Baptista-Bastos*
A
orquestra sinfónica da habitual tolice da direita, quando o reduto sofre um
cerco, voltou a tocar desafinada.
O
piedoso ministro Pedro Mota Soares, criatura muito temente a Deus, veio às
televisões e, com aquela voz flébil que tanto comove os santos, disse que cerca
de 500 funcionários públicos vão para a rua. Mesmo nas vascas da mais atroz
agonia, o Governo não pára de atirar para a miséria e para infortúnio milhares
de famílias, com a obstinada cumplicidade do dr. Cavaco. No mesmo dia, vimos as
imagens de trabalhadores da Efacec em greve pelo aumento de salários e a
chegada, às instalações da empresa, de luxuosos carros de administradores,
causando a fúria dos protestatários.
Não ficou por aqui a loquacidade, sempre inestimável, do querido dr. Cavaco. Numa dessas sessões absurdas, a que vai por puro acesso de protagonismo, tomou partido, a despropósito, contra o Syriza. Entende-se. O Syriza, e quem o dirige, constituem a representação típica daquilo que o dr. Cavaco detesta, representa e defende. Estou em crer que o dr. Cavaco deve pedir ajuda ao dr. Mota Soares que interceda junto do Espírito Santo, para a desgraça do Syriza.
O dr. Passos Coelho também dera o seu contributo para anatemizar o partido grego e o projecto que lhe subjaz. A orquestra sinfónica da habitual tolice da direita, quando o reduto sofre um cerco, voltou a tocar desafinada. E a atrapalhada verborreia dos habituais comentadores televisivos e afins foi o complemento grotesco desses dias risíveis.
As coisas, no entanto, continuam no mesmo registo. O dr. Passos, lesto e expedito em cortar nas reformas, nas pensões e nos salários, em despedir milhares e milhares de pessoas, em recomendar o estrangeiro para quem não tem trabalho
Portugal, com esta gente, transformou-se numa mentira ruidosa, e os governantes, despudorados, nem sequer atendem às críticas mais ténues, impulsionados por um vento de insanidade que ultrapassa toda a benevolência. Não há quem nos defenda. A chamada grande Imprensa está nas mãos não se sabe de quem. Há dias, soube que um produtor de festas e romarias, genro do dr. Cavaco, pertence ao conselho de administração de um jornal que foi um importante matutino. Muita coisa fica explicada. Mas esta baderna não pode continuar. As instâncias sindicais nada fazem…
*Considerado
um dos maiores prosadores portugueses contemporâneos, Baptista-Bastos (Armando
Baptista-Bastos) nasceu em Lisboa, no Bairro da Ajuda (que tem centralizado em
vários romances e numerosas crónicas), em 27 de Fevereiro de 1934. Frequentou a
escola de Artes Decorativas ...
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