A
estatística, feita a partir das queixas apresentadas na polícia, mostra que em
poucos dias houve mais agressões do que em todo o ano passado.
Desde
o ataque ao jornal satírico Charlie Hebdo foram registados em França
128 actos contra muçulmanos, quase tantos quantos os contabilizados em todo o
ano de 2014.
As
contas foram feitas pelo Observatório Nacional contra a Islamofobia, que
contabilizou as queixas apresentadas na polícia, e revelam que houve 33 acções
(contra mesquitas, por exemplo) e 95 ameaças (insultos e outras formas de
agressão).
Em
todo o ano passado, diz este organismo que pertence ao Conselho Francês
Muçulmano, foram registados 133 actos contra muçulmanos, o que por sua vez
constituíra uma redução de agressões de 43% — em 2013 tinham sido 226 actos.
“Estes
números, porém, não reflectem a realidade, uma vez que muitos muçulmanos não
apresentam queixa quando são vítimas de actos xenófobos, convencidos que estão
de que as suas queixas não terão consequência, o que é verdade em muitos
casos”, comenta o Observatório, sublinhando que os casos de “discriminação” não
fazem parte desta estatística.
Depois
dos ataques de 7 e 9 de Janeiro em Paris, realizados por jihadistas franceses
que disseram agir em nome do islão — mas cujos actos foram condenados pelas
organizações muçulmanas —, “os actos islamofóbicos aumentaram de uma forma
nunca vista, assim como o ódio em relação aos franceses de confissão
muçulmana”, disse o presidente do Observatório, Abdallah Zekri, no comunicado
da organização.
“Foi
a primeira vez que foram lançadas granadas e disparados tiros contra alvos
muçulmanos. Estas acções contra uma parte da comunidade nacional, provocadas por
pequenos nazis que passam o tempo a sujar os muros das nossas mesquitas com
slogans, lembram-nos um triste e condenável passado.”
Nacionalidade
retirada
Desde
os ataques de Paris que o Governo francês debate que política deve adoptar para
com aqueles que, depois de se radicalizarem e de terem estado em países como a
Síria, o Iraque e o Iémen — nos territórios controlados pelo Estado Islâmico e
pela Al-Qaeda —, regressam a França. Nesta sexta-feira, o Conselho
Constitucional, a mais alta instância jurídica francesa, confirmou a anulação
da nacionalidade de um jihadista franco-marroquino.
O
Governo socialista de François Hollande decidiu que retirar a nacionalidade
será uma medida a aplicar a pessoas a quem foi concedida nacionalidade francesa
e que se comprometeram com o jihadismo. “Em caso algum devemos privar-nos dos
meios que a lei nos dá para fazer valer os nossos valores e para dizermos que
não aceitamos que os que acolhemos no nosso solo possam atingir a França e
ameaçá-la”, disse o primeiro-ministro, Manuel Valls. Segundo o
primeiro-ministro, nos últimos três meses foram aplicadas 28 expulsões
administrativas de jihadistas com dupla nacionalidade.
Ahmed
Sahnouni, que nasceu em Casablanca em 1970, obteve a nacionalidade francesa em
2003. Foi detido por suspeita de “associação terrorista” e condenado em
julgamento, em Março de 2013, por “crime constituído por acto terrorista”. A
justiça considerou provado que organizara um sistema de recrutamento de
combatentes para o Iraque, Afeganistão e Somália. Em 2015 foi libertado. O seu
advogado contestou a anulação da nacionalidade argumentando que depois de uma
pessoa ser cidadão francês tem os mesmos direitos do que os outros e, por isso,
a nacionalidade não lhe podia ser retirada. “Há franceses que são mais franceses
do que outros?”, perguntou Nurettin Meseci. “Se o legislador pensa que a luta
contra o terrorismo passa pela anulação de nacionalidades está enganado”.
Está
em curso o processo de expulsão de Sahnouni para Marrocos.
Público
– Foto: Guillaume Souvant / AFP
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