quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Queda do preço do crude é um problema para as contas timorenses - Banco Central




Díli, 16 jan (Lusa) - A queda no preço do petróleo é um problema crescente para a economia de Timor-Leste, fortemente dependente do setor petrolífero, e afeta diretamente as receitas do orçamento deste ano, disse hoje um responsável do Banco Central timorense.

"O Governo está preocupado porque dependemos muito do petróleo. E se baixa tanto o preço do petróleo, baixam as nossas receitas. O ativo vai baixar e o Governo tem que decidir como faz os seus gastos", adiantou à agência Lusa Gastão Sousa, diretor da Divisão de Estudos Económicos e Estatísticos do banco Central (BC) timorense.

Gastão Sousa recordou que o Governo, tradicionalmente, já faz orçamentos retificativos anuais, mas, no passado, essas retificações prendiam-se, em grande parte, com ajustes relacionados com a capacidade de execução do próprio orçamento.

Agora a revisão das contas terá, necessariamente, que ter em conta a significativa queda no preço do crude, explicou.

Nas contas para este ano, o Governo estima receitas petrolíferas totais de 2.275 milhões de dólares - que incluíam 900,7 milhões de dólares de juros do Fundo Petrolífero -, mas esse valor é calculado com base num preço por barril muito mais elevado do que o atual.

"As estimativas de receitas petrolíferas no Orçamento do Estado para 2015 assentam num preço de índice de referência petrolífero de 107,9 dólares por barril em 2014, comparativamente com 107,5 dólares por barril no Orçamento do Estado para 2014. Nos anos posteriores a 2014, prevê-se que o preço do petróleo seja ligeiramente inferior ao que tinha sido estimado anteriormente", refere o OE.

Para as suas contas, o Governo usa o indicador Brent, referente ao petróleo do Mar do Norte e considerado hoje o que reflete com mais precisão o preço real do barril do petróleo e que também é utilizado por Portugal.

E neste indicador a queda foi significativa, atingindo na primeira semana de janeiro o valor mais baixo desde 2009, inferior aos 50 dólares por barril, metade da estimativa orçamentada.

Na prática, isso poderia significar um impacto nas receitas de quase mil milhões de dólares, sendo que o orçamento total para este ano é de 1,57 mil milhões de dólares.

Isto ocorre numa altura em que a produção de líquidos (condensado e GPL) do Bayu-Undan já estava em queda - depois de atingir o pico em 2011 - baixando progressivamente até cessar em 2020.

Com a tendência atual do crude e queda na produção, Timor-Leste pode enfrentar um cenário de reduções significativas de receitas, o que terá um impacto determinante na economia nacional, situação a que se soma a dependência quase total no gasto público.

"Temos que reconhecer que a nossa economia depende muito do gasto do Estado. O Estado aumentou muito o orçamento a partir de 2008 e isso tem levado ao crescimento do PIB. Porque o gasto do Estado representa mais de 90% do PIB", explicou Gastão Sousa.

Aumentos no investimento externo e o crescente investimento doméstico timorense não são suficientes, em especial porque "quase metade do gasto do Estado" - ou seja quase metade do PIB nacional -, "sai para fora de Timor ou é depositado fora do país".

"Dependemos muito da importação. Se importamos temos que pagar. E transferimos e depositamos também fundos no estrangeiro. A nossa população faz depósitos nos bancos comerciais, que, por sua vez, não concedem muito crédito e depositam fora do país, na sua sede por exemplo", explicou, acrescentando que "a massa monetária aumenta muito, mas quase tudo vai para depósitos fora do país, devido ao problema do crédito, que está praticamente estagnado".

Os depósitos na banca em Timor-Leste rondam os 500 milhões de dólares para o volume total de crédito que "não é mais de 200 milhões de dólares", estando "praticamente estagnado", com um crescimento de menos de 10% nos últimos oito anos, explicou, garantindo que o Governo está a fazer tudo para estimular o investimento, com o desenvolvimento de infraestruturas e a melhoria das condições que estimulem o crédito.

Apesar destes problemas, Gastão Sousa mostrou-se otimista com o crescimento económico previsto para 2015, pois a previsão do aumento do PIB não-petrolífero é de 7%, e disse confiar "na capacidade do Governo e do setor privado".

ASP // ARA

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