domingo, 4 de janeiro de 2015

PASSAGEIROS CHINESES NA AIR ÁSIA



DAVID CHAN – Hoje Macau, opinião

No dia 15 de Dezembro de 2014, o site “wantchinatimes.com” publicou uma notícia sobre um voo da AirAsia que partiu de Bangkok com destino a Nanjing, na China, que foi forçado a voltar ao aeroporto de partida devido a um desacato criado por quatro passageiros chineses no avião.

O voo FD9101 descolou do aeroporto de Bangkok por volta das 17:30 no dia 11 de Dezembro deste ano. Mal entraram no avião, dois homens e duas mulheres pediram aos membros da tripulação para lhes arranjarem lugares juntos no avião. Com a cooperação dos outros passageiros, um dos casais sentou-se na primeira fila do avião, enquanto que o outro casal se sentou mais para a traseira.

Entretanto, Wang pediu um copo de água a uma hospedeira para que a sua mulher, Zhang, pudesse tomar um comprimido contra o enjoo. Este pedido foi porém recusado pois o aviso para manter os cintos de segurança apertados continuava ligado, o que obrigava todos os passageiros a se manter no seu lugar. Confrontado com esta situação, Wang ficou furioso e começou a atirar frutas e nozes para o chão do avião até ser parado pelos restantes passageiros.

As coisas não pararam aí. Enquanto que a tripulação de bordo ia distribuindo refeições, Zhang pediu água quente para preparar um pacote de massa instantânea que trazia consigo. Mas como o seu bilhete fazia parte de uma tarifa barata especial, a hospedeira pediu a Zhang 60 baht tailandeses pela água. Uma vez efectuado o pagamento, Wang pediu um recibo assim como que o troco lhe fosse devolvido em yuan, referindo ainda que “eu posso gastar dinheiro”. Nesse momento, Zhang atirou a tigela de água quente contra a hospedeira, reclamando que esta tinha demorado muito tempo a responder ao seu pedido. Devido à elevada temperatura do líquido, a mulher gritou com dores e necessitou de assistência médica de emergência. Nessa altura, o comandante pediu à passageira que pedisse desculpa à hospedeira, caso contrário o avião teria de voltar a Bangkok.

Aqui os nossos leitores podem imaginar o que se sucedeu de seguida. Zhang recusou pedir desculpa, levantou-se e começou a bater no vidro, exigindo sair do avião imediatamente. Quando os restantes passageiros tiveram de intervir para fazer com que Zhang se sentasse outra vez, esta afirmou não se estar a sentir bem. Um site noticioso fez uma reportagem sobre o caso, afirmando que “um vídeo tirado por um dos passageiros mostra um homem chamado Wang a gritar e a ameaçar explodir o avião. Os outros passageiros que embarcaram com Wang também fizeram diversas ameaças à tripulação.

O avião acabou então por regressar a Bangkok. A companhia AirAsia disse que a razão para voltar ao ponto de partida foi devida ao comportamento de Zhang que pôs em risco os passageiros e a tripulação do avião.

Quando a polícia e outros trabalhadores da companhia entraram no avião, permitiram que Zhang descansasse durante 20 minutos antes de proceder à remoção dos quatro indivíduos, enquanto que os restantes passageiros foram transferidos para um outro voo que partiu às 22:45 do mesmo dia.

A polícia tailandesa decidiu então passar uma multa aos dois casais e exigiu que Zhang oferecesse uma recompensação à hospedeira.

Quando este grupo regressou à China, descobriu-se que o líder da excursão havia desaparecido durante a viagem, não tendo sequer sido visto durante a visita à Tailândia. De facto, este pediu a Xu, um dos passageiros, que fingisse ser o guia de viagem durante a saída da China. Será que Xu exigiu uma recompensação financeira para fazer este serviço? Ou havia algum acordo secreto entre estas duas pessoas? A notícia divulgada não mencionou este detalhe mas a agência de viagens foi finalmente re-organizada por ordem das autoridades chinesas, tendo estas quatro pessoas entrado na lista negra quando tentaram regressar ao mesmo ramo de negócios.

O comportamento destes quatro indivíduos foi com certeza pouco civilizado. Independentemente de quem tem razão, Wang não pode ameaçar explodir uma bomba no avião. Desde os fatídicos ataques do dia 11 de Setembro que qualquer ameaça a uma companhia aérea é tomada com a maior seriedade da parte de governos e companhias aéreas assim como a sua tripulação e passageiros. Qualquer pessoa que ameace um avião com uma bomba pode esperar o mesmo resultado; i.e. despertar em todos os restantes passageiros a necessidade de lutar contra si. Já que este indivíduo bateu também nas janelas da aeronave, pode-se considerar que ameaçou a vida de todos os passageiros desse voo. Atirar uma tigela de água quente a um membro da cabine de bordo devia ser considerado um simples caso de agressão física, portanto é natural que Zhang tenha sido posteriormente processado.

Neste caso particular a hospedeira é a vítima que foi atacada com água quente. Actualmente, quando uma companhia aérea oferece treino aos seus trabalhadores, o procedimento normal para lidar com passageiros difíceis inclui lançar avisos como “se você continuar a não se comportar bem, terá de ser expulsa deste avião”.

No futuro, é melhor que as companhias aéreas desenvolvam novas estratégias para lidar com este tipo de passageiros e que as incluam no treino que fornecem aos seus empregados.

“Colocar este tipo de passageiros numa lista negra para futuras viagens” é provavelmente um dos melhores métodos para os controlar. E mudar o estatuto de uma pessoa de “não civilizada” para “civilizada” necessita de muito tempo. Assim sendo, proibir estes de viajar para o estrangeiro pode ser uma das melhores maneiras de os educar no futuro. Esperamos que este caso possa vir a acelerar a implementação dessas mudanças.

Este tipo de comportamento fora do normal faz-nos pensar naquela criança que foi observada a urinar nas ruas de Mongkok em Hong Kong que aconteceu em Abril de 2014. Este caso fomentou uma grande disputa entre os residentes do território vizinho e os da China. Em ambos os locais foram sugeridos muitas maneiras de prevenir casos semelhantes no futuro. O caso da AirAsia sugere a implementação de uma lista negra para os chineses que quebrem a lei no estrangeiro pode ser a melhor maneira de proteger a imagem dos chineses assim como para a resolução das disputas entre os residentes de Hong Kong e os da China continental. Este método é útil pois a lei pode estipular o mínimo comportamento aceitável pela população.

* Professor Associado do Instituto Politécnico de Macau

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