescente de Fulgêncio Batista e o beco sem saída de
que ele não mais poderia sair, deixou de vender armamento.
A
31 de dezembro de 1958 Batista abandonou o governo e Cuba, para não mais
voltar, numa altura em que o Movimento 26 de Julho se afirmava no leste da ilha
e progredia em direcção à capital.
A
8 de janeiro de 1959 o Comandante Fidel de Castro chegava à capital onde entrou
vitoriosamente.
Durante
todas essas décadas transcorridas entre as sombras, o povo cubano nunca perdeu
sua identidade cultural, sempre teve na memória suas raízes e sempre acalentou
a esperança na independência e soberania plenas, não duma forma isolada, mas
como parte integrante da Pátria Grande que constituía a América Latina.
Essa
chama imensa de dignidade histórica, soube-a elevar o Movimento 26 de Julho,
que da solidariedade e do internacionalismo haveria de fazer uma das suas
principais armas e bandeiras, ao ponto de estabelecer os nexos para com o
movimento de libertação em África!
Foto:
Cuba neo colónia yanqui de 1902
a 1958, do livro “La fruta, que no cayó”, sobre a
intervenção dos Estados Unidos em Cuba antes da Revolução, da autoria de Ángel
Jiménez González e René González Barrios.
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