Encostado
à parede pelas circunstâncias, pela demora em reagir e pela teimosia da
Alemanha, Mário Draghi, Presidente do Banco Central Europeu (BCE) apresentou um
plano de compra de títulos de dívida, que não sendo totalmente novo, seria
impensável há uns meses atrás, pelo menos na sua envergadura e amplitude.
Trocado por miúdos, a banca recebeu torrentes de dinheiro da troika com o
objectivo que o mesmo fosse canalizado sobretudo nas empresas, ao invés, a
banca investiu o dinheiro na compra de títulos de dívida de outros países com
taxas de juro mais apelativos. Resultado: o dinheiro não chegou naturalmente à
economia real. Agora, o BCE propõe comprar esses títulos de dívida de volta a
banca para que a mesma banca se sinta aliviada e possa assim injectar dinheiro,
sob a forma de crédito, nas economias da zona euro. Mais um plano que beneficia
a banca.
Assim,
o BCE volta a injectar dinheiro na banca sem garantias de que esse mesmo
dinheiro chegue aos cidadãos e empresas.
Por
outro lado, o plano implica a troca de dinheiro por austeridade.
Apesar
do optimismo que por aí grassa, receio que neste cenário de deflação, sem
investimento, de que pouco adiantará a compra de obrigações. A questão do
investimento é central. Com austeridade, sem investimento e sem consumo não
haverá recuperação económica.
A
compra de activos públicos e privados no valor de 60 mil milhões de euros por
mês com o objectivo de combater a deflação que ameaça a Europa é sintomática do
estado a que a zona euro chegou. Esta é o último trunfo de Draghi e se não
resultar? Peça-se contas sobretudo à Alemanha e aos leais seguidores da senhora
Merkel, a começar pelo nosso ilustre primeiro-ministro.
Ana
Alexandra Gonçalves – Triunfo da Razão
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