Paula
Ferreira – Jornal de Notícias, opinião
A
morte de um idoso num serviço de urgência pode ser uma inevitabilidade, por
mais dolorosa que seja para a família. Aos profissionais de saúde falta o dom
divino de fazer milagres. Mas um idoso morrer na urgência sem ser visto por
ninguém habilitado para esse fim é uma indignidade. Uma indignidade extrema,
que merece reflexão e resposta célere.
Desde
o Natal, oito portugueses faleceram nos serviços de urgência e não eram todos
idosos. Um traço comum os une na fatalidade: falta de assistência. Ora, assistência
é precisamente o que as pessoas diligenciam nos hospitais. É tempo de as
administrações hospitalares agirem. Ou seja: escalar médicos e enfermeiros
suficientes para cobrir as necessidades. Perante estes casos, se afigura também
indigna a desculpa de que o Ministério da Saúde não autoriza a contratação de
pessoal e o aumento da despesa. A vida das pessoas está primeiro.
Às
administrações e aos médicos compete explicar os motivos por que não conseguem
atender os doentes no tempo admissível de espera. É um dever de ética
profissional e de cidadania. Que alguns cumprem. E nem sempre com resultados.
De nada valeu aos médicos do hospital de Santa Maria da Feira denunciar, desde
julho, as carências gritantes no serviço de urgência - um homem morreria, aí, após
cinco horas de espera.
Por
mais que os hospitais abram inquéritos a apurar responsabilidades, e o
Ministério da Saúde venha apontar o dedo à organização das escalas dos médicos,
há dados objetivos que explicam a anómala situação nas urgências. O Governo português,
de acordo com a OCDE, cortou o dobro no financiamento do Serviço Nacional de
Saúde do que era exigido no memorando de entendimento com a troika. E também
aqui não existem milagres. Sem meios, sem profissionais, é impossível atender
os doentes com dignidade. Os sem alternativa, esperam horas e horas a fio nas
urgências dos hospitais públicos. Os outros, nem lá vão. Têm seguro de saúde e
dirigem-se ao privado. Este país não é para doentes (velhos ou não)
desapossados do vil metal.
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