sábado, 31 de janeiro de 2015

Angola: LEIS ANTI-PATRIÓTICAS E O RASTILHO DA REVOLTA



William Tonet - Folha 8 Digital (ao)

O país está a viver uma situação de alto risco. Dramática, não só deri­vada da crise internacional, face à queda brusca do preço do petró­leo, como também da de­sastrosa política e gestão económica, cujas raízes são bem antigas.

De facto, vem de longe a incapacidade de prever as oscilações do tempo e encontrar as melhores op­ções. O paliativo tem sido a varinha mágica alavan­cada pelo gabinete do TPE (Titular do Poder Executi­vo), sempre. Em algumas vezes a sorte e os ventos da história pendem a favor do regime e este embala no descaso.

Hoje o momento é de­licado, excessivamente delicado e intricado. As últimas medidas econó­micas, políticas e sociais têm sido tomadas contra os mais desfavorecidos, os empreendedores e a emergente classe média. Demolições e espoliações de habitações e terras dos indígenas, para as entregar aos poucos ricos do regi­me, leis discriminatórias contra os empreendedores angolanos, para beneficiar os sócios estrangeiros, en­tre outras.

A pólvora está nos trilhos, a revolta caminha silencio­sa no coração de milhões e, cada vez mais, se acre­dita num fósforo qualquer.

É descabida, maldosa e sem sentido de gestão eco­nómica a lei que põe fim aà importação de viaturas e peças, com mais de três anos, melhor é um claro acto de antipatriotismo co­lonial.

Os principais lesados fo­ram os professores, enfer­meiros e funcionários pú­blicos que sonhavam com a possibilidade de ter um carro, face às suas precá­rias posses, para enfrentar o desafio da compra de um carro novo, com os salários praticados. Para além disso, mais de 1000 vendedores/importadores directos, que garantiam 5000 postos de trabalho indirecto, com essa políti­ca anti-angolana, viram-se no desemprego. Insensível o regime, com os olhos em Talatona, não faz con­tas, pois se olharmos para a nossa realidade, que um chefe de família, no míni­mo controla, cerca de 10 pessoas, temos 6000x10 =60.000, angolanos afec­tados profissional e acade­micamente.

Mas quando se pensava po­der o regime refrear nesta sanha, eis que retomam as espoliações de populações inteiras da Ilha de Luanda, Chicala, Talatona, Cacua­co, Viana, tudo para satis­fazer a devoradora febre imobiliária dos familiares e amigos. Os espoliados e descamisados, como gado, são compulsivamente, transportados em camiões sujos de carga, piores que no tempo colonial, e des­pejados num campo de concentração habitacional destinado à “pretalhada”, o Zango é hoje muito seme­lhante ao campo nazista de Auschwitz, construído por Hitler, na Polónia, onde em câmaras de gás muitos fo­ram copiosamente assassi­nados.

E sempre na senda de “dis­tribuir melhor a pobreza, para reinar melhor”, o TPE, através da ministra do Co­mércio decretou o desem­prego de mais de 4500 comerciantes dos frescos, cuja empresa estivesse caboucada em câmaras fri­goríficas contentorizadas. Um contentor frigorifico pode custar entre USD 6000,00 à 12.000,00 e ga­rante a possibilidade de emprego directo entre 3-4 pessoas e outros tantos in­directos. Administrativa­mente retirar o pão a mais estas pessoas é irracional e atenta contra a dignidade e emprego dos angolanos.

A ministra com mais esta decisão anti-angolana, “matou”, deliberadamente, o sonho de mais estes mi­lhares de empreendedores angolanos para, mais uma vez, favorecer os sócios­-estrangeiros, que com o dinheiro roubado nos co­fres públicos, podem con­trolar e monopolizar tudo, logo afastando os autócto­nes contentorizados, para darem entrada aos ricos com câmaras frigoríficas.

O MPLA, ou alguém no seu interior, terá de se en­vergonhar e agigantar para alertar o líder sobre os ris­cos desta macabra política, que está a semear o ódio nos corações dos povos, que se sentem colonizados pelo regime, ou na pior das hipóteses abolirem a pala­vra “povo” do vocabulário, partidocrata por, neste ca­pítulo, estarem a fazer pior que o colono branco por­tuguês.

Um governo que ostensi­vamente maltrata e rouba aos pobres para satisfazer meia dúzia de ricos, não merece continuar no po­der, por mais armas e po­der judicial que tenha sob seu controlo.

Um regime que prende e assassina os cidadãos, coarctando-lhe as liberda­des, com leis protectoras aos ricos, filhos e familia­res que levam dois bancos importantes à falência: BESA e CAP, não pode continuar, impunemente, a beneficiar da condescen­dência colectiva.

Afastemos o medo do exército privado da UGP, de parte da Polícia Nacio­nal e das Forças Armadas Angolanas.

Por tudo isso aqui vai o meu desafio: unamo-nos e combatamos, com todos os meios legais, estas medidas ilegais e discriminatórias.

O momento exige que os intelectuais, os verdadei­ros nacionalistas, se unam, para uma séria e ponde­rada reflexão. Temos de reanimar as tertúlias, para discutir Angola e o seu rumo, deixando de lado os orgulhos, os egoísmos e individualismos, para não sermos cúmplices ama­nhã, não só do avançar dos incompetentemente mal­dosos, como do país para o abismo.

A nossa mãe está doente, façamos alguma coisa.

Esta é a hora de, em nome de Deus e também da ma­terialidade, reflector sobre o amanhã, porque a oposi­ção quer ser politicamente correcta, que significa po­liticamente domesticada.


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