'O
desafio do Podemos será conquistar pela via eleitoral o poder político para
fazer uma política de transformações. E isso implica em enormes dificuldades'
Emir
Sader – Carta Maior em Blog do Emir
Os
novos tempos a que se lança a Europa têm novas caras e novas formas de ação.
Felizmente, porque as antigas tinham se esgotado. Syriza e Alex Tsipras,
Podemos e Pablo Iglesias, são suas expressões mais conhecidas.
Pablo
Iglesias é um professor de ciência politica da Universidade Complutense de
Madri, apresentador de um programa de entrevistas por internet – que está na
pagina do jornal espanhol Publico – e animador de uma série de projetos muito
criativos, que revelam a amplidão dos seus interesses.
Além
de dirigir o Podemos, de dar centenas de entrevistas, de escrever outros tantos
artigos, Iglesias encontrou tempo para organizar e publicar dois livros
surpreendentes. Um, Lições de ciências sociais através do cinema, com o titulo
de “Quando os filmes votam”, com textos de vários autores sobre filmes e
correspondentes categorias politicas. Como, por exemplo, a violência, abordado
por ele mesmo, a partir do filme A batalha de Argel. O liberalismo, através de
Dogville. A revolução, através de Espartaco. A democracia, através de Star
Wars. A liderança, por meio de Lawrence da Arabia. O movimento operário,
através de Germinal. O posfordismo, por medio de American Beauty. O feminismo,
através de Mad Men. A alienação, através de Blade Runner, entre outros.
O
outro livro organizado por Pablo Iglesias está concentrado em torno da série A
guerra dos Tronos, sob o titulo Ganhar ou Morrer, com artigos sobre distintos
temas em torno da série, também na perspectiva de análise de categorias
políticas. Como, por exemplo, caos, legitimidade e poder, política e guerra,
guerra pelo poder, a subversão feminista, poder e subjetividade, corpo e
politica, entre outros.
Mas
as atividades de Pablo Iglesias se concentram cada vez mais em torno dos
desafios do Podemos, ainda mais em um ano decisivo na Espanha como este. Em um
livro recém publicado – Momentum, entrevistas feitas por Orencio Osuna, Editora
Icaria – ele concede uma entrevista onde expõe as formas como o Podemos está encarando
esses desafios. Define a si mesmo como “alguém que se considera marxista e que
tem a esquerda tatuada nas entranhas”.
Com
a palavra, Pablo Iglesias:
“O
desafio do Podemos será conquistar pela via eleitoral o poder político para
fazer uma política de transformações. Tudo isso coloca enormes dificuldades e
cenários muito complexos... Assim, pois necessitamos prudência, humildade e
seguir trabalhando, como diz o Cholo Simeone, jogo a jogo, evitando cometer
erros, como os do próprio Simeone, que as vezes podem te deixar no banco por
alguns jogos.
“Estamos
no momento da política. A política implica brindar inteligência a
circunstâncias e contextos que não escolhemos. Nós não escolhemos as etapas que
tem o curso da política. Elas são o que são e, a partir daí, é fundamental que
joguemos com o máximo de inteligência para não deixarmos de ser úteis, para
sermos um instrumento político para a transformação. Cometeríamos um erro se
antepuséssemos o interesse de Podemos como marca política de sucesso às
necessidades de transformação do nosso país. E nós sabemos muito bem que fazer
política é buscar os melhores cenários para o enfrentamento. Que fazer política
é provocar as contradições do adversário, e isso também nós temos que
aplicar a nós mesmos em um contexto que pode ser difícil e desfavorável para
nós. É aí onde teremos que demonstrar que estamos à altura politica das
circunstâncias, se acumulamos suficiente inteligência coletiva, se vamos sair
do nosso processo constituinte com uma equipe com capacidade para tomar
decisões políticas para as pesoas que sejam as acertadas e as adequadas para a
transformação política ou se, ao contrario, nossos adversários são capazes de
levar-nos a terrenos que não nos favorecem e que, portanto, detenham essa experiência
de transformação.”
“Mas
devo dizer que também existem setores na esquerda que têm que fazer uma enorme
autocrítica de suas posições de sua prática política. De fato, é inegável que o
próprio fenômeno Podemos é o resultado do fracasso da esquerda tradicional, que
foi incapaz de fazer um diagnóstico do que acontecia realmente no pais.”
“As
propostas políticas do Podemos, seguramente, poderiam ter sido assinadas por
qualquer partido social democrata há 30 ou 40 anos atrás. Propomos uma reforma
fiscal justa que faça com que as rendas mais altas paguem mais, propomos uma
auditoria e pagamento da dívida pública, propomos proteger os serviços
públicos, propomos combater a corrupção, propomos uma politica externa que
respeite os direitos humanos, em suma, o que estamos propondo teria sido aceito
pela social democracia reformista."
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